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A BOULEVARD DOS EXCLUÍDOS DO “MUNDO PERFEITO”

Por:   •  30/11/2020  •  Tese  •  2.043 Palavras (9 Páginas)  •  84 Visualizações

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BOULEVARD DOS EXCLUÍDOS DO “MUNDO PERFEITO”

No ambiente de aprendizado e formação de profissionais da saúde, é preconizado que sua atuação deve considerar fatores biológicos, sociais, psicológicos e espirituais (SADOCK, 2007, p. 15-16)[1]. O reconhecimento de tais aspectos se faz presente em documentos oficiais da Organização Mundial de Saúde (OMS), que é aceito como modelo em salas de aula de inúmeras instituições de ensino superior, seja em cursos de medicina, psicologia, serviço social ou mesmo em disciplinas especificas nos cursos de pedagogia e educação física.

O público atendido por profissionais desta área, possuem uma característica em comum a todo e qualquer grupo étnico, racial ou de movimento LGBTTI, e que se encontram nos estudos de alguns sociólogos e antropólogos: a diversidade identitária. Na tentativa de acolher as necessidades dos principais grupos “minoritários” surge, nos anos 30, as Organizações Não Governamentais (ONG) que visam “fazer uma parte que, em tese, é de responsabilidade do Estado, ou então complementá-lo quando ele não consegue atingir esse nível, buscando fazer o possível, muitas vezes, para pessoas excluídas da sociedade, e pessoas que não tem voz. ” (CARDOSO, 2014, p. 7-8)[2].

Ao desenvolver suas atividades e ampliar as necessidades jurídico-organizacionais, as ONG’s passam a não ser as únicas com este perfil. As OSCIP’s – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público - são instituições certificadas pelo poder público federal e que se afirmam por meio de eventuais financiamentos de seus projetos; haja visto que este tipo de organização obedece a alguns princípios propostos pelo Estado ou setores privados (CARDOSO, 2014, p. 10-11) [3].

A Associação de Apoio às Pessoas Vivendo com HIV em Uberaba (AAPVHIV) – Saiba Viver, é uma OSCIP que atua no município de Uberaba/MG e região, com finalidade de atender pessoas que vivem com HIV/AIDS ou em situação de risco para sua contaminação. Dentre seus diversos projetos, o de nome “Profissionais do Sexo Seguro” se propõem a atender profissionais do sexo e transeuntes, que se encontram nas “noites” em busca dos serviços destes profissionais. As abordagens se baseiam na orientação acerca dos riscos relacionados à contaminação do vírus HIV ou outras IST’s, o uso abusivo de psicoativos e o risco à violência na vida noturna. Estas ações são realizadas por voluntários e/ou prestadores de serviço das mais variadas áreas de formação, como: psicologia, serviço social, docência, direito, jornalismo e enfermagem, por exemplo.

Inicialmente as atividades propostas se pautavam na distribuição de preservativos, panfletos, acolhimento breve com direcionamento para outros serviços ou simples “sanar de dúvidas”. Porém, com o envolvimento entre equipe e população acolhida, as atividades se intensificaram e tornaram referencial para todos aqueles que faziam do espaço da avenida para “ganhar a vida”, “curtir o final de semana” ou “fazer um corre” (como muitos dependentes químicos se referem a prática de conseguir dinheiro para aquisição da droga de sua predileção). As atividades ocorriam neste espaço urbano pois, toda tentativa fora dela não obtinha sucesso ou número satisfatório de público. Quando perguntados, os profissionais diziam que a exposição feita “durante o dia” ou em outro local, previamente identificado com fachadas ou placas, não era positiva para eles. Pensando nisso, todas as ações ocorriam no período em que as profissionais do sexo estavam presentes nestes locais, possibilitando a realização de testagem rápida para IST’s/AIDS e demais ações.

Metodologia

O objeto de estudo, as atividades da Associação, se basearam na prática do acolhimento e orientação, norteada por estudo de conceitos e práticas básicas do SUS, SUAS e estudos realizados em saúde pública. Na elaboração deste relato, foi considerado os dados obtidos por meio do envolvimento e participação do pesquisador com as temáticas e pessoas envolvidas (pesquisa participante). Para a fundamentação e análise dos dados, considerou-se o uso de revisão bibliográfica e observação in locu (GERHARDT; SILVEIRA, 2009)[4].

Resultados

Para este relato de experiência consideraremos o período de janeiro a dezembro de 2016, em que o projeto foi executado. Durante esta ocasião foram feitas intervenções in locu, semanalmente às sextas feiras, no período noturno, em avenida de grande fluxo e conhecida pelos inúmeros “pontos de prostituição” no município. Durante as atividades, foram acolhidas cerca de 200 profissionais do sexo e 350 transeuntes, sendo este último grupo formado por: dependentes químicos, jovens com idade de 16 a 25 anos, trabalhadores sazonais (geralmente, provenientes de outras regiões do Brasil) e motoristas profissionais (caminhoneiros).

Sobre o perfil destes indivíduos, pôde-se identificar que: 70% dos profissionais do sexo são travestis ou transexuais e apenas 30% mulheres; 9 entre 10 dependentes químicos que frequentavam aquela região já haviam tido relações sexuais em troca de dinheiro para compra de drogas e 40% dos homens que buscam os serviços das profissionais do sexo são motoristas profissionais em trânsito para realização de fretamento entre cidades. Estes dados possibilitam compreender que o perfil dos indivíduos direta ou indiretamente atendidos pelo projeto era diversificado e com expectativas distintas.

Foi possível realizar, em média, 250 intervenções breves que possibilitaram a conscientização dos atendidos sobre as infecções sexualmente transmissíveis, uso de drogas e violência. Estas práticas possuíam características muito similares a proposta, conceituada por Paulo Freire, de Educador Social que se entende como “educadores comprometidos com a causa da ‘mudança’” (GADOTTI, 2015, p. 23)[5]. Na prática, estas mudanças se baseavam na tomada de consciência dos atendidos sobre os riscos da relação sexual sem preservativo, do uso de drogas, dos riscos de violência e a necessidade de se buscar apoio em instituições, como a AAPVHIV, em casos de vulnerabilidade social. Em relação à essas diretrizes, as ações sempre se pautavam em compreender a realidade de cada indivíduo que, por vezes, nos solicitava ou apresentava necessidade de acolhimento psicossocial ou atendimento especifico.

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