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Resenha Documentário: Carne e Osso

Por:   •  13/7/2018  •  Resenha  •  758 Palavras (4 Páginas)  •  389 Visualizações

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Jaqueline de Jesus Cardoso – FND – Turma: Noturno – DRE: 114168340

O documentário “Carne e Osso” produzido pela “Repórter Brasil” e apresentado pelo canal Globo News retrata o processo produtivo de carnes e seus derivados dentro de uma fábrica no interior do Brasil.

Inicialmente, chama a atenção o contraste entre as cenas repetitivas feitas dentro da frigorífera com a tranquilidade da cidade pequena. Os cortes rápidos e cadenciados tomam poucos segundos e se repetem a perfeição continuamente, desossando, limpando e fatiando cada ave que a esteira traz. Ao fundo, os sons mecanizados e maçantes apresentam o tipo de trabalho que ocorre dentro da fábrica: ao estilo fordista, as esteiras trazem aquilo que o trabalhador especializado deverá ajustar – fatiar, limpar, desossar.

Os poucos segundos que cada trabalhador levou para realizar esse trabalho cobrarão muito caro no futuro. Não se passam muitos anos até que os primeiros sintomas se manifestem: dores no pulso, pescoço, dedos, cotovelo, ombros... Em pouco tempo tornam-se mais graves levando a casos de tendinite e até perda dos movimentos do braço, ou dedos.

Esse não é um quadro raro: como apresentado no próprio filme, o excesso de risco inerente aos trabalhadores dessa área (frigoríferos de bovinos, suínos e aves) ultrapassa, por vezes, em 700 % o que outros empregados enfrentam em outros ramos. Os números alarmantes se confirmam também na quantidade de fregueses que frequentam centros de terapia ocupacional na cidade: desses, cerca de 80% são trabalhadores da frigorífera, de acordo com o relato de uma das terapeutas.

As implicações desse tipo de esforço vão além das doenças físicas enfrentadas, pois que os empregados desse ramo estão também muito mais suscetíveis a sofrerem transtornos psicológicos, como a depressão. O ambiente de trabalho é rigoroso, e não permite conversas ou mesmo que os funcionários frequentem o banheiro livremente. Além disso, as longas jornadas de trabalho em que executam os mesmo movimentos repetidamente implicam no aumento do nível de estresse e cansaço físico dessas pessoas.

Diante desses fatores, é claro que o resultado não poderia ser outro: emprega-se uma população carente de estudos e direitos em um serviço braçal, estressante e o resultado é uma população pobre, super explorada, doente e incapacitada pra qualquer outro trabalho.

Entre os depoimentos de ex-funcionários e a rotina de produção, uma série de especialistas relata a problemática não só de como é exercido esse trabalho, mas como é difícil para a Justiça Trabalhista proteger e garantir os direitos desses indivíduos. Não puramente por conta da legislação trabalhista, que busca dirimir os casos de abuso e super exploração, tornando a relação de trabalho mais equilibrada; mas principalmente pelo silêncio dos funcionários e ex-funcionários.

A relação de poder que há entre a empresa frigorífera e seus funcionários fica muito nítida em um dos inúmeros casos apresentados, no qual uma ex-funcionária, consciente dos seus direitos, diz que não procurará a Justiça com medo de que seus filhos, que trabalham na mesma empresa, sofram retaliação.

Como boa parte da população é carente de educação e permanece na cidade, tornam-se a principal mão-de-obra dessa indústria, que acaba por, cada vez mais, ter controle sobre a população. Formando-se nitidamente uma relação desigual, em que os altos riscos custam o sentido da vida desses trabalhadores.

No final, eles acabam muitos similares ao produto que manejam: seguem em esteira de produção de suas pacatas casas no interior para o trabalho dentro da fábrica, onde se especializarão – fatiando, limpando, desossando – e sairão igualmente marcados – lesionados, transtornados, doentes.

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