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ESTUDO NO NÍVEL DA PERSPECTIVA DE GÊNERO

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Por:   •  9/11/2014  •  Projeto de pesquisa  •  5.274 Palavras (22 Páginas)  •  502 Visualizações

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17o REDOR

14 a 17 de novembro – João Pessoa/Pb

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GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM: UM ESTUDO SOBRE O CURRÍCULO DA PERSPECTIVA DE GÊNERO1

SANTOS, Sheila Milena Pessoa dos1

CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de2

RESUMO

Considerando a importância da inserção da lente crítica dos estudos de gênero no processo formativo em Enfermagem, como forma de questionar e desestabilizar os argumentos ideológicos que garantem a divisão sexual do trabalho, as relações de saber que sustentam a hegemonia do tratamento curativo sobre o cuidado e as relações de poder que legitimam a hierarquia entre Enfermagem e Medicina, este estudo3 objetivou analisar o currículo do Curso de Graduação em Enfermagem na perspectiva de gênero. Pautou-se nos seguintes questionamentos: Como o currículo de Enfermagem contempla as questões de gênero? Sob quais perspectivas são representados os sujeitos no currículo? Quais saberes são valorizados e silenciados no currículo? Para responder a estas questões utilizei a abordagem qualitativa, utilizando como técnica a análise documental. As fontes de investigação consistiram no projeto pedagógico e planos curriculares de ensino de uma instituição de ensino superior pública. A análise foi desenvolvida a partir dos Estudos Culturais e de Gênero. Como resultado, afirmo que o conhecimento perpetrado pelo currículo representa, predominantemente, a reprodução acrítica do modelo hegemônico (biomédico) em saúde, o que contribui para legitimação e fixação do paradigma formativo androcêntrico. Para romper essa trajetória reprodutiva aponto a reformulação de conteúdos curriculares e a introdução de conceitos críticos do campo dos estudos de gênero para contestação e transformação dos estereótipos que dificultam a expansão da Enfermagem como atividade autônoma, crítica e valorizada.

PALAVRAS-CHAVE: Gênero. Educação. Currículo. Enfermagem.

1 Enfermeira, Mestre em Educação pela Universidade Federal da Paraíba, Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande.

2 Pedagoga, PhD em Currículo, Ensino e Política Educacional pela Michigan State University, USA, Pós-doutorado na Universidade de Valencia, Espanha, Docente do Curso de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba.

3 Este artigo é um recorte da dissertação de mestrado intitulada Graduação em Enfermagem: um olhar sobre o currículo na perspectiva de gênero, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba, 2011.

GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM: UM ESTUDO SOBRE O CURRÍCULO DA PERSPECTIVA DE GÊNERO

Historicamente as relações de trabalho estão organizadas de acordo com princípios de separação (atividades ditas masculinas e atividades ditas femininas) e de hierarquização (as primeiras são mais valorizadas do que as segundas). Estes princípios são mantidos e legitimados através da associação do sexo biológico ao desempenho de papéis sociais de gênero (KERGOAT, Danièle, 2010).

Às diferenças visíveis no plano biossexual são sobrepostas às construções sociais balizadas por princípios da razão androcêntrica. Maria Eulina Carvalho (1992) complementa e afirma que no mundo sexualmente hierarquizado as principais atividades remuneradas desempenhadas pelas mulheres no espaço público foram consolidadas a partir da definição cultural do papel feminino no âmbito privado. Essa divisão sexuada do trabalho marcou o lugar social e econômico de mulheres e homens de acordo com culturas e épocas ao longo da história.

Desse modo, o fazer sexuado é gendrado e carregado de valor simbólico. O fazer dito feminino caracteriza-se pela rotina, pelo que é dado como natural e desse modo desvalorizado. As tarefas ditas masculinas aproximam-se daquilo que é desafiador e extraordinário e, portanto, socialmente valorizado.

Nessa direção, a Enfermagem, embora tenha garantido o ingresso das mulheres na esfera pública mesmo antes da sua institucionalização no século XIX, mantém-se como profissão de mulheres, subordinada e desvalorizada em termos de remuneração e reconhecimento. Marta Júlia Lopes e Sandra Maria Leal (2005) lembram que apesar de representar o maior contingente de trabalhadoras/es no setor saúde, a prática do cuidado/Enfermagem permanece subjugada, subvalorizada e invisível quando comparada a prática do tratamento/Medicina. As razões dessas diferenças repousam na hierarquia social homem-mulher.

A despeito da integração da Enfermagem ao sistema universitário e o consequente ingresso dos homens na profissão em 1962 (LIMA, Maria José, 1993), na análise desenvolvida por Elisabete Teixeira et al (2006) constata-se ainda a predominância das mulheres ingressantes (84%) e concluintes (87%). Estes dados revelam a permanência de estereótipos na Enfermagem brasileira, organizada e estruturada pelo paradigma da Enfermagem moderna, os quais não se coadunam com os modelos de masculinidade da sociedade brasileira.

A predominância de mulheres no exercício da profissão é permeada por discursos que legitimam um ideário de atributos necessários para o cuidado (delicadeza, emoção, sensibilidade). Esses atributos aproximam-se das qualidades ditas ‘naturais’ do ser feminino.

Diante destas questões, a inserção das questões de gênero na formação em Enfermagem permite ampliar a compreensão e superação dos estereótipos de abnegação, subserviência e a acriticidade que têm marcado historicamente a profissão. Estes estereótipos mantidos, principalmente, através da predominância do enfoque biologicista em detrimento da dimensão histórica, social e cultural do processo de cuidado, e da incipiente ênfase em questões emblemáticas como o empoderamento feminino e da profissão, têm contribuído para manutenção da visão da Enfermagem como profissão de mulheres socialmente desvalorizada e subrepresentada em espaços de decisão e de poder.

A lente crítica de gênero permite ainda rever as relações de poder imbricadas na Enfermagem e se reveste de duplo sentido: primeiro, ao rever criticamente os processos pelos quais os estereótipos de submissão e obediência são reproduzidos e legitimados no interior da profissão eminentemente feminina; e, segundo, ao estimular a consciência crítica de gênero

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