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Por:   •  26/7/2013  •  1.643 Palavras (7 Páginas)  •  841 Visualizações

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Arte, hoje, como tudo, é um produto. Arte vende, e circula na medida em que vende. Os artistas são grandes e suas obras são primas na proporção quase exata de seu sucesso comercial. Arte é, deste modo, para poucos. Os poucos que podem adquiri-la a seus preços exorbitantes. É o que os especialistas em arte e profissionais do belo dizem. O mercado de arte cresce, produz-se mais, vende-se mais para assim produzir-se ainda mais. O capital artístico cresce, apesar das teorias apocalípticas. De que adianta teorizar e escrever textos de reflexão em torno do fenômeno da arte hodierna, se estes textos não vendem e, assim, não circulam, não são lidos?

Há, juntamente com a arte, o kitch. Reproduções que trazem o eco de valores da elite de outrora (eterno desejo da pequena burguesia de ascender à aristocracia), a preços acessíveis à classe média, mas que são de fato coisas retrógradas e simplórias na perspectiva da estética de vanguarda – como a arquitetura colonial ou quadros “impressionistas”, por exemplo. Então, vem a avalancha de Taiwan, para as classes baixas. Isso é o mesmo para literatura, fonografia, cinematografia e demais reprodutíveis. O que não é “alta arte” – arte da elite econômica e intelectual – é melhor rotulado de “produto cultural” ou, nas camadas mais baixas, simplesmente de produto, bugiganga, bibelô e lembrancinha mesmo. Enfim, não importa a origem e o meio onde circula, tudo que vige e tem espaço na contemporaneidade é, seja o que for, um produto.

Produtos. Vivemos, desejamos, pensamos, adquirimos, doamos e nos desfazemos de produtos. Existimos em meio à farta produção de nossa civilização industrial que cada vez produz mais e mais barato nos soterrando com uma quantidade de produtos cada vez maior e sempre mais e mais acessível. Será vã nossa crítica à sociedade de consumo capitalista se enxergamos o homem apenas como um ser produtor e reprodutor. Isso porque nosso agir é muito mais do que um produzir, no sentido de gerar realizações. Nosso agir não se determina pela finalidade, pelo produto. Uma ação não se julga pelos seus resultados. Pensando um homo productor, não estamos longe do que hoje parecer ser a essência cultural do capitalismo: a paridade entre coisa e produto. Qualquer coisa é um produto. Produto cultural, produto alimentício, produto intelectual, produto interno bruto... Quanto mais produz, mais rica é uma sociedade.

Atualmente também se fala de produção de conhecimento. A pesquisa, em grande parte, está voltada para a descoberta de novas técnicas e materiais de produção. A indústria, nova quimera e Eldorado, – que gera a hiperprodução – é identificada com a fonte de riqueza (acúmulo de produtos) do homem e, desta feita, também de seu bem estar. O esforço é, hoje, quase que totalmente voltado para um aumento da produção, a que corresponde um aumento do consumo e, assim se pensa, faz surgir a justiça social. Contudo, não é preciso nem um olhar muito atento para perceber que o tiro está saindo pela culatra há uns duzentos anos. As desigualdades aumentam. Enquanto uns se comunicam via Internet, usam computadores que cabem no bolso de um paletó, viajam ao espaço, fazem clonagem de seres vivos e conversam com carros inteligentes, outros juntam lenha e acendem fogo com pederneira, isso quando têm o que cozinhar - porque é da sua penúria que se tira a abastança e a “evolução” dos demais - isso dentro do mesmo Brasil. Na Idade Média européia, por exemplo, a cozinha na casa de um camponês não era tão diferente da de seu senhor feudal, que como ele geralmente não sabia ler e dominava uma tecnologia muito semelhante. Aumentam as diferenças porque uma superação constante pressupõe um superado crescente.

Este texto não quer ser um produto. Em todo caso, isso de nada adianta, porque aqui fala uma idéia, uma posição. Nada disso pode escapar à transformação de tudo em produto, já que nem mesmo a arte escapou, ela, que não vige como produto. Há muitos produtos, hoje vendidos como arte, que não passam de bens de consumo, que nada consumam. Do mesmo modo, há muita arte hoje vendida como produto, como bem de consumo que, todavia, não se consome, mas consuma. A arte não pode virar um produto, e isso não é prescrição moral. Ela não é passível de consumo, só isso. Arte é cornucópia, uma refeição que nunca se esgota, o milagre da multiplicação dos pães. O Ramayana é tão atual quando Anish Kapoor. Não há uma evolução, uma superação, um desgaste, que são processos pelos quais se articula o consumo.

As ideologias dividiam as pessoas do mundo no empenho de suas ações. Recentemente, principalmente depois da queda do regime Socialista na extinta URSS e da abertura da economia chinesa, há, grosso modo, apenas uma “ideologia” dominante. Assim, ela já não é tanto uma ideologia, mas um contexto hegemônico. Vivemos no contexto hegemônico da técnica. Técnica é um modo de se fazer qualquer coisa, ou um modo pelo qual algo vem a ser. Tudo que se faz ou vem a ser, faz-se ou vem a ser de algum modo, e a isso chamamos técnica. Todos os povos desenvolveram uma técnica, mas apenas a técnica moderna, européia, tem traçada desde sua origem a hegemonia como destino. A técnica moderna surge quando o meio se torna um fim. Os meios técnicos atendem, hoje, primeiramente, à sua própria evolução e à ampliação de seus âmbitos de domínio. Isso porque a técnica moderna européia se instaura como tapume do “vazio” da ética deixado pela poética. A técnica hoje se confunde com a ética de uma tal maneira que vivemos hoje sob a ética da ultrapassagem em que,

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