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A Ordem do Discurso

Por:   •  7/4/2022  •  Resenha  •  2.797 Palavras (12 Páginas)  •  194 Visualizações

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O presente livro é um fascículo onde Foucault adota

um tom de conferência, relatando suas reflexões e pesquisas

acerca das diversas abordagens possíveis do discurso e de

como ele se dissemina em diferentes sociedades. O autor

demonstra, dentre outras coisas, como o discurso exerce uma

função de controle, de limitação e validação das regras de

poder em diferentes períodos históricos e grupos sociais.

O ponto de partida do autor gira em torno da

seguinte hipótese:

Suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo

controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de

procedimentos que tem por função conjurar seus poderes e perigos, dominar

seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade

(FOUCAULT, 2012, p. 8-9).

Segundo Foucault, um discurso pode ser conceituado enquanto rede de signos que

se conecta a outros tantos discursos – ou a outras tantas redes de discursos –, em um

sistema aberto que tanto registra quanto reproduz e estabelece os valores de determinada

sociedade, perpetuando-os. O discurso, portanto, não é um encadeamento lógico de frases

e palavras que pretendem um significado em si, mas, antes, ele se colocará como um

importante instrumento de organização funcional que pretende estruturar determinado

imaginário social. Ele – o discurso – deixa de ser um representante dos sentidos pelos quais

se luta e/ou se debate para ser, então, um instrumento do desejo. Ora, “o discurso, longe

de ser [...] [um] elemento transparente ou neutro no qual a sexualidade se desarma e a

ISSN: 2446-6549

Resenha

Ramon Taniguchi Piretti Brandão

InterEspaço Grajaú/MA v. 1, n. 3 p. 392-398 Ed. Especial 2015 Página 393

política se pacifica [...] [é, antes,] um dos lugares onde elas exercem, de modo privilegiado,

alguns de seus mais temíveis poderes” (FOUCAULT, 2012, p. 9).

O desejo diz: „Eu não queria ter de entrar nesta ordem arriscada do discurso;

não queria ter de me haver com o que tem de categórico e decisivo; gostaria que

fosse ao meu redor como uma transparência calma, profunda, indefinidamente

aberta, em que os outros respondessem à minha expectativa, e de onde as

verdades se elevassem, uma a uma; eu não teria senão de me deixar levar, nela e

por ela, como um destroço feliz‟; E a instituição responde: „Você não tem por

que temer começar; estamos todos aí para lhe mostrar que o discurso está na

ordem das leis; que há muito tempo se cuida de sua aparição; que lhe foi

preparado um lugar que o honra mas o desarma; e que, se lhe ocorre ter algum

poder, é de nós, só de nós, que ele lhe advém‟ (FOUCAULT, 2012, p. 7).

Foucault, ademais, sintetiza as proposições, os princípios e as táticas dessa

organização do discurso para, em seguida, nos apresentar as possibilidades de analisá-lo.

Primeiro, um paradoxo: como falar sobre o discurso, como questioná-lo e desvendá-lo

tendo que dele mesmo fazer uso?

Ao invés de tomar a palavra, gostaria de ser envolvido por ela e levado bem

além de todo começo possível. Gostaria de perceber que no momento de falar

uma voz sem nome me precedia há muito tempo: bastaria, então, que eu

encadeasse, prosseguisse a frase, me alojasse, sem ser percebido, em seus

interstícios, como se ela me houvesse dado um sinal, mantendo-se, por um

instante, suspensa. Não haveria, portanto, começo; e em vez de ser aquele de

quem parte o discurso, eu seria, antes, ao acaso de seu desenrolar, uma estreita

lacuna, o ponto de seu desaparecimento possível. (FOUCAULT, 2012, p. 5-6).

Deste modo, Foucault já denota a dificuldade em desvencilhar-se das estratégias

empregadas pelo discurso. Indica, também, a busca por uma voz sem nome a orientá-lo,

empregando um jogo de palavras para afirmar que tanto o discurso quanto as palavras são

exatamente isso: um jogo1

. A crítica feita pelo autor consiste, basicamente, em questionar

os procedimentos discursivos que reforçam e propagam o controle de tudo que é

produzido pelo discurso.

Compõe o conjunto dos mecanismos de exclusão que são externos ao discurso a

interdição, a separação e a vontade de verdade. A interdição, mecanismo mais disseminado, se refere

ao tabu do objeto, ao ritual da circunstância e ao direito privilegiado daquele que fala. Nela,

revela-se a clara relação entre discurso e o poder. Em outra esfera – na separação ou rejeição –

ela revela, também, uma separação – ou rejeição – do discurso proferido pelo louco a partir

da oposição razão versus loucura. No terceiro sistema

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