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A GESTÃO HOSPITALAR FRENTE A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA VISÃO PSICO-SOCIAL

Por:   •  25/4/2021  •  Artigo  •  6.593 Palavras (27 Páginas)  •  162 Visualizações

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GESTÃO HOSPITALAR FRENTE A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA VISÃO PSICO-SOCIAL

Lucas Rosa Rebelo

RESUMO

A violência obstétrica é uma realidade que tem ganhado mais visibilidade nos últimos anos, impactando não só na sociedade, mas também nas diretrizes das politicas públicas. Nesse sentido este trabalho se enquadra como uma revisão de literatura onde busca-se, por um lado, esmiuçar o conceito de violência obstétrica e por outro, almeja aferir suas causas destacando o papel da gestão hospitalar em referida realidade. Para tanto, apoia-se no referencial teórico da psicologia social que ilumina as veredas relacionadas ao modus operandi da convivência e enfoca, sobretudo, o poder situacional para a propulsão do comportamento. Foi elaborado dentro da metodologia qualitativa de abordagem descritiva, levando a considerações conclusivas sobre a percepção das envolvidas quanto a eficácia e importância da assistência à mulher e ao neonato em relação ao parto humanizado. Como objetivo secundário a discussão tem a pretensão de levar o debate da violência obstétrica para os demais campos das ciências psico-sociais bem como apontar o real papel do gestor hospitalar no que tange o trato com parturientes.

Palavras-chave: Parto Humanizado. Parturiente. Violência Obstétrica. Gestão.

INTRODUÇÃO

Com o advento do avanço tecnológico, em muitas áreas da medicina houve alterações, e não diferente, na área de obstetrícia este levou a um aumento, em muito partos, de técnicas que envolvem medicamentos e instrumentos que não estimulam a participação direta da mãe à experiência de parir. Fato é que a tecnologia auxilia e muito em estudos científicos alavancando indubitavelmente processos que elevam a qualidade na área da saúde e, em especial, no que se refere a assistência obstétrica, como no caso da cirurgia de cesária, que até pouco tempo era feita em casos extremos, de vida ou morte do feto ou da mãe.

A mulher passa então, do atendimento domiciliar para o hospitalar e concomitantemente ao cirúrgico, mesmo que, em muitos casos sem real indicação. Nestas condições, vendo a grande procura por técnicas cirúrgicas para o parto, a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Ministério da Saúde e outros órgãos não-governamentais, propõe o parto humanizado como forma de resgatar o parto natural, onde entra o trabalho de enfermagem obstetra para assistencializar todo o processo gravídico puerperal, posto que, por muito tempo a assistência à parturiente perdeu foco da mulher-mãe que tem desejos e receios. Assim, “humanizar o parto é respeitar e criar condições para que todas as dimensões do ser humano sejam atendidas: espirituais, psicológicas e biológicas” (LARGURA 2000, p. 61, apud CASTRO e CLAPIS, 2005, p. 2).

A tecnologia e a ciência em muito contribuem na área da saúde e em especial em partos, mas daí a banalizar este feito tornando-o não uma opção em caso de risco e sim comodidade é o que tira a mãe do foco de protagonista desta história.

Diante do contexto acima apresentado, este estudo então, tem relevância no tocante a ser mais um subsídio de pesquisa para profissionais da área da saúde, no que tange seu trabalho, e, em especial, a humanização assistencial para a prevenção e promoção da saúde das gestantes e seus bebês e aferição de como a conformidade social pode ser um propulsor na violência obstétrica. O objeto de estudo foca as causas, por assim dizer, da violência obstétrica enquanto ato social. Como hipótese tem-se que a “conformidade do grupo” e falhas de ‘atribuição’ são alguns dos vetores deste comportamento. Para tanto, foi realizada uma revisão de literatura onde busca-se elencar uma descrição mais precisa sobre a prática da violência obstétrica e um elo para com as teorias da psicologia social.

Este trabalho está dividido em quatro partes, onde, na primeira estão descritos conceitos de parto humanizado, conforme promulgado pela OMS. Na segunda parte destaca-se a questão da violência obstétrica com um foco um pouco maior para o caso brasileiro. Na terceira parte atenta-se a um olhar para a violência obstétrica sob a luz das teorias da psicologia social. Por fim, na ultima parte são traçados breves considerações finais.  

2. A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA (VO)

Ao deparar com a trajetória do parto humanizado detém-se que durante o parto não acontece mais qualquer ato ou intervenção direcionada à parturiente ou ao seu bebê sem o seu consentimento. Contudo, o que acontece, ainda é que, de muitas maneiras, há, ainda o desrespeito à sua autonomia, integridade física e mental, aos seus sentimentos, opções e preferências (VENTURI et al, 2010).

Infelizmente, há profissionais, na área da obstetrícia que não levam em consideração a integridade corporal das mulheres e seu bem-estar emocional, violando seus direitos básicos de mulher incluídos na:

Declaração Universal dos Direitos Humanos; Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos; Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Político; Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher; Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres; Relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos sobre a Prevenção da Morbimortalidade Materna e Direitos Humanos; Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial das Nações Unidas sobre as Mulheres, Pequim 1994 (CARVALHO et al 2012, p. 36).

É sabido que a parturição é tida pela mãe como angustiante, uma vez que:

é um processo fisiológico que tem início e evolução por conta própria: o colo do útero começa a abrir, o útero começa a se contrair, o bebê começa a descer, e tudo vai ficando mais intenso, até que chega o momento do nascimento em si. Todo esse processo pode acontecer de uma maneira confortável, segura e sem intervenções. As contrações do útero, a liberação de hormônios e a passagem pela vagina favorecem o amadurecimento final do bebê, a saída dos líquidos pulmonares e sua melhor adaptação ao mundo (CARVALHO et al 2012, p. 47).

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