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A IGNORÂNCIA DA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

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Por:   •  20/10/2013  •  2.177 Palavras (9 Páginas)  •  470 Visualizações

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Conhecimento é poder trata-se de um velho lema da filosofia burguesa moderna, que foi utilizado pelo movimento dos operários europeus do século 19. Antigamente conhecimento era visto como algo sagrado. Desde sempre homens se esforçaram para acumular e transmitir conhecimentos. Toda sociedade é definida, afinal de contas, pelo tipo de conhecimento de que dispõe. Isso vale tanto para o conhecimento natural quanto para o religioso ou para a reflexão teórico-social. Na modernidade o conhecimento é representado, por um lado, pelo saber oficial, marcado pelas ciências naturais, e, por outro, pela "inteligência livre-flutuante" (Karl Mannheim) da crítica social teórica. Desde o século 18 predominam essas formas de conhecimento.

Mais espantoso deve parecer que há alguns anos esteja se disseminando o discurso da "sociedade do conhecimento" que chega com o século 21; como se só agora tivessem descoberto o verdadeiro conhecimento e como se a sociedade até hoje não tivesse sido uma "sociedade do conhecimento". Pelo menos os paladinos da nova palavra-chave sugerem algo como um progresso intelectual, um novo significado, uma avaliação mais elevada e uma generalização do conhecimento na sociedade. Sobretudo se alega que a suposta aplicação econômica do conhecimento esteja assumindo uma forma completamente diferente.

Filosofia das mídias Bastante euforia é o que se apreende por exemplo do filósofo das mídias alemão Norbert Bolz: "Poder-se-ia falar de um big-bang do conhecimento. E a galáxia do conhecimento ocidental se expande na velocidade da luz. Aplica-se conhecimento sobre conhecimento e nisso se mostra a produtividade do trabalho intelectual. O verdadeiro feito intelectual do futuro está no design do conhecimento. E, quanto mais significativa for a maneira como a força produtiva se torne inteligência, mais deverão convergir ciência e cultura. O conhecimento é o último recurso do mundo ocidental". Palavras fortes. Mas o que se esconde por trás delas? Elucidativo é talvez o fato de que o conceito da "sociedade do conhecimento" esteja sendo usado mais ou menos como sinônimo do de "sociedade da informação". Vivemos numa sociedade do conhecimento porque somos soterrados por informações. Nunca antes houve tanta informação sendo transmitida por tantos meios ao mesmo tempo. Mas esse dilúvio de informações é de fato idêntico a conhecimento? Estamos informados sobre o caráter da informação? Conhecemos afinal que tipo de conhecimento é esse?

Na verdade o conceito de informação não é, de modo nenhum, abarcado por uma compreensão bem elaborada do conhecimento. O significado de "informação" é tomado num sentido muito mais amplo e refere-se também a procedimentos mecânicos. O som de uma buzina, a mensagem automática da próxima estação do metrô, a campainha de um despertador, o panorama do noticiário na TV, o alto-falante do supermercado, as oscilações da Bolsa, a previsão do tempo... tudo isso são informações, e poderíamos continuar a lista infinitamente.

Conhecimento trivial Claro que se trata de conhecimento, também, mas de um tipo muito trivial. É a espécie de conhecimento com a qual crescem os adolescentes de hoje. Já aqueles na faixa dos 40 anos estão tecnológica-comunicativamente armados até os dentes. Telas e displays são para esses quase partes do corpo e órgãos sensoriais. Eles sabem que informações têm que ser observadas para acessar a internet ou como filtrar tais informações da rede, por exemplo, como se faz o "download" de uma canção de sucesso. E um dos meios de comunicação prediletos dessa geração é por escrito, o do "Short Message Service" ou, na forma abreviada, o SMS que aparece no display do celular. O máximo de comunicação está limitado ali a 160 caracteres.

Já é estranho que o armamento tecnológico de ingenuidade juvenil seja elevado à condição de parte integrante de um ícone social e seja associado ao conceito de "conhecimento". Em termos de uma "força produtiva inteligência" e "feito intelectual do futuro", isso é um pouco decepcionante. Mais próximos da verdade estaremos talvez se compreendermos o que se entende por "inteligência" na sociedade do conhecimento ou da informação. Assim, numa típica nota da imprensa econômica publicada na primavera de 2001, lê-se: "A pedido da agência espacial canadense, a empresa Tactex desenvolveu em British Columbia tecidos inteligentes. Em tiras de tecido são costurados em série minúsculos sensores que reagem à pressão. Primeiramente, o tecido da Tactex deve ter seu desempenho testado como revestimento de bancos de automóveis. Ele reconhece quem se sentou no banco do motorista... O banco inteligente reconhece o traseiro de seu motorista".

Para um banco de automóvel, trata-se, seguramente, de um feito grandioso. Temos de reconhecer. Mas, ora, não pode ser considerado a sério um paradigma para o "feito intelectual do futuro". O problema reside no fato de que o conceito de inteligência da sociedade da informação -ou do conhecimento- está muito especificamente modelado pela chamada "inteligência artificial". Estamos falando de máquinas eletrônicas que por meio de processamento de dados têm capacidade de armazenamento cada vez mais alta, para simular atividades rotineiras do cérebro humano.

Objetos inteligentes Há muito que se fala na "casa inteligente", que regula sozinha a calefação e a ventilação, ou na "geladeira inteligente", que encomenda no supermercado o leite que acabou. Da literatura de terror, conhecemos o "elevador inteligente", que infelizmente se tornou maligno e atentou contra a vida de seus usuários. Novas criações são o "carrinho de compras inteligente", que chama a atenção do consumidor para as ofertas especiais, ou a "raquete inteligente", que com um sistema eletrônico embutido permite ao tenista um saque especial, muito mais potente.

Será esse o estágio final da evolução intelectual moderna? Uma macaqueação de nossas mais triviais ações cotidianas por máquinas, conquistando uma consagração intelectual superior? A maravilhosa sociedade do conhecimento aparece, ao que tudo indica, justamente por isso como sociedade da informação, porque se empenha em reduzir o mundo a um acúmulo de informações e processamentos de dados e em ampliar de modo permanente os campos de aplicação destes. Estão em jogo aí sobretudo duas categorias de "conhecimento": conhecimento de sinais e conhecimento funcional. O conhecimento funcional é reservado à elite tecnológica que constrói, edifica e mantém em funcionamento os sistemas daqueles materiais e máquinas "inteligentes".

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