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Resenha rediscutindo a mestiçagem no Brasil

Por:   •  30/1/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.874 Palavras (8 Páginas)  •  1.742 Visualizações

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Ao longo de sua trajetória como historiadora, Circe Bittencourt desenvolveu uma série de reflexões tendo como objeto de preposição a educação. Em sua obra Ensino de História- Fundamentos e Métodos traça um panorama enfatizando as problemáticas e desafios da prática docente. Onde enfatiza as significativas conquistas obtidas ao longo das últimas décadas, mas sobre tudo revela a necessidade de novos avanços no campo da educação.

Como uma das principais vozes no Brasil, a defender a escola como um espaço de produção do conhecimento, a autora expressa à necessidade do reconhecimento dos saberes advindo destas instituições. Logo, posicionando- se contra mão daqueles que ainda entendem as escolas como ambientes de transposição didática dos conhecimentos advindos das universidades. Assim, a educadora ressalta a importância de uma busca de forma a promover e incorporar novas metodologias de ensino que valorizem a cultura escolar, tendo esta a exceção de novos espaços e sujeitos históricos a prática docente.

Neste ponto, evidência- se a questão do livro didático como instrumento pedagógico. Em sua avaliação, apesar das recorrentes melhoras nos últimos anos, fruto de um debate no cenário nacional, ainda continua reproduzindo uma historiografia generalizante, onde maiorias aparecem como minorias. Suas preposições revelam que os conteúdos desenvolvidos, estão mais centrados sobre o eixo da Europa, do que preocupados com as relações entre Brasil e América Latina ou ainda África.

Como consequência direta deste modelo de ensino, permeia sobre os livros didáticos uma política de valorização de uma ótica sulista branca, que em muitos aspectos exclui e segrega o contexto de historiografia local e regional. Um dos principais impactos desta política vem sendo pontuado na dificuldade em se criar uma relação de identidade entre aluno, conteúdos por vezes até metodologias de ensino. Como um reflexo permeia um frequente desinteresse à medida que estes estudantes não se veem nestes livros, sobretudo no norte e nordeste do país.

Ao passo que se reconhece o livro didático como uma importante ferramenta pedagógica, este não deve ser apenas a única fonte de conhecimento a ser desenvolvido em sala. Cabe a utilização de novos recursos, que possibilitem explorar campos ainda carentes de estudos, de forma a incluir novas abordagens e metodologias de ensino e aprendizagem. A música, teatro, imagem, poesia, cinema vem sendo utilizadas como importantes ferramentas e representam formas alternativas de ensino e aprendizagem dentro e fora do ambiente escolar.

Em via contrária a visão que entende a escola e o professor como simplificadores dos conteúdos e conhecimentos desenvolvidos pelos intelectuais das universidades. A escola tem buscado se aproximar a interdisciplinaridade dos intelectuais franceses do início do século XX, tendo a associação dos conteúdos com outras áreas dos conhecimentos como importante elemento da construção do conhecimento. Sobre este princípio, Bittencourt busca uma aproximação do aluno com a prática pedagógica, tal fundamento aproxima o universo do aluno com os conteúdos desenvolvidos em sala de aula, fornecendo um sentimento de igualdade e pertencimento. Sobre estes pilares o incremento dos novos recursos pedagógicos, amplia o campo de debate de um mesmo tema em possibilidades plurais. Como consequência direta, a proximidade fornece um sentimento de igualdade e pertencimento.

Os princípios que se desdobram sobre a construção histórica e as formações das identidades no Brasil são profundamente debatidas por Kabengele Munanga em seu livro, Rediscutindo Mestiçagem no Brasil: Identidade Nacional versus Identidade Negra. As últimas décadas no Brasil tem se avançado bastantes nas questões que se referem ao debate das questões raciais e afirmações destas identidades. A promulgação da Lei 10.639/03, que instituiu a obrigatoriedade do ensino da história da cultura afro- brasileira e áfrica nas escolas. A deliberação do Conselho Nacional de Educação, que ampliou está máxima as instituições de ensino superior, de forma não apenas reproduzir estes conteúdos, mas ser fomentadoras destes em 2004.

No entanto, não são raras as situações as quais permeia um estranhamento do aluno com as abordagens e problemáticas desenvolvidas em sala de aula, sobretudo quando insere- se o elemento racial. Reflexo de uma sociedade que ainda tem muito que avançar no reconhecimento de suas raízes, e como consequência e não reconhece a importância do papel do indígena e, sobretudo do negro na construção do país. Ao problematizar as questões raciais no Brasil, torna- se evidente que não estão colocadas apenas as prerrogativas biológicas, mas também inclui- se a difusão de ideias, ideologias que exercem influência no comportamento das populações.

Ao discutir o processo de mestiçagem, Munanga aponta que para um indivíduo ser branco é preciso ser totalmente, mas para ser negro, basta ser apenas um pouco. Tal relação ilustra como foi pensada a relação de mestiçagem no Brasil. Sobre estes pilares hipodescendência, filiação do branco com grupos inferiorizados como indígena ou negro, fora vista como uma transgressão as leis naturais. Sobre este princípio o branco perderia sua superioridade natural, ausente nos outros.

Apesar de o Brasil ter desenvolvido características próprias no que se refere ao pensamento de mestiçagem nas primeiras décadas do século passado, os intelectuais brasileiros do século XIX foram fortemente influenciados pelos intelectuais europeus. Os ditos pensadores das luzes a exemplo de Volterie, que afirmava que a mistura das raças distintas era uma anomalia, ao passo que para ele haviam diferenças internas e externas entre ambos. Aqui as diferenças, viriam se inserir entre as justificativas que legitimaria a escravidão em diversas partes do mundo. Se anteriormente a igreja já havia buscado uma origem distinta do mito de adão e Eva para o negro, a ciência buscaria desenvolver teorias no mesmo sentido.

Nasciam as teorias das raças, tomando as diferenças da fenologia humana, ou seja, cor da pele, estrutura corporal, queixo, lábios, nariz, crânio como elementos científicos para interiorização de todo e qualquer indivíduo não branco. As afirmações de Gorbieau, davam conta que uma raça torna-se degenerada a medida que perde sua pureza. Em sua lógica, o branco bonito e inteligente, ao misturasse tornaria feio e inteligente, ou bonito e burro.

A maioria dos intelectuais brasileiros no pós- abolição, acreditavam na inferioridade do índio e principalmente do negro em relação ao branco. Como afirmou Silvio Romero, a mestiçagem é uma consequência da escravidão. Evidenciava- se ai um projeto o projeto de nação à medida que se acreditava

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