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Gênero, Racismo e Esporte: Relações com a Copa do Mundo de Futebol Feminino da França 2019

Por:   •  23/8/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.556 Palavras (7 Páginas)  •  299 Visualizações

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Gênero, Racismo e Esporte: Relações com a Copa do Mundo de Futebol Feminino da França

Sara Duarte de Oliveira, 118245

O presente trabalho refere-se à disciplina de Sociologia do Esporte, que tem caráter optativo e é ofertada no quinto semestre no curso de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Sendo assim, a mesma promoveu em seu decorrer, discussões acerca de diferentes temáticas, entre elas: Gênero e Esporte, e Sociologia do Esporte e Questões Étnicas e Raciais, as quais serão utilizadas como pano de fundo para discorrer a escrita deste trabalho.

Vale ressaltar que será limitadamente analisadas questões acerca do futebol de mulheres, tais como generificação e preconceito étnico e racial, mais especificamente relacionado à Copa do Mundo Feminina de Futebol da França de 2019, devido a brevidade do trabalho.

É evidente que o futebol é um esporte praticado majoritariamente por homens. Quando passeamos no fim de semana e atentamos aos campinhos das comunidades, notamos isso. Essa questão é construída desde os primeiros passos da infância, que os meninos aprendem a chutar a bola quase concomitantemente a caminhar (LOURO, 2000).

Embora o volume de meninas/mulheres interessadas em jogar venha crescendo, essa prática é vista, culturalmente no Brasil, como um esporte masculino (SOUZA, 2011). Algo cultural, que assombra as mulheres jogadoras de futebol desde a Ditadura Militar, quando foram proibidas por lei (Decreto-Lei 3.199/4ª) de desempenharem práticas esportivas que não condiziam com sua “natureza maternal”, dentre as práticas estava o futebol (SALVINI, 2015).

Tendo isso em vista, embora nos dias atuais as mulheres, legalmente, possam praticar qualquer esporte livremente, ainda há resquícios de preconceito contra sua participação –nesse caso, no futebol- como um “acordo social implícito” que ainda polemiza e rotula a participação das mulheres no esporte.

Em contrapartida, é notável um movimento inicial de avanços em relação a visibilidade das mulheres no esporte em questão, tendo em vista a primeira transmissão da Copa do Mundo Feminina de Futebol, que está em sua oitava edição e seu país sede, dessa vez, é a França, no ano de 2019. O mundial teve início no dia 07 de junho e encerra no dia 07 de julho. O Brasil foi eliminado no dia 23 de junho, pelas anfitriãs.

Com a eliminação, Marta, a melhor jogadora do mundo eleita seis vezes, deu uma entrevista evidenciando a importância do incentivo citado no corpo desse texto, às meninas futebolistas. Ela relata o seguinte “Sem dúvida é um momento especial, e a gente tem que aproveitar. Eu digo isso no sentido de valorizar mais. Valorizem. A gente pede tanto. É lógico que emociona, o momento é muito emocionante. Eu queria estar sorrindo ou até chorando de alegria... O primordial é que a gente tem que chorar no começo para sorrir no fim. Quando digo isso, é querer mais, é treinar mais, é se cuidar mais, é estar pronta para jogar 90 e mais 30 minutos. É isso o que eu peço para as meninas... Não vai ter uma Formiga para sempre, não vai ter uma Marta para sempre, não vai ter uma Cristiane. O futebol feminino depende de você para sobreviver. Então pensem nisso, valorizem mais, chore no começo para sorrir no fim.”. A jogadora fez, nos dois últimos jogos, protestos relacionados a patrocínio e incentivo ao futebol feminino, utilizou chuteira preta sem logomarcas e defendeu a bandeira da igualdade de gêneros usando a chuteira preta com o logo rosa e azul da “Go Equal” – entidade que luta pela equidade de gênero.

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                                                                   Figura 1

Portanto, vale salientar o maior enfoque midiático nas competições masculinas de futebol, bem como, maior incentivo financeiro designado para os jogadores. Esses elementos são importantíssimos para a afirmação dos mesmos e, sem dúvidas, fator relevante para as oportunidades de profissionalização e crescimento profissional. Incentivos estes gritantemente menores quando se trata do futebol feminino, no qual teve/está tendo sua primeira Copa do Mundo transmitida no Brasil por dois dos grandes canais televisivos abertos apenas em 2019 e, em uma dessas emissoras, passando apenas os jogos da seleção brasileira, sem a cobertura completa, tudo isso sem falar sobre patrocínio e desigualdade salarial.

        Além disso, é importante ressaltar que não só questões de gênero pairam em torno do futebol de mulheres, mas também se manifestaram nesta Copa do Mundo, questões étnicas e raciais, especificamente sobre o jogo da eliminação do Brasil contra França. Durante o jogo, surgiram comentários preconceituosos e racistas por parte de brasileirxs em uma rede social, destinados a Wendie Renard, jogadora da França. Comentários como: “Olha essa Renard, da França. A mulher ganha milhões e não faz nem uma progressiva naquela bucha...”, “Alguém faz o favor de mandar essa Renard prender a p... desse cabelo, pelo amor de Deus...”. Fica evidente que, mesmo desempenhando uma ótima partida, o que sobressai não é o ótimo futebol da esportista ganhadora do terceiro melhor salário (no futebol feminino) do mundo, mas sim sua aparência ligada a feminilidade e a sua cor. Vários casos como esse circulam o mundo todos os dias em diferentes esportes. Comentários desse porte é algo inadmissível em pleno século XXI, no qual a grande maioria da população tem acesso à informação suficiente para mudar/melhorar cotidianamente sua visão e mente fechada acerca das coisas.

Refletindo mais profundamente, podemos ressaltar a dificuldade ampliada de acesso ao esporte dessa jogadora – e de tantas outras – que, além de lidar com o machismo sistemático, sexismo, desigualdade de gênero e de salário, ainda tem que suportar e vencer o racismo de todos os dias. É evidente a dificuldade de se tornar um atleta profissional, exige força, coragem, perseverança e sorte, mais do que qualidade. Isso, é uma realidade para os meninos que almejam a profissionalização, o ser jogador de futebol. No que tange as meninas, a dificuldade triplica, embora sigam o padrão estético estereotipado, as dificuldades de incentivo e oportunidade são monstruosamente inferiores às dadas aos meninos. Então, ser mulher, negra e almejar ser jogadora de futebol, torna tudo amplamente mais inacessível. No caso de Renard, em uma entrevista dada ao site Uol, ela relata “Eu era um pouco diferente das outras meninas, era meio moleque e obcecada por futebol. Eu corria para jogar na praia. Mesmo naquela época, sem entender o que me esperava, eu já sabia que precisava jogar duas vezes melhor e ser duas vezes mais esperta para ter respeito...”, portanto, desde pequena, já sentia a necessidade de “mostrar duas vezes mais trabalho” para ser reconhecida e respeitada, evidenciando a percepção da mesma do racismo e machismo desde a infância. A jogadora foi defendida por alguns internautas e postou um texto de motivação às meninas em determinada rede social e o traduziu para português para possibilitar que as meninas brasileiras também tivessem acesso.  

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