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Resenha De A Sociedade Contra O Estado (cap.1e2)

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Por:   •  9/12/2014  •  2.065 Palavras (9 Páginas)  •  1.517 Visualizações

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Texto: CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado. Investigação de Antropologia Política. Editora: Afrontamento/Porto 1979

Pierre Clastres, nasceu em Paris no dia 7 de maio de 1934 , foi um importante antropólogo e etnógrafo francês da segunda metade do século XX. Clastres é conhecido sobretudo por seus trabalhos de antropologia política, e por sua pesquisa sobre os índios Guayaki do Paraguai.

Filósofo de formação se interessou pela antropologia e especificamente pela América do Sul sob a influência de Claude Lévi-Strauss e de Alfred Métraux. Foi diretor de pesquisa no Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS, Paris) e membro do Laboratoire d´Anthropologie Sociale do Collège de France. Realizou pesquisas de campo na América do Sul entre os índios Guayaki, Guarani e Yanomami. Publicou Crônica dos índios Guayaki (1972), A sociedade contra o Estado (1974), e A fala sagrada - mitos e cantos sagrados dos índios Guarani (1974).

Sua morte prematura, em um acidente de carro em 29 de julho de 1977 interrompeu a conclusão de textos que mais tarde seriam reunidos no livro Arqueologia da violência - ensaios de antropologia política (1980).

Em seu livro, A sociedade contra o Estado, no capítulo 1, cujo título é Copérnico e os Selvagens, o Clastres discorre sobre a problemática do poder, sobretudo de um modo espontâneo imanente a nossa cultura e, portanto fortemente tradicional, de apreender as relações políticas tais como se ligam em outras culturas, para tal, conta com a existência de textos e descrições suficientes (exemplos recolhidos das três Américas, da África, da Oceania, Sibéria e etc.) para falar de uma antropologia política, medir os seus resultados e refletir sobre a natureza do poder, sobre sua origem, sobre as transformações que a história lhe impõe consoante os tipos de sociedade em que ele se exerce.

Pode-se imaginar que as dezenas de comunidades arcaicas não possuem em comum nada além da determinação do seu arcaísmo, estabelecida pela ausência da escrita e pela economia dita de subsistência. Porém as sociedades arcaicas podem se diferir muito entre si, J.W.Lapierre propõe pela antropologia cinco grandes tipos, partindo das sociedades arcaicas onde o poder político se encontra mais desenvolvido até chegar às que apresentam uma quase ausência deste e até um vazio absoluto de poder propriamente político. Ordena-se as culturas primitivas numa tipologia fundada sobre a maior ou menor quantidade de poder político que cada uma de entre elas oferece à observação, podendo tender para zero.

No entanto, o autor conclui que se entre as sociedades de signo + e as de signo – a passagem é progressiva, contínua, a própria possibilidade de classificar as sociedades desaparece, sendo assim, a ele parece correto pensar que nenhuma classificação das sociedades empíricas nos pode esclarecer nem sobre a natureza do poder político nem sobre as circunstâncias do seu advento e que o enigma persiste no seu mistério.

Numa concepção tradicionalista, o poder realiza-se numa relação social característica de comando-obediência, daí resulta-se pensar que as sociedades onde não se observa esta relação essencial, são sociedades sem poder. Será que quando não existe coerção ou violência deixamos de falar de poder? Nesse sentido o autor menciona que as sociedades índias são arcaicas e todas ou quase todas são dirigidas por líderes, chefes, mas, nenhum desses caciques possui poder, ele afirma que nossa cultura, desde as suas origens pensa o poder político em termos de relações hierarquizadas e autoritárias de comando-obediência, sendo assim nas sociedades onde não se verifica esta relação a temos como sem política, sem poder.

Decidir que certas culturas são desprovidas de poder político porque nada oferecem de comparável ao que a nossa apresenta não é uma proposta científica diz Pierre, antes denota, no fim de contas uma pobreza evidente do conceito.

Como investigador antropológico, Clastres destaca também o obstáculo que se torna o etnocentrismo, que mediatiza todo o olhar sobre as diferenças para identificá-las e as abolir, pois não pode deixar subsistir as diferenças cada uma por si na sua neutralidade, mas quer compreendê-las como diferenças determinadas a partir do que lhe é familiar, o poder tal como é pensado e exercido no ocidente.

Então, em que condições o poder pode ser pensado, visto que se pensa que as sociedades arcaicas não são verdadeiras sociedades por não serem políticas? Segundo o autor, a condição será tomar a sério o homem das sociedades primitivas, sob todos os seus aspectos e em todas as suas dimensões, até mesmo sob o ângulo político, mesmo e, sobretudo se este se realiza nas sociedades arcaicas como negação daquilo que é no mundo ocidental.

O poder existe separado da violência e exterior a toda hierarquia, assim todas as sociedades arcaicas ou não são políticas, mesmo se o político se diz em sentidos múltiplos, e não é de imediato decifrável, o homem primitivo não é uma criança, e não há razão para julgá-lo incapaz de refletir na sua própria experiência e de inventar para os seus problemas as soluções apropriadas.

Portanto, não se pode repartir as sociedades em : sociedades sem poder e sociedades com poder, visto que o poder se realiza com base em dois modelos: poder coercivo e poder não coercivo. O autor ainda destaca que o poder político coercivo, não é o modelo do poder verdadeiro, mas simplesmente um caso particular.

Assim, mesmo nas sociedades onde está ausente a instituição política, onde não existem chefes, o poder político está presente, pois é uma necessidade inerente à vida social, Não se pode pensar o social sem o político, ou seja, não existem sociedades sem poder.

No capítulo 2, cujo título é Troca e Poder: Filosofia da chefia Índia, Pierre tenta descobrir qual é o modelo estrutural da relação de poder e da sociedade nas populações índias usando a América como referência. Pra ele a elaboração por cada grupo de um modelo estrutural é inconsciente. Segundo a sua organização política, a maior parte das sociedades índias da América se distinguem pelo sentido da democracia e pelo gosto da igualdade. Para indivíduos formados em culturas em que o poder político é dotado de poderio efetivo fica difícil entender como algumas tribos como a Yahgan da terra de fogo, não possuem chefia e nem sequer um termo para designar chefe.

O que é, pois, esse poder privado dos meios de se exercer? Através de que se define o chefe, uma vez que a autoridade lhe falta? Talvez a pergunta mais pertinente seja: Onde vai buscar tal instituição sem substância, a força para subsistir, já que se trata

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