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Adeus trabalho

Por:   •  23/2/2017  •  Resenha  •  1.444 Palavras (6 Páginas)  •  238 Visualizações

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Em Adeus ao Trabalho, Antunes analisa criticamente as mudanças no mundo do trabalho através de uma viagem literária entre o fordismo, o toyotismo e o processo de acumulação flexível. Ressalta a evolução do fordismo (produção em série, controle de tempos e movimentos) para o modelo toyotista (produção em equipe, tecnológico), criticaa invasão da automação, da robótica e da microeletrônica no ambiente de trabalho eafirma: os modelos tradicionais fordistas / tayloristas deram lugar à especialização flexível,um novo jeito de ganhar produtividade traduzido em ferramentas contemporâneas domodelo japonês (kanban, jit, CCQ’s, controle de qualidade total, gestão participativa,terceirização, subcontratações). Na visão do autor, a intensificação da exploração e aaceleração do ritmo de trabalho são os pontos críticos desse modelo japonês, cujo trunfoestá na flexibilidade de produção, na multifuncionalidade do trabalhador e no trabalho emequipe. Cabe lembrar que a variação de atividades desenvolvidas por um trabalhador é um importante recurso ergonômico de prevenção a LER e DORT. Segundo Cacciamale e Britto (2002), a adoção de práticas de gestão da qualidade total nas empresas é assimilada pelos trabalhadores devido às altas taxas de

desemprego e informalidade na economia brasileira. Para Antunes, a redução do número de trabalhadores e a ampliação da carga horária de trabalho são implicações com forte impacto social. E mais, a adoção do toyotismo ameaça conquistas como o Welfare State, pois esse modelo está “muito mais sintonizado com a lógica neoliberal do que com uma concepção verdadeiramente socialdemocrata”. Lembra também que a introdução do toyotismo apóia-se numa correlação de forças desfavoráveis aos trabalhadores e rejeita a idéia de o modelo japonês garantir, simultaneamente, eficiência e eqüidade social, afirmando que promove um estranhamento no trabalho, além de extrair o saber e o fazer do trabalhador e provocar um estado de desidentidade na classe trabalhadora em relação aos produtos produzidos. Estará a “classe-que-vive-do-trabalho” desaparecendo? A retração do operariado tradicional, fabril, da era do fordismo, acarreta inevitavelmente a perda de referência do ser social que trabalha? Que repercussões as mudanças do mundo do trabalho estarão

provocando nos sindicatos? A categoria “trabalho” não é mais dotada do estatuto da centralidade no universo de práxis humana da sociedade contemporânea? Para o autor, a metamorfose no mundo do trabalho globalizado é facilitada pela introdução da automação, da microeletrônica, da robótica e do toyotismo. Há um favorecimento do trabalho abstrato, isto é, mais intelectualizado, enfraquecendo a massa trabalhadora menos qualificada com o impacto do desemprego estrutural globalizado, redução dos empregos tradicionais, expansão do setor de serviços, etc., tornando o ambiente de trabalho complexo, fragmentado e heterogeneizado. Para Cacciamale e Brito (2002), a flexibilização avança no Brasil: 68% das empresas utilizam alguma modalidade de flexibilidade, sendo a terceirização (56%) a modalidade mais praticada, principalmente pela indústria e pelo setor de serviços. O autor faz dura crítica à utilização da tecnologia unicamente para a acumulação de capital e à manipulação do ser humano pelo sistema produtivo, posiciona-se contra a flexibilização do trabalho, afirma que o mundo do trabalho vive o paradoxo entre o trabalhador qualificado e a grande massa de trabalhadores desqualificados, submetidos a condições de subemprego. Enfim, essas alterações ocorridas no ambiente de trabalho não configuram uma ameaça do fim da classe que vive do trabalho: trata-se de uma “processualidade contraditória e multiforme”. Para Antunes, a fragmentação, a heterogeneização e a complexificação da força de trabalho, assim como a neocorporização das instituições sindicais, ameaçam a

organização sindical tradicional (redução de taxas de sindicalização, redução do emprego tradicional, eliminação de classes profissionais), constituindo-se em grande desafio. E, sobretudo, é uma demonstração de que o capitalismo avançou sobre o ser social que trabalha. No cenário sindical atual predominam as propostas de troca dos direitos e benefícios pela manutenção do emprego e do subemprego. Segundo Cacciamale e Brito (2002), para 34% das empresas há cooperação dos sindicatos no que diz respeito à flexibilização nas formas de contratação e de remuneração. Antunes sugere a possibilidade de ocorrer uma revolução a partir do subproletariado (terceirizados, temporários, informais). No entanto, parece utópico acreditar que, após anos de pressão capitalista e uma cultura voltada para a acumulação, seja possível à classe subalterna reagir. No Brasil, há exemplos de movimentos que sinalizam uma iniciativa de mudança no cenário social, como o MST – Movimento dos

Sem Terra, ONG’s – Organizações Não-Governamentais, além do crescimento do associativismo e do cooperativismo como novas formas de organizações do trabalho, as quais cresceram e se fortaleceram na década de 90 no cenário econômico, social e ambiental. Para Antunes, o trabalho abstrato e o trabalho concreto traduzem a reflexão

contemporânea sobre a crise do trabalho, o primeiro sendo entendido como mais intelectualizado e o segundo com características artesanais. E, ainda, à luz do pensamento marxista, reflete: o trabalhador já não transforma objetos materiais diretamente, mas supervisiona o processo produtivo em máquinas computadorizadas, programa-as e repara os robôs em caso de necessidade. Se a crise é do trabalho abstrato, não há novidade nenhuma, pois ela se traduz na redução do trabalho vivo e na ampliação do trabalho morto, indicado por Marx como tendência do capitalismo; e, embora haja quem considere essa tendência como perda da centralidade do trabalho, para o autor, não é assim, numa sociedade de mercado, reafirmando não haver risco de fim da classe trabalhadora. No entanto, parece entrar em contradição quando afirma haver uma ampliação do trabalho morto (abstrato), isto é, mais intelectualizado, com foco na produção de valor de troca (labour). Ora, se há uma tendência de ampliação dessa modalidade, logo, pode-se deduzir que há, sim, um risco de colapso no sistema de

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