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A Ralé Brasileira

Por:   •  17/5/2017  •  Trabalho acadêmico  •  1.375 Palavras (6 Páginas)  •  224 Visualizações

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Muitos autores introduzem conceitos importantíssimos porém difíceis de visualizar por causa do grande esforço necessário para relacionar os conceitos com a realidade. Assim, muitas vezes, o leitor eventual fica perdido num mar de ideias, sem nenhum lastro com o mundo real que o permita compreender o tema abordado sem uma preparação prévia. Na contramão dessa tendência, uma das coisas que mais chama a atenção na introdução do livro A Ralé Brasileira, de Jessé Souza, é justamente sua proximidade com a nossa realidade. Ao ler certas passagens do texto, é bem provável lembrar-se de alguma discussão com amigos, de algum pensamento solto, ou de uma frase dita por algum conhecido. Isso se dá exatamente porque Jessé faz uma crítica às velhas correntes de pensamento que ele considera ultrapassados. Sua missão, como ele mesmo diz,  

“É a elaboração consequente e convincente de uma visão alternativa(...) Esse é precisamente – com as armas da sociologia teórica e empírica de vanguarda aplicadas ao contexto brasileiro numa linguagem compreensível a todos – o desafio desse livro”

        Dificuldades

        Antes de mais nada, Jessé identifica dois problemas básicos que dificultam a construção de uma nova corrente de pensamento. São duas assunções: Primeiro, é a impressão amplamente difundida de que todos os problemas sociais e políticos brasileiros já são conhecidos. E segundo, é que “não se perceba nenhuma mudança efetiva no cotidiano de milhões de brasileiros condenados a um dia a dia humilhante deve-se ao fato de a desigualdade brasileira vem de ‘muito tempo’”

        Essas duas falsas teses são reproduzidas cotidianamente nos mais diversos meios de comunicação, o que acarreta sua difusão e aceitação como verdadeiras, apesar de serem errôneas. Na verdade, são essas mesmas ideias que constituem o núcleo da violência simbólica que permite a naturalização da desigualdade social no país.

O economicismo

        Uma das críticas feitas por Jessé é ao fenômeno do reducionismo econômico, ou como colocado por ele, economicismo. Esse termo refere-se a tendência da sociedade moderna em reduzir todos os problemas sociais e políticos à esfera econômica e “redutoramente quantitativa da realidade social”

“O Economicismo é, na realidade, o subproduto de um tipo de liberalismo triunfalista hoje dominante em todo o planeta, o qual tende a reduzir todos os problemas sociais e políticos à lógica da acumulação econômica.”

O homo economicus

        O economicista enxerga o mundo como uma espécie de campo de batalha no qual todos os sujeitos (homo economicus) travam uma disputa social pelos raros recursos disponíveis. Porém, nessa visão limitada todos os seres humanos possuem as mesmas disposições de comportamento e as mesmas capacidades de disciplina, autocontrole e autor responsabilidade. Assim, o indivíduo marginalizado socialmente é percebido como alguém com as mesmas capacidades e predisposições de um indivíduo da classe média.

        A gravidade desse pensamento está em acreditar que a pobreza é algo meramente fortuito, e que para superá-la basta apenas que o indivíduo se esforce mais, ou até, receba uma pequena ajuda do Estado para que consiga caminha por si só.

Estado vs mercado

        Outro ponto que permitiu ao liberalismo economicista ter a força que tem hoje é, segundo Jessé, a construção de uma falsa oposição entre o “Mercado como reino paradisíaco de todas as virtudes” e o “Estado identificado com a corrupção e o privilégio”

O autor chama a atenção para a ambiguidade constitutiva de cada instituição, ou seja, nos dois patamares existe a potencialidade tanto para a corrupção e privilégio quanto para a virtude e o progresso. No entanto, essa

“Oposição simplista e absurda(...) é o que permite, no Brasil de hoje, que a eternização dos privilégios econômicos de alguns poucos seja ‘vendida’ ao público como interesse de todos na luta contra uma corrupção pensada como ‘mal de origem’ e supostamente apenas estatal”

Essa visão maniqueísta de Estado demonizado e Mercado divinizado, associada com o reducionismo dos problemas sociais à esfera econômica, juntamente com a arrogância de acreditar que tais problemas são simples, claros e já conhecidos, permite que os verdadeiros conflitos sociais sejam colocados em segundo plano, até mesmo esquecidos, tornando-os completamente invisíveis.

Essa invisibilidade                 

“é o principal produto do tipo de ciência social conservadora - que se tornou dominante entre nós nas universidades, na grande imprensa e no debate público – permite um tipo economicismo, que de tão hegemônico, transformou-se na única linguagem social compreensível por todos.”

A herança imaterial

        Seguindo o raciocínio economicista no qual apenas o fator econômico é levado em consideração, acaba-se por deixar de lado outros fatores tão ou mais importantes. Nessa linha de pensamento ocorre uma abstração do indivíduo de seu contexto social, ignorando as variáveis de socialização.

O homem é essencialmente produto de sua socialização, pensá-lo fora de seu contexto social é “tornar invisível duas questões que permitem efetivamente ‘compreender’ o fenômeno da desigualdade social: a sua gênese e a sua reprodução no tempo.” Isso acontece quando a realidade das classes é percebida somente através de dois fatores, a renda e o lugar na produção. Deixando de lado todos os fatores e pré condições sociais, emocionais, morais que constituem a renda diferenciada. O que acarreta uma confusão entre causa e efeito.

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