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Por:   •  11/5/2016  •  Trabalho acadêmico  •  2.159 Palavras (9 Páginas)  •  261 Visualizações

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A crise do paradigma dominante

 

Boaventura sustenta que a crise do paradigma dominante da ciência é profunda e irreversível, sendo resultado de uma pluralidade de condições, teóricas e sociais.  

O autor indica a contribuição de Einstein na revolução científica com sua teoria da relatividade para a constituição do que denominou ‘o primeiro rombo no paradigma da ciência moderna’ por romper com o círculo vicioso da simultaneidade dos acontecimentos e admitir a arbitrariedade no tempo e espaço.  

O segundo passo para a crise do paradigma se deu pela demonstração, proposta por Heisenberg e Bohr, de que é impossível observar ou medir um objeto sem interferir nele. As implicações do princípio da incerteza e a admissão da interferência no objeto levaram ao entendimento de que só podemos aspirar resultados aproximados, prováveis, pois não há determinismo mecanicista e muito menos uma totalidade do real.

O terceiro momento de crise do paradigma contemporâneo se deu com o teorema da incompletude e os teoremas sobre a impossibilidade de encontrar dentro de um dado sistema formal a prova da sua consistência. Inclusive a própria medição da matemática mostrou-se inacabada.

A quarta condição da crise do paradigma moderno foi constituída pelos avanços do conhecimento nos domínios da microfísica, da química e da biologia, passando-se a se admitir que as mudanças ocorrem por fenômenos microscópicos que acabam por mudar o todo. É a partir desta reflexão sobre as condições da crise do paradigma moderno de ciência que Boaventura questiona o conceito de lei e o de causalidade (diz respeito a finalidade).

 

 

 

 

O paradigma emergente

 

O paradigma de um conhecimento prudente para uma vida decente é a proposta de Boaventura. O paradigma científico é o modelo de racionalidade desenvolvido precipuamente entre as ciências naturais, com fundamento em regras metodológicas e princípios epistemológicos previamente definidos. Estes princípios definem o caráter racional de uma forma de conhecimento. A confiança quase absoluta é sua característica mais marcante na capacidade de previsão da ciência, resultando convicção de que a previsão de todos os fenômenos está ao seu alcance. A matemática, com as suas ideias claras e objetivas constitui-se assim não só como o principal instrumento deste paradigma científico, mas também como o seu próprio suporte lógico.

Com a decadência do paradigma dominante - de cunho newtoniano-cartesiano - surge à tona um número de especulações sobre um eventual paradigma emergente, que surgiria como crítica a esta perspectiva extremamente rígida, para a qual quantificar seria sinônimo de conhecer. Nesse contexto, o autor propõe um modelo de paradigma emergente ("um conhecimento prudente para uma vida decente") que gira em torno de quatro teses fundamentais: 1) todo conhecimento científico-natural é científico-social; 2) todo conhecimento é local e total; 3) todo conhecimento é autoconhecimento; 4) todo conhecimento científico visa constituir-se em senso comum.

1) todo conhecimento científico-natural é científico-social: No entendimento do autor, o dualismo entre as ciências naturais e ciências sociais, tão frisado no paradigma anterior, está ultrapassado. Essa nova postura é reafirmada pelos progressos da física e da biologia contemporâneas, que rejeitam a ideia de um abismo entre as ciências. Outrossim, antagonicamente ao que sucedia na ciência moderna, neste modelo proposto de paradigma os fenômenos da natureza são explanados por noções, teses, sinais e expressões das ciências sociais, num esforço de aproximação entre as duas áreas.

2) todo conhecimento é local e total: A convicção da ciência moderna é a de que a excelência de uma pesquisa está diretamente ligada com a singularização do conhecimento: quando mais esmiuçada a matéria, mais integralmente ela seria estudada. Não obstante, esta singularização é isolante, tornando o cientista um apedeuta quando fora da sua área de especialização. Dessarte, no paradigma emergente, o conhecimento possui caráter total e, consequentemente, local, pois é benéfico para os integrantes de determinada coletividade. Em resumo, o conhecimento sob a luz do paradigma emergente é total pois abandona a ótica determinista, e é local pois deixou de valorizar a pesquisa rigidamente minuciosa. A proposta do autor é uma pesquisa pautada em uma ótica multidisciplinar, isto é, a matéria a ser pesquisada deve ser investigada sob diferentes perspectivas teórico-metodológicas.

3) todo conhecimento é autoconhecimento: Esta tese em particular propõe a suplantação de um posicionamento antigo da ciência moderna, muito comum no campo das ciências naturais - mas também presente no plano dos estudos sociai -, que ditavam a separação entre sujeito e objeto. O paradigma emergente reconhece a capacidade intervenção do sujeito no objeto, deixando de enxergar essa relação como prejudicial para os resultados. Para o autor, a verdadeira neutralidade - o estudo isento de convicções religiosas, políticas ou morais - é inviável, pois "o objeto é a continuação do sujeito por outros meios", nas palavras de Clausewitz.

Mesmo com o sucesso da aplicação tecnológica de sua patente, este paradigma parece estar sendo posto em causa hoje. A crise teve início com a Teoria da Relatividade de Einsten e a mecânica quântica, não sendo ainda possível ter certeza se haverá seu desfecho.

Os sinais conhecidos nos permitem apenas especular acerca do paradigma que emergirá deste período revolucionário, mas que, desde já, se pode afirmar com segurança que colapsarão as distinções básicas em que assenta o paradigma dominante. O colapso do paradigma dominante resulta de um conjunto de novos conhecimentos científicos, que se podem destacar quatro descobertas fundamentais: a Relatividade da Simultaneidade de Einstein, o Princípio da Incerteza de Heisenberg, o Teorema da Incompletude de Gödel e a nova abordagem da complexidade em sistemas dinâmicos.

A crise do paradigma dominante está destruindo, progressivamente, as fronteiras disciplinares em que, arbitrariamente, a Ciência tinha dividido a realidade. A ciência determinista está a ser substituída por uma ciência probabilística.

A caracterização do paradigma emergente pode ser antecipada especulando sobre o que se pode depreender da crise do paradigma dominante. Visto que a fragmentação do conhecimento na pós-modernidade parece ser temática e não disciplinar, ou seja, todo o conhecimento é local e total. Isto leva a que, na praxis interveniente, seja recomendável pensar globalmente para agir localmente. Em contrapartida, a composição transdisciplinar e individualizada sugere um movimento no sentido da maior personalização do trabalho científico, ou seja, a dimensão subjetiva, tão arduamente combatida pelo paradigma dominante, ganha agora uma nova importância fundamental. Todo conhecimento é autoconhecimento.

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