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Fichamento

Por:   •  30/11/2015  •  Trabalho acadêmico  •  1.682 Palavras (7 Páginas)  •  239 Visualizações

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MONTEIRO,Silvana Drumond;CARELLI,Ana Esmeralda. Ciberespaço, memória e esquecimento.Salvador: VIII ENANCIB – Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação,2007.

A Ciência da Informação, campo interdisciplinar de conhecimento, responde aos problemas informacionais da sociedade, de sua origem voltada ao uso da informação nos diferentes contextos humanos (...) Desde sua concepção, os museus, as bibliotecas e os arquivos foram considerados como lugares da memória da humanidade, (...) ao preservar documentos, os lugares da memória guardam materialmente a memória de um povo, de uma cidade, de um país e, com isso, a Ciência da Informação desconsiderou um importante aspecto da memória: o esquecimento. (...) Os lugares da memória podem ser comparados à memória de longo alcance, graças à preservação de seus suportes materiais.(...) A preocupação com a preservação dos saberes cresceu com o advento e constante crescimento do Ciberespaço, um meio virtual de disponibilização de informações e conhecimentos caracterizado pelo seu caráter desterritorializado.(...) O Ciberespaço, devido as suas características intrínsecas, torna evidente o esquecimento, isso porque a preservação, nesse meio e neste momento, não é um fator essencial.(...) O Ciberespaço irrompe como novo meio de disponibilização de informações e conhecimentos e, portanto, um novo foco de trabalho da Ciência da Informação, trazendo à tona a outra face da memória: o esquecimento.(...) Categoria, em geral, é qualquer noção que sirva de regra para a investigação ou sua expressão lingüística em qualquer campo (ABBAGNANO, 2003).(...) Assim, a memória possui vários predicados, ou categorias, sob os quais ela pode ser analisada.(...) as categorias foram criadas a posteriori, isto é, após o reagrupamento dos léxicos (palavras-chave) em grupos semânticos semelhantes (classificação) que pudessem representar sua categoria mais abrangente, ou o termo mais geral, mas sem descaracterizar a sua compreensão. A partir disso, foram estabelecidas as categorias que compuseram o estudo: tipo de memória, representação, espaço (ou lugar), tempo e preservação.(...) Esse foi o eixo vertical utilizado como método para o desenvolvimento da investigação sobre a memória.(...) A memória também foi relacionada com as Tecnologias da Informação e Comunicação com recorte em suas temporalidades, formulando-se o eixo horizontal da pesquisa, com as memórias: oral escrita e digital.(...) As categorias são importantes ao conceito e estudo da memória na Ciência da Informação.(...) Vale ressaltar que o "esquecimento" embora não tenha sido selecionado como as demais categorias, ao iniciar as discussões, percebeu-se que o esquecimento é parte inerente da memória.(...) Seja qual for o esquema categórico para estudar a memória, neste trabalho abordamos o esquecimento como uma das categorias da memória no contexto da memória oral e das memórias técnicas, entendidas estas últimas como memória externalizada e mediada pelos registros do conhecimento.(...) As sociedades consideradas orais são aquelas que antecedem a invenção da escrita, nas quais todo o saber era transmitido oralmente aos indivíduos por meio de narrações, ritos e mitos.(...) A memória e a tradição eram inscritas e preservadas nas mentes dos integrantes do grupo e repassadas por gerações.(...) As palavras vinham acompanhadas de toda uma semiótica corporal que clarificava a compreensão da mensagem e reduzia a ambigüidade. Os anciãos, nessa época, eram considerados sábios guardiões da memória(...) quando um ancião morre, é uma biblioteca que se queima.(...) Esses homens-memória,(...) encarregavam-se de reter as genealogias e o saber técnico, bem como os mitos e ritos religiosos.(...) Nesse sentido, cabe notar que o esquecimento, nas sociedades orais, estava sempre presente, uma vez que tudo o que não fosse reiterado e repetido, constantemente, estaria condenado ao esquecimento. Para preservar a memória, ritos e mitos eram repetidos quase intocados, pelas rodas das Gerações.(...) Com o advento da escrita, os fatos poderiam ser registrados em suporte, não mais cabendo à memória humana a exclusiva função de reter e preservar informações.(...) o saber torna-se disponível, estocado, consultável, comparável, deixando de ser apenas aquilo que é útil no dia-a-dia para ser um objeto suscetível de análise e exame.(...)Percebe-se que essa tecnologia, a escrita, suscitou, à época, reflexões de suas implicações cognitivas. (...)Quais seriam as implicações para a memória biológica? Não sabemos ao certo, entretanto, o esquecimento é a categoria menos proeminente na memória escrita, ao contrário da memória digital, que é, em essência, fugaz. Com a escrita, percebe-se o deslocamento semântico e pragmático da memória, ou seja, a memória na sociedade oral significou reter, saber de cor determinados saberes.(...) Na Idade Média, a memorização se fez presente, mesmo com a escrita, por meio das mnemotécnicas e da retórica, até o momento em que se tornou a tecnologia dominante e o atrator cognitivo da sociedade.(...) Com a escrita e, sobretudo, com a imprensa, a quantidade de informações registradas aumentou consideravelmente, favorecendo a criação dos arquivos, bibliotecas e museus, as instituições-memória, como as denominou Le Goff (2003). A escrita externaliza a capacidade de memorização do cérebro humano; e, aparentemente, tudo é possível de ser lembrado, uma vez que seja registrado e preservado. Por outro lado, nem tudo que está registrado é lembrado, o que na análise do discurso é considerado como esquecimento.(...) Le Goff (2003) afirma que os silêncios e esquecimentos da história são instrumentos de dominação ou mesmo de manipulação das classes dominantes das sociedades históricas,(...) Percebe-se, então, que o esquecimento, nessa fase da memória, adquire características distintas. No entanto, parece haver, com o aparecimento da escrita, uma tendência em “separar” os fatos que devem ser registrados em suportes e ali permanecer por tempo indeterminado, conservando uma memória registrada pela escrita com durabilidade maior, mais objetiva, fiel, e, portanto, mais confiável e, por esse motivo, tão associada à memória de longo alcance ou ainda, à memória semântica, que consiste na memória do conhecimento.(...)Os avanços das tecnologias digitais prosseguem à grande velocidade e, atualmente, há uma utilização massiva dessas novas técnicas em um ambiente denominado “Ciberespaço”,(...) O arquivo digital tende a barrar a possibilidade de uma narrativa linear: sua lógica é descontínua; ela opera por saltos espaciais e temporais.(...) o Ciberespaço teria uma memória cultural digital se conseguisse criar o eixo do tempo: arquivo da Internet em tempo real com uma cópia dela para cada dia do ano e todos os anos em perpetuidade.(...) Toda essa memória desterritorializada, no Ciberespaço, não tem o “eixo do tempo”, isto é, instrumentos e dispositivos que estejam preservando essas informações e conhecimentos e consolidando uma memória de longo alcance.(...) Para se ter uma idéia, o Google, hoje, é uma das maiores plataformas de processamento de dados do mundo, entretanto, seu objetivo é a busca e não a preservação dessa memória.(...) Outro aspecto importante, que tem relação com a própria natureza do Ciberespaço, é a desterritorialização dos itens, pois cada vez que uma página da Web muda ou sai de linha a versão original se perde,(...) No caso da memória oral, como vimos, o que interessava era preservado por meio da constante transmissão oral de ritos e mitos pelas rodas das gerações. Dessa forma, era esquecido o que não era reiterado. Na memória escrita, por sua vez, o conhecimento julgado conveniente de ser preservado era (e é) registrado em suportes, preservando-se a memória. Na sociedade digital, sobretudo no Ciberespaço, o esquecimento é uma constante (como na memória biológica), pois nesse meio não há garantias de preservação. O esquecimento é inerente ao Ciberespaço, se levarmos em conta que a “retirada” de documentos antes disponíveis na rede, a Web invisível e a desterritorialização dos signos implicam em esquecimento.(...) O esquecimento é um procedimento comum e natural da memória. A mente esquece fatos irrelevantes para concentrar-se no armazenamento de dados considerados de maior importância.(...) O Ciberespaço possibilita a virtualização e a desterritorialização dos signos.(...) A atualização registrada da memória (leia-se “reificação”) tende a retirar a potencialidade da virtualidade, mas, por outro lado, garante a fixação (leia-se “preservação”) dessa memória no território. A memória digital está mais próxima à memória da oralidade que à escrita,(...) Além disso, a característica mais notável do Ciberespaço é, justamente, a virtualidade.(...) O ritmo de produção e disponibilização de dados e informações no Ciberespaço é extremamente acelerado e(...)a preservação não seja tão fundamental, já que novos conhecimentos estão disponíveis a cada dia.(...) A memória virtual no Ciberespaço, de uma maneira geral, estaria mais ligada ao pensamento,(...) e aos esquecimentos do que as possibilidades físicas de conservação da produção humana, como nos registros impressos.(...) Se a preservação como permanência do signo, fortemente ligada à memória escrita (de longo alcance), foi a principal categoria de apropriação ou mesmo de compreensão da memória em algumas áreas, percebe-se que há a necessidade de, neste momento de emergência das mídias digitais, buscar outras categorias que expliquem sua natureza, a fim de poder repensar as velhas práticas e, quem sabe, postular novas possibilidades paradigmáticas e pragmáticas para a memória.

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