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Petróleo A era pós-petróleo

Por:   •  5/1/2021  •  Monografia  •  2.318 Palavras (10 Páginas)  •  238 Visualizações

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A era pós-petróleo

O ativista da elite americana diz que já são visíveis os sinais de uma economia independente dos combustíveis fósseis

Professor da Wharton School, uma das mais renomadas escolas de administração dos Estados Unidos, Jeremy Rifkin, de 57 anos, ganhou fama como o ativista predileto da elite americana. Rifkin é uma espécie de consciência crítica dos poderosos a falar aos ouvidos de presidentes de grandes corporações e líderes políticos sobre os efeitos dos avanços científicos na sociedade, os limites da economia global e os ataques sofridos pela natureza. Em seu último livro, A Economia do Hidrogênio -- A Criação de uma Nova Fonte de Energia e a Redistribuição do Poder na Terra, Rifkin sustenta que, depois de séculos usando os combustíveis fósseis, a humanidade começa a dar os primeiros passos da era pós-petróleo. O autor de O Fim dos Empregos e de O Século da Biotecnologia é uma referência na área científica. Seus argumentos éticos contra a clonagem humana foram a base da proibição desse procedimento em diversos países. Casado, sem filhos, Rifkin falou a VEJA de Washington, onde mora há 32 anos e dirige a Fundação de Tendências Econômicas.

Veja – O senhor escreveu que estamos vivendo agora a encruzilhada decisiva do futuro do planeta. O que isso significa?
Rifkin –
 Há dois futuros possíveis. Um positivo, que contará com a exploração de fontes de energia renováveis e com um novo regime energético baseado no hidrogênio. O segundo cenário é bastante negativo. Poderemos ter o aumento da tensão geopolítica e dos conflitos, o crescimento da desigualdade entre pobres e ricos e o salto da dívida externa dos países do Terceiro Mundo. Sem falar no aquecimento da Terra provocado pela poluição, o que terá efeitos devastadores no clima. Esse embate final entre os dois pontos futuros se dará nos próximos trinta anos. Nesse período, a humanidade poderá enfrentar o maior desafio para sua sobrevivência. Todas essas possibilidades negativas têm relação direta com o petróleo.

Veja – Com o fim do petróleo?
Rifkin –
Hoje, toda a economia mundial está baseada no uso de combustíveis fósseis, ou seja, basicamente de petróleo, gás e carvão. Nossa comida é fruto disso. Os petroquímicos são usados em fertilizantes e pesticidas. As máquinas são movidas a diesel. A maioria dos meios de transporte é movida a subprodutos do petróleo. Em muitos países, a queima de gás e carvão é a maior fonte de eletricidade. Os combustíveis fósseis estão nos materiais de construção, nos produtos farmacêuticos e nas roupas. Nos próximos trinta anos, poderemos ter uma mudança histórica de grandes proporções. Os sinais do começo do fim da era dos combustíveis fósseis são claros. E já se vislumbram os primeiros sintomas do nascimento de outra era, baseada no uso do hidrogênio como forma básica de produzir energia.

Veja – Que sinais o senhor enxerga do fim da era do petróleo?
Rifkin –
Os custos são insustentáveis. Os Estados Unidos já gastam mais com os militares para garantir a produção de petróleo no Oriente Médio que com a importação do produto. Isso sem contar os preparativos da guerra contra o Iraque. Quando tivermos usado metade das reservas de petróleo que pode ser extraído de forma barata, o preço do barril aumentará de forma contínua. A maioria dos especialistas acredita que temos cerca de 35 anos antes que a produção mundial de petróleo chegue ao pico. Nos últimos dois anos, vários geólogos de renome colocaram essa estimativa em xeque. De acordo com eles, o pico poderia chegar entre 2010 e 2020. Não sei quem está certo ou errado. O que interessa é que o pico está perto. E mais: uma vez que tenhamos usado metade das reservas, cerca de 65% do petróleo restante estará no Oriente Médio. Se hoje essa região já é problemática, imagine daqui a três décadas. Imagine o custo de extrair e manter seguras as instalações nessas regiões.

Veja – A iminente guerra dos Estados Unidos contra o Iraque faz parte desse capítulo final da era do petróleo?
Rifkin – O presidente George W. Bush diz que talvez tenha de enviar tropas ao Iraque porque Saddam Hussein possui armas de destruição em massa. Acho que Bush é um homem honesto e acredito que essa seja mesmo a principal razão. Mas é claro que existem outros motivos. O Iraque tem a segunda maior reserva de petróleo do mundo. Bush e o vice-presidente americano Dick Cheney são homens da indústria petroleira. A invasão do Iraque será também uma maneira desesperada de obter mais petróleo.

Veja – O histórico da futurologia está cheio de previsões incorretas. O senhor não teme a possibilidade de estar errado?
Rifkin –
Não há dúvida de que me preocupo com essa possibilidade, mas acho que há evidências bastante plausíveis do que defendo. A PricewaterhouseCoopers, a empresa de consultoria internacional, prevê que o hidrogênio movimentará 1,7 trilhão de dólares em 2020. A indústria automobilística já gastou cerca de 2 bilhões de dólares em projetos de carros movidos a hidrogênio. Até 2002, o hidrogênio era apenas mais uma das tecnologias pesquisadas pelas grandes montadoras. Nos últimos meses, isso mudou. Todas as grandes montadoras estão numa corrida. Em setembro, a GM exibiu um carro a hidrogênio no Salão de Paris. Em vez de direção, tem um joystick. Não faz barulho nem polui. Imagine como a vida poderá mudar nas grandes cidades brasileiras. Imagine São Paulo e Rio de Janeiro sem nenhum barulho de automóvel ou caminhão. Apenas o ruído do pneu deslizando no asfalto. A produção em massa desses veículos está prevista para 2009. Em dezembro, a Toyota e a Honda venderam os primeiros carros nos Estados Unidos e no Japão. A Ford prevê que em 2020 todos os carros serão movidos a hidrogênio. Na verdade, não serão apenas veículos, mas usinas. Quando não estiverem em movimento, poderão ser usados para gerar eletricidade. Todas as usinas nos Estados Unidos poderiam ser desligadas se 25% dos carros no país gerassem energia enquanto estivessem parados.

Veja – Essas previsões não podem mudar?
Rifkin –
Neste ano, a General Electric começará a vender células de combustível em larga escala para residências, empresas e geradoras de energia. Nos Estados Unidos, cerca de trinta Estados já têm legislação que permite essa produção de energia e a venda do excedente. Nos últimos dois anos, vários países europeus adotaram leis semelhantes. Muitas empresas do Vale do Silício já compraram células para se precaver de possíveis apagões. Nos próximos três anos, veremos células substituindo baterias de celulares e computadores. Será possível usar o telefone por quarenta dias antes de recarregar o hidrogênio.

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