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Psicologia Social

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Por:   •  17/9/2014  •  5.332 Palavras (22 Páginas)  •  240 Visualizações

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP

CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEÓRICO-METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL II

2013

INTRODUÇÃO

Este trabalho traz uma reflexão sobre a questão da humilhação social, compreendida como manifestação perversa, a partir da consideração clínica detalhada de reuniões entre pais, professores e gestores educacionais, sob o ponto de vista psicanalítico. Aponta a importância de considerar os complexos modos como se articulam dimensões afetivo-emocionais individuais, conscientes e inconscientes com a dinâmica do viver coletivo.

Outro ponto que será analisado é a desigualdade social e, consequentemente, a invisibilidade social. Estes temas centrais na constituição da identidade do povo brasileiro serão analisados a partir de uma interlocução entre a Sociologia e a Psicologia desenvolvidas por Jessé Souza e Fernando Braga da Costa, respectivamente. Estes dois autores apontam em suas obras a desigualdade social como um fenômeno constituinte da sociedade brasileira. Para evitar o reducionismo, os autores buscam compreender a invisibilidade social a partir de uma investigação aprofundada do tema da desigualdade e para isso, dialogam com diversas perspectivas ao darem conta de temas eminentemente históricos.

HUMILHAÇÃO SOCIAL

Trata-se de um estudo de psicologia social. Esforça-se apenas para indicar um problema político – a humilhação social – que, para ser ainda hoje discutido e superado, não deveria dispensar as antigas companhias de Marx e de Freud. Encontramo-nos, assim, não perante uma alternativa: marxismo ou psicanálise.

No caso de marxismo ou psicanálise, supõe-se a concorrência entre dois regimes de investigação como se tivéssemos que nos decidir entre duas "visões de mundo" ou "cosmo visões". Foi sempre esta a convicção entre determinados marxistas, como também entre certos psicanalistas, toda vez que para uns e outros as obras de Marx ou de Freud deixavam de valer pela especificidade do fenômeno enfrentado – a formação do modo de produção capitalista, no caso de Marx; a formação da sexualidade humana, no caso de Freud – e passavam a contar como obras de ciência geral, como sistemas completos e fechados: para cada sistema o outro valendo como redutível à lógica absorvente do sistema eleito.

Para que as razões que nos levassem a adotar Marx se prestassem ao mesmo tempo para a exclusão de Freud, para que as razões que nos levassem a adotar Freud se prestassem ao mesmo tempo para a exclusão de Marx, seria necessário que a obra de um ou outro deixasse de contar como obra de pensamento e se impusesse como trabalho morto (para falar como marxista) ou como objeto fálico (para falar como psicanalista). Desnecessário insistir sobre este ponto: se estivéssemos diante de Marx ou Freud como perante uma alternativa excludente, perderíamos o sopro de ambos.

A disciplina Psicologia Social, caracteriza-se não pela consideração do indivíduo, pela focalização da subjetividade no home separado, mas pela exigência de encontrar o homem na cidade, homem no meio dos homens, a subjetividade como aparição singular, vertical, no campo intersubjetivo e horizontal das experiências. Não o homem separado, o indivíduo, mas sempre um homem: a subjetividade realizando-se intersubjetivamente, uma revelação – trata-se sempre do modo mais ou menos singular por que um homem aparece em companhia de outros. A pessoa sofre e habita a experiência comum: em alguma medida, sofrendo-a, vem afetá-la por traços originais, por qualidades surpreendentes que tornam irredutível a fisionomia de cada homem. Impossível tomar o rosto e a voz de um homem como expressões sob perfeito condicionamento. A humilhação crônica, longamente sofrida pelos pobres e seus ancestrais, é efeito da desigualdade política, indica a exclusão recorrente de uma classe inteira de homens para fora do âmbito intersubjetivo da iniciativa e da palavra. Mas é também de dentro que, no humilhado, a humilhação vem atacar. A humilhação vale como uma modalidade de angústia e, nesta medida, assume internamente – como um impulso mórbido – o corpo, o gesto, a imaginação e a voz do humilhado.

Esta situação ambígua da humilhação, fenômeno externo-interno, é o que nos faz encontrar tanto a Marx quanto a Freud, beneficiando-nos do fato essencial de que tanto Marx – atento às determinações econômicas – quanto Freud– atento às determinações pulsionais – afinal ensinaram-nos a encontrar o homem em situação inter-humana, o homem havendo-se com os outros homens mais do que com mecanismos. O mecanismico no homem, que em Marx vem com a mercantilização das relações sociais e em Freud com a formação das pressões inconscientes, o mecanísmico no homem não é um fato natural, mas histórico e intersubjetivo.

A humilhação social conhece, em seu mecanismo, determinações econômicas e inconscientes. Deveremos propô-la como uma modalidade de angústia disparada pelo enigma da desigualdade de classes. Como tal, trata-se de um fenômeno ao mesmo tempo psicológico e político. O humilhado atravessa uma situação de impedimento para sua humanidade, uma situação reconhecível nele mesmo – em seu corpo e gestos, em sua imaginação e em sua voz – e também reconhecível em seu mundo – em seu trabalho e em seu bairro.

O morador impedido

A visão dos bairros pobres parece, às vezes, ainda mais impiedosa do que a visão de ambientes arruinados: não são bairros que o tempo veio corroer ou as guerras vieram abalar, são bairros que mal puderam nascer para o tempo e para a história. Ocorre que ali o trabalho humano sobre a natureza e sobre a cidade parece interceptado.

Para a carpintaria, pode faltar madeira ou formão, um martelo, um alicate. A alvenaria é sempre adiada, interminável: a compra de tijolos, areia, massa e uma janela, às vezes consumiria o salário de mais de cinco meses e a maioria dos moradores pobres ainda não conhece, para isso, a solução dos mutirões. A cozinheira, quando não está simplesmente sem comida, ressente-se da falta de panelas ou condimentos. A educação das crianças ressente-se da falta de cadernos e livros. O bordado e o crochê ressentem-se da pouca linha, da falta de novelos e agulhas com gancho. As rodas do samba ou os forrós contentam-se às vezes com um só pandeiro

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