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T. W. ADORNO E A PSICOLOGIA SOCIAL

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Por:   •  14/10/2014  •  7.109 Palavras (29 Páginas)  •  452 Visualizações

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Psicologia & Sociedade; 20 (2): 287-296, 2008

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T. W. ADORNO E A PSICOLOGIA SOCIAL

José Leon Crochík Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil

RESUMO: Neste ensaio, ressalta-se a importância da disciplina Psicologia Social na obra de T. W. Adorno e a concepção que formula acerca dessa disciplina. Esse autor defende que há uma nova forma de configuração dos indivíduos, expressada por atitudes e comportamentos individuais padronizados e por um ego frágil, facilmente cooptado por movimentos sociais totalitários. Tais indivíduos surgem em uma sociedade caracterizada por uma forma de dominação calcada na racionalidade administrativa e tecnológica. Para esse autor, a Psicologia Social deveria estudar esse objeto para que, com o esclarecimento produzido e difundido, os indivíduos possam resistir à adesão cega a movimentos sociais irracionais, tal como o fascismo, insistindo que a determinação desses movimentos não é individual, mas social.

PALAVRAS-CHAVE: T. W. Adorno; Psicologia Social; fascismo.

T. W. ADORNO AND SOCIAL PSYCHOLOGY

ABSTRACT: In this assay, the importance of Social Psychology discipline in the T.W. Adorno’s work and the specific conception that he formulates about it are pointed out. He defends that there is a new way of individuals’ configuration, expressed by standardized attitudes and their own behaviors, such as a fragile ego, which is easily co- opted by totalitarian social movements. Such individuals appear in a society characterized by a form of domination based on administrative and technological rationality. For that author, Social Psychology would have to study this issue so that, with the enlightenment achieved and diffused, the individuals are able to resist to the blind adhesion in irrational social movements, such as the fascism. Adorno empathized that the determination of these movements is not individual, but social.

KEYWORDS: T. W. Adorno; Social Psychology; fascism.

Com a divisão de trabalho estabelecida entre as ci- ências, parece estranho que um pensador com sólida for- mação em filosofia, sociologia e estética, como é o caso de T. W. Adorno, tenha se interessado pela psicologia social e a defendido como uma disciplina sociológica. Talvez, o mais estranho ainda pareça a sua defesa da necessidade de estudos empíricos, com as técnicas de- senvolvidas pelos pesquisadores dos EUA, associados a essa disciplina, após as críticas contundentes feitas por ele, em conjunto com Horkheimer (Horkheimer & Ador- no, 1947/1985), sobretudo ao Positivismo, ao pensamento que se reduz à matemática, e à proibição da especulação e da imaginação. Nesse sentido, é notável, e infelizmente coerente, que os estudos empíricos que realizou, também conside- rados da área de psicologia social, sejam pouco citados pelos estudiosos de seu pensamento. Caberia, então, evi- denciar a defesa que faz dessa disciplina, a utilização de suas técnicas em seu trabalho e a delimitação de como é entendida por esse autor e, mais do que isso, caberia verificar se não é possível falar de uma psicologia social de T. W. Adorno.

Para um pensador que tem o materialismo históri- co como uma de suas bases, uma disciplina científica surge em condições históricas determinadas para o estu- do de um objeto que tem interesse social, assim, não é possível demonstrar a importância dessa disciplina em seu pensamento sem que esse objeto seja apresentado e discutido. Por isso, neste trabalho, ambos – a disciplina e o objeto - aparecerão remetendo-se um ao outro. A psicologia social indica a relação entre o indivíduo e a sociedade; deve ter a sua especificidade que não coin- cida nem com a psicologia, nem com a sociologia. Adorno entende essa relação de maneira a não restringir esse obje- to a uma mera ‘interação simétrica’ entre dois fenômenos. Primeiro, porque critica a sociologia pensada sem indiví- duos e a psicologia voltada unicamente ao seu objeto, por desconhecer que esse se desenvolve socialmente e que é a sociedade e a cultura que lhe permitem se constituir como indivíduo; segundo, porque essa relação é histórica e, as- sim, a possibilidade do indivíduo ser mais ou menos diferençado depende da configuração social e de sua ne- cessidade de reprodução (não é casual que o autor enfatize que a sociedade produz os homens que necessita para se

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Crochík, J. L. “T. W. Adorno e a Psicologia Social”

manter tal como é); terceiro, porque a sociedade não de- termina externamente a formação do indivíduo, mas de forma imanente; e por fim, porque na atualidade a socieda- de tem primazia acerca da determinação do comportamento individual (ver Adorno, 1955/2004). Não é a ênfase no indivíduo que distingue o objeto da psicologia social daquele estudado pela sociologia, da qual, segundo, Adorno (1968/1996), deveria ser parte, mas comportamentos irracionais manifestados em mas- sas, e massas entendidas nos múltiplos sentidos atribuí- dos por Freud (1921/1993): multidão, grupos, institui- ções. Não é a preocupação com as massas o que dife- rencia o objeto dessa disciplina do que é estudado pela psicologia, e, sim, tipos de comportamentos expressa- dos em sentimentos, pensamentos e tendências para a ação uniformes, padronizados. A defesa da psicologia social por Adorno diz respeito a um novo objeto surgido no fascismo desenvolvido no século passado. Trata-se de entender porque os indivíduos agem contra seus inte- resses racionais, numa sociedade com uma administra- ção calcada na racionalidade formal, sem com isso redu- zir um fenômeno social a determinantes psíquicos. A psicologia social, no entanto, é uma ciência par- celar, distinta das concepções filosóficas com as quais Adorno procura apreender os objetos que estuda. Como compreender o objeto pelo uso conjunto da filosofia so- cial e de uma ciência parcelar? Alguns elementos para responder essa questão podem ser encontrados em al- guns trabalhos de Adorno, entre os quais, os que envol- vem a relação entre filosofia e ciência. A preocupação com a relação entre a filosofia e a ciência está presente em seu texto de 1931, nomeado Atu- alidade da Filosofia (Adorno, 1931/1991). Nesse texto, utiliza a expressão ‘Fantasia Exata’ para se referir à relação entre ambas: o termo ‘exata’ corresponde aos dados obti- dos pela ciência; ‘fantasia’, à forma pela qual esses dados podem ser agrupados para obtenção de sentido:

Una fantasía

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