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A IMPORTÂNCIA DA COMIDA NOS CULTOS AFRO-BRASILEIROS Uma análise a partir da festa de Olubajé

Por:   •  29/8/2016  •  Monografia  •  6.246 Palavras (25 Páginas)  •  660 Visualizações

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A IMPORTÂNCIA DA COMIDA NOS CULTOS AFRO-BRASILEIROS

Uma análise a partir da festa de Olubajé

Flávia Fernandes Fialho

Pós-graduanda em Gestão Gastronômica e Hoteleira

RESUMO

Este trabalho é um estudo sobre a importância da comida nos cultos afro-brasileiros, a partir da festa de Olubajé no Candomblé. Durante a pesquisa percebeu-se que a comida é elemento fundamental nos ritos do Candomblé, é uma maneira de alimentar ritualmente a comunidade, sendo um veículo do axé (força vital), de ligação direta com as divindades. Poucas culturas dão tanto valor à comida quanto as religiões de matrizes africanas, onde é acolhida como algo verdadeiramente, sagrado. Adentrar nesta cultura constitui uma autêntica possibilidade de aproximar-se da ancestralidade. Nesta perspectiva se deu o diálogo entre a comida, os cultos afro-brasileiros, o candomblé e, mais especificamente, com a festa de Olubajé, que é onde observaremos claramente como esta relação é rica, cheia de significados, partilha e doação. Este estudo teve como referência fundamental a entrevista com o Babalorixá Pai Sidney D’Oxóssi, no dia 04 de outubro de 2011, na Casa de Candomblé Ilê Wopo Olojukan.

Palavras - Chave: Comida. Cultos afro-brasileiros. Candomblé. Festa de Olubajé.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo tem como tema: “A importância da comida nos cultos afro-brasileiros, uma análise a partir da festa de Olubajé no Candomblé”. A comida sempre estabeleceu papel importante dentro da cultura, especialmente vinculada às tradições religiosas, apresentando-se como elemento fundamental na organização social e identificação do grupo. No caso em questão, a comida está profundamente relacionada às entidades religiosas, à identidade do culto, a socialização e devoção do grupo e, especialmente, à relação desta comunidade com a história e a cultura brasileira.

Nesta perspectiva, apresenta-se a seguinte problemática para reflexão: Qual a importância da comida nos cultos afro- brasileiros? Qual a importância da comida na Festa de Olubajé? Uma reflexão significativa sobre esta problemática exige uma bibliografia consistente que faça a relação entre cultura afro- brasileira e comida, identificando seu papel e importância nos cultos de Candomblé e, mais especificamente na “Festa de Olubajé”.

Tal reflexão quer desvelar os processos e possíveis significados da comida neste contexto específico tais como: os ritos envolvidos, o modo de fazer; a relação entre sagrado e profano e a relação com a identidade específica do grupo.

A história, especialmente no período da escravidão no Brasil, mostra a resistência social deste povo em salvaguardar sua cultura, sua fé, utilizando os meios disponíveis em meio a tanta escassez, na tentativa de fortalecer suas raízes. Atualmente, mesmo sendo o Brasil um país multirracial e plurireligioso, ainda há muito preconceito em relação às religiões de matrizes africanas.

Por questões históricas ou puro desconhecimento muitas pessoas acreditam que estes cultos são demoníacos, criando assim um imaginário errôneo a respeito. De acordo com o censo nacional realizado pelo IBGE 2000, existem 127.582 brasileiros que seguem os rituais do candomblé. Neste contexto, este projeto quer explicitar a importância do Candomblé para o conjunto da cultura brasileira, reforçando a liberdade religiosa e a diversidade cultural como valores fundamentais da convivência social.

Este artigo tem como objetivo geral apresentar elementos significativos na relação entre a comida, os cultos aos orixás dentro da Festa de Olubajé no Candomblé, e, como objetivos específicos, relacionar comida e religião, apresentar as principais características dos cultos afro-brasileiros, pesquisar sobre o Candomblé, entrevistar o Babalorixá, Pai Sidney D’Oxóssi da nação Ketu, responsável pelo Terreiro Ilê Wopo Olojukan.

A metodologia utilizada neste artigo é qualitativa, descritiva e bibliográfica, com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre a importância da comida nos cultos afro-brasileiros, analisando especificamente a Festa de Olubajé. Utilizou-se ainda entrevista com o Babalorixá, Pai Sidney D’Oxóssi, responsável pelo terreiro Ilê Wopo Olojukan, que possui livro de sua autoria sobre a significação da comida no Candomblé.

2 PRESSUPOSTOS E FUNDAMENTOS DA RELAÇÃO ENTRE COMIDA E RELIGIÃO

        A comida está na base da existência humana, constitui, fundamentalmente, a possibilidade da sobrevivência do ser. Comer é mais que nutrição corporal, o ser humano não se alimenta apenas para sobreviver. Através da comida, reforçam-se laços e nutrem-se relações simbólicas que constroem e organizam estruturas de sentidos e significados que vão orientar a vida, em todos os aspectos, pessoal e coletivamente. Neste sentido, “a comida é, antes de tudo, um dos mais importantes marcos de uma cultura, de uma civilização, de um momento histórico, de um momento social, de um momento econômico” (LODY, 2006, p.88).

Na história da alimentação, a comida vem sempre acompanhada de rituais, que estão, em geral, profundamente associados a valores presentes na vida do grupo. Ao estudar os hábitos alimentares da Mesopotâmia, onde se encontram as mais antigas receitas de cozinha conhecidas, que datam do segundo milênio antes de Cristo, os pesquisadores observam que “tais rituais apresentam-se em um cerimonial já muito elaborado e estão profundamente relacionados à reunião do grupo para celebrar sua solidariedade” (FLANDRIN; MONTANARI, 1998, p. 30).

A comida, portanto, não é boa somente para garantir a sobrevivência humana, mas é também para fazer pensar sobre os sentidos e significados que a fundamentam. Ou seja, através dela pode ser desvelado todo o modo de viver de determinado grupo humano. Neste sentido:

Enquanto os historiadores desenvolviam suas pesquisas quantitativas sobre a nutrição, etnógrafos e etnólogos estudavam as preferências alimentares, a significação simbólica dos alimentos, as proibições dietéticas e religiosas, os hábitos culinários, o comportamento à mesa e, de uma maneira geral, as relações que a alimentação mantém, em cada sociedade, com os mitos, a cultura e as estruturas sociais (FLANDRIN; MONTANARI, 1998, p.21).

A comida, portanto, representa um dos elementos fundamentais a partir do qual se pode entender a totalidade da vida de determinado povo e, especialmente, sua identidade, a partir da qual define sua singularidade no contexto da diversidade étnica e cultural.

É a partir destes pressupostos que se pode buscar entender possíveis relações entre a comida e a identidade da comunidade afro-brasileira, especificamente, no contexto religioso da festa de Olubajé no Candomblé.

3. A COMIDA NO CONTEXTO DO CULTO AOS ORIXÁS

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