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O Entendimento Psicanalítico Da Fobia

Por:   •  28/2/2020  •  Artigo  •  1.638 Palavras (7 Páginas)  •  264 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

DEPARTAMENTO DE PSICANÁLISE E PSICOPATOLOGIA

DISCIPLINA DE PSICOPATOLOGIA II                2005/2

PROFª MARTA D’AGORD

O entendimento psicanalítico da fobia

Cláudia Sampaio Corrêa da Silva

        

A fobia começou a ser estudada pela psicanálise com Freud, a partir do célebre caso do pequeno Hans. O entendimento sobre esta psicopatologia foi sofrendo modificações ao longo de sua obra, sendo em Inibição, Sintoma e Angústia que Freud comunica a sua última hipótese sobre a fobia. Lacan vai ir além do que já havia sido proposto, colocando outros elementos e novos ângulos a partir dos quais se pensar a fobia. Até hoje se mantém a discussão sobre esse tema, com autores como Chemama, Melman e Lerude-Flechet, estando certas questões suscitadas pela fobia em aberto.

De acordo com o dicionário de psicanálise organizado por Chemama (1995), a fobia é caracterizada por um “ataque de pânico diante de um objeto, animal ou determinada organização do espaço, que funcionam como sinais de angústia”. Por que surgiria, então, a fobia? Qual o seu papel enquanto sintoma?

Em “Inibição, sintoma e angústia”, Freud coloca que o sintoma fóbico surge para diminuir a angústia de castração. O pequeno Hans tem o desejo de ficar com a mãe e de afastar o seu pai, mas pelo medo da castração ele recalca os impulsos hostis contra o pai, o que dá início à formação do sintoma. Por ter esses impulsos a criança teme que o pai vá castigá-la, ameaçá-la. O medo que Hans tinha do pai foi deslocado para o cavalo, por quem ele temia ser mordido. Assim, ele restringe a situação de angústia ao encontro com o cavalo (e com aquilo que se associa ao cavalo), que pode ser evitado, em contraste com o contato com o pai, do qual ele não poderia fugir. Além da fobia permitir que o sujeito contorne a castração e possa evitar o confronto com ela, é uma defesa porque na escolha de um objeto (cavalo) dá-se uma significação para a irrupção de angústia (afeto sem representação), transformando-a em medo, o que é mais bem tolerado pelo sujeito. 

Comentarei o posicionamento de Lacan sobre a fobia com base no texto “O gosto pelo quarto – Estudo clínico da fobia”, de Martine Lerude-Flechet, do livro “A fobia”, da Associação Freudiana Internacional (1992). Lacan aborda no Seminário “A relação de objeto” (1956-57) a questão da fobia, comentando o caso de Hans. Ele também relaciona à natureza da fobia o complexo de Édipo e a castração. Lacan tem uma teorização diversa da de Freud sobre estes temas, enfatizando a castração como um processo através do qual a criança pode se separar da mãe e entrar no registro simbólico, percebendo as leis que regem não apenas a ela, mas a todos que a cercam. Para que se dê a “passagem da relação imaginária com a mãe em torno do falo ao jogo da castração na relação com o pai”, é preciso que este seja uma figura forte. No caso da fobia há uma carência do pai, que é substituída pelo significante fóbico. Lacan fala sobre o significante fóbico, o cavalo para Hans, como um significante que comanda uma série de significações e regula as relações do sujeito com o mundo. Dessa forma, “o cavalo tem uma função de significante”, “é uma metáfora”, pois surge onde era esperado o pai real.

No caso de Hans, Lacan observa que há um fracasso na transmissão da castração de pai para filho, ou seja, o fracasso desta segunda identificação ao genitor do mesmo sexo que constitui o modelo, o ideal do sujeito. Neste ponto de sua demonstração, o objeto fóbico posto na função de significante testemunharia o apelo ao Nome do Pai e ao pai imaginário para remediar a crise. Dessa forma, Lacan coloca a questão por outro ângulo. Ao mesmo em tempo que a criança teme ser castrada pelo pai, ela teme que ele não seja forte o suficiente para interditar a sua relação com a mãe. Daí o medo que Hans tinha de que o cavalo caísse, ou seja, de que o seu pai desfalecesse, e não pudesse fazer a sua função de corte.

Posteriormente, Lacan, em 1963, no seminário “O Nome do Pai”, reabre a questão da fobia e contraria de certa forma o que havia dito. Ele coloca: “Não é verdade que o animal aparece como metáfora na fobia. A fobia é só um retorno”. Achei oportuno comunicar esta proposição apenas para mostrar que Lacan segue pensando sobre a fobia, e assim não se deve considerar que ele tenha dado uma opinião última sobre o assunto. Entretanto, não pretendo abordar os possíveis significados dessa sua colocação, já que ela é por si só enigmática e não é o foco deste trabalho.  

 Lerude-Flechet (1992) comenta alguns aspectos interessantes sobre a fobia. Um deles é a respeito do espaço do fóbico, que ela menciona ser estruturado, organizado por demarcações, que são como limites que representam os objetos ou situações que podem causar a manifestação da fobia. Segundo Freud, esses objetos têm por função agir como sinais de angústia e desencadear a fuga. A partir disso, podemos pensar por que a fobia muitas vezes se manifesta quando o sujeito se situa em um ambiente amplo demais, sem pontos de referência. Na impossibilidade de estabelecer demarcações que o assegurem e o protejam, ele é acometido pela angústia, angústia de não poder evitar a angústia.

A autora também faz colocações importantes em relação aos limites do corpo dos fóbicos. Na situação de angústia o corpo é submetido a manifestações somáticas, como falta de ar, taquicardia, sudorese, que lhe dão a sensação de morte iminente, de que corre o risco de súbito aniquilamento e de desaparecimento. Assim, o corpo é reduzido a um simples organismo, o que se daria em função de estar desprovido da imagem especular que organiza o narcisismo. Seria esta perda da dimensão do imaginário (que é o que dá sustentação ao corpo do sujeito) que estaria em jogo na angústia.

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