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ASPECTOS DO MOVIMENTO NEGRO

Por:   •  11/11/2019  •  Trabalho acadêmico  •  3.344 Palavras (14 Páginas)  •  121 Visualizações

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  1. ASPECTOS DE LUTAS DOS MOVIMENTOS NEGROS, CONFORME O LIVRO “VOZES QULLOMBOLAS” DE JÔNATAS CONCEIÇÃO DA SILVA

A celebração da assinatura da Princesa Isabel no dia 13 de maio é desrespeitosa com a luta dos movimentos negros e incompatível com os princípios constitucionais voltados para a equidade racial e o combate à discriminação, ao preconceito e ao racismo. A Princesa Isabel, assim, cumpriu o papel de formalizar a libertação de maneira insustentável no cenário nacional e internacional nesta época. Contudo, a abolição da escravatura foi realizada sem qualquer política de emprego e educação á população negra, o que resultou na estrutura desigual e perversa que historicamente pautou a nação brasileira.

A luta dos movimentos negros contra a discriminação racial no Brasil é um exemplo e inspiração para a juventude negra da atualidade. Ela não só populariza o dia 20 de novembro mas também consagra o Movimento Negro Unificado como o Dia Nacional da Consciência Negra. Pois, não era a primeira vez que eram presentes as personalidades afro-brasileiras do porte intelectual de Abdias do Nascimento e Lélia Gonzalez. Já eram vistos antes no dia 07 de julho de 1978.

A representação maior de resistência para quilombo não era cara apenas ao movimento negro e sim à Nação. A historiadora Beatriz Nascimento (1987) afirma que a historiografia especializada contenta-se marcar a capacidade de luta e resistência dos envolvidos nos quilombos e ampliá-la através dos tempos.

A partir daí o termo “quilombo” generaliza a representação de variadas manifestações de resistência dos quilombos e das comunidades remanescentes existentes no Brasil. Se para grande parte da historiografia especializada o quilombo representa o símbolo de luta e resistência do povo negro quilombola escravizado, no contexto brasileiro, nos anos 1970, no ápice da ditadura militar, que significado teria hoje para a negritude brasileira?

Este termo quilombo em referência ao general e líder negro quilombola hoje contrapõe a Lei Áurea sancionada pela Princesa Isabel e o dia 13 de maio. No século XX, os movimentos negros emergem para denunciar a exclusão e a discriminação da população negra, que ainda se vê obrigada a aprender nas escolas públicas e privadas que nossa liberdade se deu conta de uma princesa benevolente. A ideal inicial partiu do Grupo Palmares-RS do poeta Oliveira Silveira e rapidamente ganhou força nos diversos movimentos negros em todo o país.

Para amplos setores do movimento negro brasileiro, a história de resistência do movimento negro brasileiro, a história de resistência do quilombo e de suas lideranças representava exemplo a ser seguido e atualizado na história contemporânea brasileira. Vivíamos sob a mordaça da ideologia da democracia racial brasileira, cultivada por “setores e intelectuais atrasados, beneficiários e coniventes com o racismo no país” (Silva, J. Conceição da. Escravidão e Invenção da Liberdade – Estudos sobre o negro no Brasil, 1988, p.281). A resistência quilombola iria representar o rompimento dessa mordaça e a denúncia da “educação monumental” que, privilegiando apenas o ponto de vista histórico da classe dominante, ocultava fatos fundamentais da luta dos oprimidos por uma autêntica democracia racial. Resistir, em certo sentido, tornou-se, primeiro, tomar conhecimento, depois propagar este conhecimento. Era como se, a partir dos anos 1970, começássemos  a ter História, uma História que nos dignificasse.

Diante da negação ostensiva e secular do acesso à educação da população negra, motivos não faltaram para que muitas entidades negras, na pós-abolição, que tiveram como principal referência a luta do quilombo. Colocando como meta principal de trabalho a educação, deve-se exemplificar o Centro Cívico Palmares -SP, fundado em 1926, que fornecia líderes e ideias para a Frente Negra Brasileira na década de 30.

Já a Frente Negra Brasileira (1931-1937) surgiu em São Paulo, com o objetivo principal de preestabelecer  a luta antirracista que visava a ascensão social da população afro-brasileira, e para tanto as metas da organização seriam: estímulo para estudar, trabalhar, ter casa própria e progredir. São reveladores destes objetivos e metas da luta dos africanos e seus descendentes para ocupar espaços de poder, depoimentos de lideranças da época, como Aristides Barbosa, nascido em 1920. Filho de pais lavradores, ele foi mecânico e cozinheiro, formando-se depois em Letras e Sociologia, entrando na Frente Negra ainda muito jovem:

Na Frente Negra eu fiz o curso de admissão ao Ginásio, estudei música e inglês. Tudo isso ajudou nos meus objetivos de vida.

Depois dei aulas, tive o curso supletivo Lux.

Você vê: na década de 30 nós estávamos numa atmosfera de senzala. Lá na Bela Vista, por exemplo, se você chegasse à tarde, num dia de semana, encontrava os homens negros nos bares, desempregados, enquanto as mulheres trabalhavam. O negro não tinha essas preocupações de encontros culturais que veio a ter depois da Frente Negra (Depoimento de Aristides Barbosa, in: Barbosa M., Frente Negra Brasileira, 1998, p. 33).

  Outro ativista da Frente Negra foi Francisco Lucrécio, nascido em Campinas, em 1909. Filho de pai carpinteiro e mãe lavadeira, ele foi Funcionário Público e Cirurgião-Dentista. Francisco Lucrécio entrou na Frente Negra em 1931, logo depois da fundação da entidade, fez parte da diretoria. Além da educação, a questão dos referenciais históricos da luta negra brasileira perpassam os seus depoimentos:

Os negros eram pouco alfabetizados e tinham dificuldades até    para frequentar a escola. A Frente Negra incentiva porque possuía, dentro de sua sede, uma verdadeira escola.Tinha curso de alfabetização, mas não se dava esse nome. Era “Educação Moral e Cívica” (Depoimento de Francisco Lucrécio, in: Barbosa, M., OP. CIT., 1988, P. 42).

Francisco Lucrécio, em seu depoimento, reverencia importantes lutas para a conquista da liberdade e do poder, empreendidas pela população afro-brasileira, em vários momentos da história do Brasil:

Nós sempre nos afirmamos como brasileiros e assim nos posicionávamos, com o pensamento de que os nossos antepassados trabalharam no Brasil, se sacrificaram, lutaram desde Zumbi dos Palmares aos abolicionistas negros, então nós queríamos, nos afirmaríamos, sim, como brasileiros. Não queríamos perder nossa identidade de brasileiros. Seguimos, portanto, a linha dos nossos antepassados.

O referencial de luta para o negro no Brasil é a Guerra do Paraguai, Zumbi, a Revolta do João Cândido, a Revolta dos Malês, todos esses movimentos são a nossa referência, e a referência deles não era a da volta à África, era para assumir o poder no Brasil, assumir a liderança do negro no Brasil. Então, nós achávamos que teríamos de dar sequência a essas lutas.

(Depoimento de Francisco Lucrécio, in: Barbosa, M., op. Cit., 1998, p. 46).

Para essa discussão, é interessante observar que a Frente Negra Brasileira não se preocupa apenas com a educação, mas também com as referências significativas de luta do povo afro-brasileiro, especialmente a do Quilombo dos Palmares.

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