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As Obras Neo Andinas

Por:   •  25/9/2021  •  Artigo  •  2.186 Palavras (9 Páginas)  •  101 Visualizações

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1 Introdução

El Alto é a segunda maior cidade da Bolívia e abriga aproximadamente 1 milhão de habi-tantes, três quartos dessa população têm descendência indígena Aymara. Considerada a cidade mais alta do mundo, El Alto fica a uma altitude de 4.150m acima do nível do mar e é localizada pró-ximo a capital do país, La Paz, na província de Pedro Domingo Murillo.

A cidade obteve grande crescimento na década de 1950, quando o assentamento foi conec-tado ao abastecimento de água de La Paz (antes disso, toda a água era transportada de La Paz em veículos tanques) e os terrenos para construção na capital Boliviana se tornaram cada vez mais es-cassos e caros.

Muito densa, e com poucas áreas urbanas e vegetação, a cidade é considerada um dos cen-tros urbanos de mais rápido crescimento na Bolívia, tendo um crescimento de 10% ao ano, um nú-mero consideravelmente grande quando observamos que apenas 70 anos se passaram desde que os primeiros moradores indígenas e campesinos chegaram na cidade.

El Alto apresenta um panorama monocromático em cor ocre, marcado pelo uso de tijolos de barro aparentes, o que se entende como um reflexo da realidade econômica que ali se fazia pre-sente anos atrás, quando a economia não prosperava.

Sobre a cidade de El Alto e seu assentamento urbano, Tatewaki Nio e Guilherme Wisnik (2017), dizem que:

Precário desde a origem, o assentamento urbano cresceu de forma desordenada e totalmen-te autoconstruída pelas pessoas pobres – “cholos”, de etnia predominantemente Aymara – que foram lá se instalando e vivendo do comércio informal que liga o altiplano (e, com ele, o Chile, o Oceano Pacífico e o Oriente) às áreas mais baixas e ricas da Bolívia, que chegam a Santa Cruz de la Sierra e ao Brasil. Muitos desses habitantes de El Alto são ex-mineiros, que perderam o trabalho com a onda de privatizações e o fechamento das minas (de prata, esta-nho e carvão) nos anos 80 e 90. E, por isso, trouxeram com eles uma forte consciência políti-ca para a cidade, baseada em uma profunda tradição sindical. Forma-se, aí, um novo fenôme-no urbano de grande interesse. (NIO. T.; WISNIK. G., 2017, documento eletrônico).

El Alto se tornou um centro de resistência às políticas urbanas neoliberais, participando de revoltas como a chamada “Guerra do Gás” em 2003, na qual mais de 70 pessoas foram mortas pela repressão do governo, e que culminou na queda do então presidente, Gonzalo Sánchez de Lozada, um homem autoritário e de direita e, por conseguinte, trouxe a ascensão de Evo Morales, eleito 2 anos depois.

Evo Morales também é descendente de Aymaras e sua eleição fez com que a cultura re-nascesse na cidade, não mais governada por homens brancos que não representavam a grande po-pulação e a sua cultura indígena e campesina, Evo trouxe a valorização da história ali presente e fez com que o povo se orgulhasse de suas raízes.

A economia, que é baseada principalmente no comércio também teve uma grande melho-ria ao se desvincular da economia neoliberal existente no governo de Gonzalo Sánches, o que inter-feriu diretamente no panorama da cidade e na vivência da população.

Com a economia globalizada das últimas décadas, houve um importante deslocamento eco-nômico dos setores da produção para os de serviços, favorecendo o surgimento de uma nova burguesia Aymara, que justamente controla o transporte de bens (incluindo a folha de coca) nesse grande “hub” geográfico do continente que é El Alto. É justamente essa nova classe so-cial, que tem livre trânsito comercial com a China e a Índia, que adotou, ao menos em parte, a arquitetura de Freddy Mamani como símbolo de afirmação identitária e de status social, cons-truindo seus imponentes Salões de Eventos – o que se fundamenta na prática indígena, de origem rural, de se oferecer festas cotidianamente, implicando aos convidados a necessidade de se retribuir o convite oferecendo novas festas, segundo o modelo de imbricamento cultu-ral entre dívida e dádiva analisado por Marcel Mauss. (NIO. T.; WISNIK. G., 2017, documento eletrônico).

É nesse contexto que ocorre o nascimento da arquitetura Neo-andina, embasada na cultura local e na valorização da história andina.

2 A arquitetura Neo-andina

2.1 O autor

Freddy Mamani Silvestre, nascido em 1 de novembro de 1971 (idade 49 anos) em Aroma, Bolívia, é descendente de Aimarás, assim como 70% da população de El Alto. O povo Aymara é mi-lenar, dedicado à pecuária e à agricultura.

Segundo Sandra Lefcovich, do Correio Braziliense, esse grupo indígena se assentou nas margens do lago Titicaca em 1580 a.C. e ali se manteve até 1200 d.C., quando foi conquistado pelos incas, que desceram de Machu Picchu em direção ao sul e dominaram territórios até a porção norte do que hoje pertence à Argentina. ( LEFCOVICH.S, 2004, documento eletrônico).

Freddy Mamani diz no documentário Cholet: a obra de Freddy Mamani (2018) que desde criança brincava com as formas e fazia pequenas cidades de barro. Anos depois se tornou assistente de pedreiro e posteriormente ingressou no curso de construção civil pela Universidade Mayor de San Andrés. Posteriormente, aos 31 anos, deu vida a chamada Arquitetura Neo-andina.

2.2 A Obra

Há 18 anos atrás a Arquitetura Neo-andina ganhou vida com a Eleição de Evo Morales. As obras se tratam de edifícios extravagantes que contam com até 6 andares. contém pavimento tér-reo comercial, os 2 pavimentos acima normalmente são projetados para abrigar salões de festa, espaços muito importantes para as tradições andinas e da cultura Aymara, nas quais sempre se en-contra motivos para festejar e brindar. Mamani repensa a arquitetura de forma a abrigar atividades típicas da região. Os espaços tem pé direito alto e são muito amplos, também é empregado o uso de espelhos que refletem as múltiplas luzes, assim como o uso de luminárias suspensas chinesas.

Sobre o interior das obras, Tatewaki Nio e Guilherme Wisnik (2017), afirmam que:

Abstraído o referente externo da paisagem periférica de El Alto, o ambiente interno desses salões é de pura fantasia delirante, em meio a uma parafernália de cores, lustres, lajes e san-cas curvas, capitéis em forma de cogumelo, e um céu artificial de pequenas lâmpadas por to-da a parte. Mas engana-se quem pensa que os bons costumes do folclore local estão sendo conspurcados pela invencionice nada ortodoxa do arquiteto. Não é possível retrocedermos um modelo original do que seja o “tradicional” ou o “autêntico” nesse caso. O próprio

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