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Saber ver arquitetura

Por:   •  21/10/2015  •  Resenha  •  2.403 Palavras (10 Páginas)  •  6.547 Visualizações

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Saber ver a arquitetura – Bruno Zevi

1 - A ignorância da arquitetura

  • Dentre as Artes a arquitetura é a menos notada pelos críticos e consequentemente pelo público no geral. Mas, as consequências de uma “má” arquitetura são mais graves e prolongadas.
  • O público não tem paixão pela arquitetura.
  • Os arquitetos que são aqueles que nutrem essa paixão não possuem em sua maioria cultura para entrar no debate crítico e histórico. Muitos ignoram a produção do passado
  • Os livros de arquitetura de caráter arqueológico-histórico possuem uma parcialidade modernista, onde obras do passado são analisadas sob uma óptica funcionalista ou modernista.
  • Apesar da infinidade de críticos da arte que tem como objeto de estudo a arquitetura, a maioria deles tratam a arquitetura da mesma forma que a pintura e escultura, como simples fenômenos plásticos.
  • A renovação da pintura a partir do cubismo trouxe uma simplificação da representação e como consequência, a arquitetura “voltou à moda”.
  • Na idade média a arquitetura, por se considerar abstrata, era hostil a críticos da arte, não permitindo as mesmas evocações romântico-psicológicas aplicadas à pintura e escultura. Mas com a “abstração” da pintura moderna houve uma “união” entre elas.
  • Essa junção acabou dando continuação à aplicação de critérios da crítica pictórica a arquitetura.
  • A aplicação de critérios de várias áreas à critica arquitetônica não traz uma abordagem clara e contribui para a ignorância e desinteresse pela arquitetura.

2 – O espaço, protagonista da arquitetura

  • A falta de uma história da arquitetura satisfatória resulta da falta de hábito da maioria dos homens de entender o espaço e a falta de métodos, por parte dos historiadores, de compreensão da arquitetura.
  • O caráter essencial da arquitetura é o seu vocabulário tridimensional que inclui o homem, ou seja, o espaço. Plantas bidimensionais servem apenas para obter medidas, que apesar de sua funcionalidade não traz a compreensão teórica da arquitetura necessária, que só pode ser vivenciada na prática.
  • As fachadas de um edifício, por mais belas que sejam, são apenas uma “capa” e não podem qualificar a arquitetura, pois o real conteúdo se encontra dentro da “caixa”. Entretanto em algumas épocas, como exemplo o barroco, foi dada muita importância ao invólucro.
  • A longo da história da arte as técnicas foram se aperfeiçoando. As pinturas que antes eram “chapadas” se tornaram mais reais com a descoberta da terceira dimensão. Esse avanço foi de grande importância para a representação da arquitetura, mas teve ainda mais importância a descoberta da quarta dimensão: o tempo. Isso se deve aos cubistas que notaram que para representar um objeto como um todo, seriam necessárias infinitas perspectivas, ou seja, de cada ponto há uma visão diferente.
  • Mesmo sendo o tempo resposta satisfatória à questão das dimensões na arquitetura, não pode ser sua essência, esta transcende a quarta dimensão.
  • Em pintura e escultura a quarta dimensão está no objeto, enquanto que na arquitetura ela é criada à medida que o observador move-se por ela.
  • O que é então arquitetura? Aquilo que possui espaço interno. Podendo ser bela ou má se nos atrai ou repele.
  • Deve se evitar dois equívocos. O primeiro de que apenas interiores de edifícios são arquitetura. Pelo contrário, todos os vazios (ou espaços) criados pelo homem transmitem a mesma experiência espacial da arquitetura (ruas, parques, estádios). O segundo de que a arquitetura resume-se ao espaço. Há fatores, que apesar de não ser a essência, devem ser levados em consideração para se ter uma boa arquitetura: econômicos, sociais, artísticos, técnicos, funcionais, etc.
  • A arquitetura moderna trouxe o valor esquecido da volumetria e espacialidade dos edifícios. Em contrapartida, negou a importância decorativa, deixando os edifícios “nus”.
  • O julgamento do espaço interno pode ser: urbanístico pela falta de espaço interno; má arquitetura: -espaço +decoração; boa arquitetura, mas não satisfatória: +espaço –decoração; obras arquitetônicas: +espaço +decoração.

3 –A representação do espaço

  • O progresso científico-tecnológico possibilitou a expansão e o acesso das massas à cultura antes reservada à poucas pessoas nas áreas da pintura, fotografia, literatura, escultura, música.
  • Entretanto, no campo da arquitetura, por falta de definição consistente do caráter arquitetônico, o problema da representação do espaço além de não ser resolvido ainda não foi colocado. Cabé estudar as técnicas já existentes e torna-las mais eficientes.
  • As plantas, apesar de não fazer parte das experiências concretas visuais de um edifício, são meios fundamentais na representação do edifício.
  • Um das causas da falta de conhecimento espacial é a rapidez em que se analisam as obras arquitetônicas. Comparativamente, é dedicado muito mais tempo a estudar uma obra literária do que uma obra arquitetônica no mesmo nível de complexidade.
  • A basílica de S. Pedro de Michelangelo é representada em planta, do ponto de vista espacial, de uma forma bem limitada. Um estudo de volumes, fluxos, altimetria, relação interior-exterior e aplicação destes à planta contribuem enormemente na compreensão espacial.
  • A representação das fachadas é geralmente feita em duas dimensões e representadas de forma também limitada. Se isso vale para formas estereométricas simples ( Palazzo Farnese de Letarouilly), ainda mais para edifícios com volumes mais complexos (Falling Water de F. L. Wirght).
  • A modelagem (ex.: maquetes), torna-se uma solução viável para esse problema, entretanto ainda é limitada por ignorar a escala humana.
  • As fotografias reproduzem as três dimensões do edifício e torna perceptível a sua escala real. Porem, não fornece a visão do todo muito menos a espacialidade do edifício.
  • A cinematografia resolve praticamente todos os problemas relacionados à quarta dimensão. Mas somente a vivência direta no espaço possibilita a maior compreensão arquitetônica.

4 – As várias idades do espaço

  • A história da arquitetura é reflexo da cultura de determinada época.
  • Dados importantes: Pressupostos sociais (deriva do programa que surge das relações sociais e econômicas); pressupostos intelectuais (crenças, aspirações); pressupostos técnicos (avanço da ciência); o mundo figurativo e estético (concepções e interpretações da arte).
  • A história dos monumentos envolve: análise urbanística, arquitetônica, volumétrica, de elementos decorativos e da escala.

A escala humana dos gregos

  • O templo grego é caracterizado pela ignorância do espaço interior, ou seja, da concepção espacial, mas, impressiona pelo seu caráter escultórico.
  • Os elementos construtivos dos templos gregos eram plataforma elevada, pilares apoiados e entablamento contínuo.
  • “...não era concebido como a casa dos fiéis, mas a morada impenetrável dos deuses”
  • Os gregos utilizavam mais o espaço urbanístico do que os internos.
  • As “neo-arquiteturas” buscam imitar a arquitetura grega, mas não passa de mascaramento de invólucros murais que encerram espaços interiores.
  • Uma prova da humanização do espaço do templo é que com a expansão para a Itália, os peristilos foram ampliados.

O espaço estático da antiga Roma

  • Ao contrario da arquitetura grega que era essencialmente escultórica ignorando a espacialidade do edifício, as obras romanas mesmo não tendo o sensível requinte dos gregos tinha um grandioso espaço interno.
  • Possui pluriformidade do programa que contem novas técnicas construtivas. Há um amadurecimento dos temas sociais.
  • Ao comparar um templo grego com uma basílica romana, percebe-se que as colunatas que antes cingiam o templo, agora passam para o espaço interno.
  • As obras romanas impressionam pela grandeza e dimensão, mas não comovem pela inspiração.

A diretriz humana do espaço cristão

  • Os cristãos reuniram nas igrejas a escala humana dos gregos e a consciência do espaço interno dos romanos
  • Comparando uma basílica romana com uma igreja cristã, percebe-se que apesar das semelhanças, a igreja rompeu com a simetria romana priorizando o caminho humano.
  • A dimensão humana é vista também em edifícios com esquema central.

A aceleração direcional e a dilatação de Bizâncio

  • Nas igrejas bizantinas o espaço cêntrico se amplia e o espaço interior é dilatado através de um movimento centrífugo
  • Apesar dos romanos já terem conseguido anteriormente a dilatação do espaço interior, ela era estática, enquanto a bizantina é dinâmica.

A barbárica interrupção dos ritmos

  • Os séculos VIII, IX, X não tinham uma concepção espacial definida, entretanto serviu de gestação para a arquitetura românica.
  • Elementos iconográficos e estruturais característicos desse século: elevação do presbitério; jogo de naves em torno do vão absidal; engrossamento das paredes; gosto pelo material bruto.
  • Nesse período há um rompimento com a longitudinalidade bizantina.

A métrica românica

  • Houve um “terremoto orgânico” na arquitetura, em que uma concepção espacial distinta se desenvolve.
  • Características da arquitetura românica: concatenação dos elementos e métrica espacial (complexa)

Os contrastes dimensionais e a continuidade espacial do gótico

  • Características da arquitetura gótica: aperfeiçoamento construtivo (concentração de pesos nos pilares, arcos ogivais, acobotantes e contrafortes); negação das paredes e continuidade interior-exterior (vitrais);
  • Pela primeira vez a arquitetura cristã os espações estão em antítese polêmica com a escala humana, produzindo estado de espírito de desequilíbrio.
  • Proporção do edifício entre si relativo ao homem.
  • No gótico há duas diretrizes: longitudinal e vertical
  • A arquitetura gótica inglesa tem qualidade “orgânica”

A lei e as medidas do espaço no século XV

  • Existem dois preconceitos sobre a arquitetura renascentista: de que rompe totalmente com os estilos precedentes, negando a historicidade; e o outro que ela não passa de arquitetura neo-românica.
  • Os arquitetos da renascença adotam nas igrejas uma métrica espacial baseada em relações de matemática elementares, onde o observador “mede” em poucos segundos o espaço.
  • Na renascença o homem é quem dita as leis do edifício e não o contrário
  • Nos séculos XV e XVI são preferidos os edifícios com planta central
  • A iconografia renascentista racionaliza, sem revolucionar, a medieval.

Volumetria e plástica do século XVI

  • A produção desse período é caracterizada por um conformismo classicista
  • Com relação aos temas espaciais, desenvolve a aspiração cêntrica do século XV; “Qualifica a mesma busca espacial em termos eurrítmicos da antiga renascença voltando à antiga antítese entre espaço interior e exterior, com a solidez pesada e corpórea das suas paredes e com a maciça plástica dos componentes decorativos.”
  • “ no século XVI, todas as forças dinâmicas que haviam sido travadas mas não extintas, acalmam-se definitivamente.”
  • Enquanto que no gótico, as abóbadas possuem espigões evidentes com zonas neutras de enchimento, na renascença, aumentam-se os espigões e não existe mais zona neutra, apenas uma massa plástica.
  • As fachadas góticas possuem saliências e um intenso jogo de claro e escuro, já na renascença o edifício possui um volume unitário.
  • No gótico havia uma continuação interior-exterior, na renascença há uma separação entre eles.
  • Apesar das semelhanças o espaço estático romano não possuía a vontade estática, corpórea, de perfeição dos renascentistas.

O movimento e interpenetração no espaço barroco

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