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A Sociedades de Controle e Subjetividade do Trabalhador

Por:   •  28/6/2021  •  Artigo  •  8.265 Palavras (34 Páginas)  •  121 Visualizações

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SOCIEDADES DISCIPLINARES, DE CONTROLE E O DOMÍNIO DA SUBJETIVIDADE DOS TRABALHADORES

Vinícius Roberto Simões Nazato

RESUMO

Inspirado nas ideias de Michel Foucault e Gilles Deleuze; especialmente em suas exposições de modelos da sociedade e a questão subjetiva do trabalho, além das ideias de autores como José H. de Faria e Francis K. Menenghetti sobre a produção e sequestro da subjetividade, este artigo pretende analisar quais os impactos e os possíveis mecanismos psicossociais utilizados pelas Empresas, que se encontram em posições estratégicas de poder, para o aumento da produtividade do trabalhador. A pesquisa, é de natureza mista e é fundamentada em entrevistas e questionários distribuídos para funcionários das Empresas alvo.  Este artigo se propõe a confirmar e explicitar o citado pelos autores, onde almeja-se a diminuição das tensões do trabalhador e o conflito gerado no mesmo para com a Empresa, transformando seu pensamento interno para que o interesses do funcionário entrem em conjunção com os ideais da Companhia.

Palavras Chave: Sociedades de Controle; Sociedades Disciplinares; Sequestro da Subjetividade; Psicossociologia

INTRODUÇÃO

Foucault teoriza as sociedades disciplinares como aquelas que procederam as sociedades de soberania, datando sua existência entre os séculos XVIII e XIX. Elas ditam uma sociedade focada nos grandes confinamentos, onde o indivíduo transita por diferentes espaços fechados, cada um com sua regência interna, ora família, ora escola, ora trabalho, ora fábrica, ora prisão; todos núcleos bem determinados com seu começo, meio e fim pré-definidos e indiferentes as práticas do indivíduo. O espaço da disciplina, bem recortado na visão de fábrica, denota ambiente fixo, máquinas estacionárias, gerência vigilante, jornada de trabalho fixa, funções e cargos bem ditados e específicos, um núcleo completo (Deleuze, 1990).

Segundo Deleuze (1990), entretanto, após a segunda guerra, novas forças se instalavam lentamente na sociedade e as disciplinas já deixavam de ser predominantes, as novas liberdades inseridas nos meios disciplinares passaram a rivalizar com os mais duros confinamentos, os núcleos deixavam de ser fixos, sólidos e passavam cada vez mais por processos de “gaseificação”. Tratam-se das Sociedades de Controle substituindo as Sociedades Disciplinares. Os controles, podem ser vistos como uma modulação constante, em contraste aos confinamentos, vistos como um molde, eles retiram as barreiras físicas descontínuas antes vistas nas disciplinas e passam a ser intermináveis, como o tempo em si. Nas sociedades de controle, a Empresa toma o papel da Fábrica, se tornando uma alma na nova sociedade, ela se esforça para modular cada salário com diversos tipos de artifícios num estado de eterna metaestabilidade: bônus por hora extra; recompensas por proatividade; criação de culturas organizacionais que internalizam os valores da companhia; métodos de gestão horizontal, o trabalhador passa a estar conectado a empresa em todos os núcleos de sua vida (núcleos estes que também perdem suas barreiras) sempre em busca de, além de maiores salários, uma maior autorrealização.

Seguindo as diretrizes dos Controles, a Empresa, vista não como bem, mas como entidade, passa a se inserir no interior do indivíduo e a promover técnicas que empregam sutis métodos de domínio e controle da psique. Subjetividade do trabalhador passa a ser manipulada com o objetivo último de gerar lucros e aumentar a produtividade, independente o custo que isso signifique para os entes envolvidos (Horst, Soboll & Cicmanec, 2013).

Segundo Gaulejac (2007), a Empresa busca produzir a nução dos trabalhadores e a suas criações psíquicas internas, com o objetivo de adquirir “uma implicação subjetiva e afetiva”, que deve ser refletida na mesma, a fim de canalizar sua energia libidinal e converte-los em força de trabalho. Desta maneira, a Empresa se mostra como um ente ao qual é possível se identificar e satisfazer, utilizando das necessidades internas do indivíduo de autorrealização para gerar a adesão e incitar por completo as capacidades psíquicas do indivíduo.

        Tendo em vista esses instrumentos inquestionáveis e indiscutíveis, a Empresa promove a construção da subjetividade na psique do indivíduo, induzindo hábitos e modelando comportamentos e atitudes que, em sua superfície, aparentam promover ilusoriamente o indivíduo, mas a perscruta promovem efetivamente o sucesso da companhia, acima de qualquer interesse conflitante antes posto pelo trabalhador (Gaulejac, 2007).

Diante do exposto, este trabalho possui como objetivo principal demonstrar as relações das Sociedades de Controle com os processos de produção de subjetividade presente em diferentes companhias atuantes na atualidade. Além, busca especificamente e primeiramente, demonstrar possíveis práticas em uma micro realidade de duas distintas companhias, sendo a primeira uma empresa de seguros, com um modelo de gestão mais tradicional, e a segunda uma empresa de TI, com processos administrativos tidos como mais modernos, de como os processos de gaseificação dos núcleos sociais e dos métodos gerenciais perversos são determinantes para produção da subjetividade para o trabalhador. Segundamente, busca levantar a percepção sobre os processos citados, ressaltando-os de modo a criar uma consciência a respeito de suas influências, não só nos âmbitos de trabalho, mas nos diferentes núcleos da vida do indivíduo.

Adiante, serão abordados na revisão teórica os temas que dão norte ao trabalho, Sociedades Disciplinadoras, Sociedades de Controle e as Técnicas de Controle da Subjetividade do Trabalhador. Logo após serão explanados os aspectos metodológicos da pesquisa, para em seguida serem trazidos os resultados encontrados, bem como as análises destes. Ao final, apresentaremos as considerações sobre o trabalho.

REVISÃO TEÓRICA

I – Os Tipos de Sociedade

As Sociedades Disciplinares de Foucault

Foucault (1975) data o início das Sociedades Disciplinadores em meados do Século XVIII e o Século XIX permeando lentamente as Sociedades de Soberania. As mudanças percebidas, de um tipo de dominação a outro, se dão principalmente na realização que o método de ‘vigiar’, era mais eficaz e rentável do que método de ‘punir’.

Nessa perspectiva, a presença de mecanismos disciplinares é anterior ao período definido por Foucault como início destas sociedades, no entanto, estes se apresentavam de forma fragmentada e isolada. Coube então as Sociedades Disciplinares organiza-las nos grandes meios de confinamento, tendo por objetivo concentrar e compor, tanto no espaço, quanto no tempo, formas de produção cujo retorno deveria ser maior que a soma das partes. A partir do conceito do Panoptismo, o arquétipo de observação das sociedades disciplinares manifestou-se no interior dos prédios das instituições, que passaram a ser idealizados de forma a permitir o controle interno.

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