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Análise da política internacional: a crise na Ucrânia

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Por:   •  3/9/2014  •  Trabalho acadêmico  •  1.658 Palavras (7 Páginas)  •  316 Visualizações

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Conflitos

Otan na Ucrânia é o mesmo que mísseis em Cuba, diz Moniz Bandeira

Em entrevista à Carta Maior, o historiador Moniz Bandeira fala sobre a crise na Ucrânia, suas implicações geopolíticas e possibilidades de escalada.

"A crise na Ucrânia evidencia e confirma a análise da política internacional, consubstanciada em no meu livro A Segunda Guerra Fria - Geopolítica e dimensões estratégicas dos Estados Unidos (Das rebeliões na Eurásia às África do Norte e ao Oriente Médio). A Rússia não vai tolerar que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estenda sua máquina de guerra às fronteiras da Rússia, nem que posicione um escudo antimísseis nos territórios da Polônia e da República Tcheca". A avaliação é do cientista político e historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira, em entrevista à Carta Maior. A presença da OTAN na Ucrânia, comparou o historiador, representa, para a Rússia, a mesma ameaça que os mísseis em Cuba representavam para os EUA em 1962.

Carta Maior: Qual a sua avaliação sobre os fatos que se sucederam ao plebiscito na Crimeia que decidiu pela anexação dessa região à Rússia?

Moniz Bandeira: Não houve propriamente anexação, mas, de fato e de direito, uma reincorporação da República Autônoma da Crimeia à Rússia, aprovada por 96,77% dos 83,10% dos votantes, uma participação massiva, no referendum convocado pelo Parlamento regional. Essa península permaneceu virtualmente sob a soberania da Rússia, desde o Tratado de Küçük Kaynarca, firmado com o Império Otomano, em 1774, durante do reinado da imperatriz Catarina II, a Grande (1729 –1796). Como lembrou o presidente Vladimir Putin foram os bolcheviques que, após a revolução de 1917, cederam, sem consideração étnica, territórios russos que formam atualmente o sudeste da Ucrânia, para a qual, em 1954, Nikita Khrushiov, secretário-geral do Partido Comunista da URSS, transferiu, por iniciativa pessoal, a Crimeia, juntamente com Sevastópol.

Carta Maior: Qual sua avaliação sobre o atual estágio da crise na Ucrânia?

Moniz Bandeira: Um conhecido meu, que vive em Kiev, relatou, por e-mail, que esses grupos neonazistas, que deram o golpe de Estado, a pretexto de integração com a União Europeia, gritando “democracia” e “liberdade”, continuam a aterrorizar os russos e os e os ucranianos de língua materna russa, bem como os fiéis da Igreja Ortodoxa Russa. Se o governo de Viktor Yanukovych era ruim, corrupto – disse ele - os neonazistas que assumiram o poder são muito piores. São lumpens armados, bandidos, terroristas, e a situação em Kiev continua muito perigosa.

A cidade está fervilhando, com milhares da gangs nazistas, de diferentes movimentos locais, absolutamente ensandecidos e estúpidos. E o banditismo e o terror, que atormentam Kiev, atingem quase todas as regiões da Ucrânia. Nas cidades do leste, principalmente em Donetsk e Lugansk, onde predominam os russos e pró-Rússia, os conflitos com as gangs neonazistas não cessam porque a maior parte da população não aceita e não reconhece o governo instalado em Kiev. A Crimeia é a única região onde a situação é boa, calma, não há banditismo nem terrorismo, porque está sob o controle das tropas da Federação Russa.

Carta Maior: Quais as consequências para a Ucrânia e o Ocidente (Estados Unidos e União Europeia) da reincorporação da Crimeia pela Rússia?

Moniz Bandeira: As consequências são várias e complexas e daí a histeria dos Estados Unidos e da União Europeia. A Crimeia é uma das maiores regiões no Mar Negro para a exploração da gás e petróleo. A produção de gás aumentou, em 2013, cerca de 40%, com a abertura dos campos de Odessa e Stormovoe na Bacia do Mar Negro.

Ao reintegrar a Crimeia à Rússia, o presidente Vladimir Putin deu notável golpe nas pretensões dos Estados Unidos e da União Europeia. Bloqueou o acesso físico de Kiev às virtuais fontes de energia no Mar Negro e assustou as empresas petrolíferas que lá estavam dispostas a investir.

Carta Maior: Na sua avaliação, há o risco de uma escalada militar nesta crise?

Moniz Bandeira: Em uma confrontação militar entre a Rússia e os Estados Unidos há sempre o risco de uma escalação da guerra convencional para o uso de armas nucleares. Daí que um confronto militar entre os Estados e a Rússia afigura-me absolutamente impossível, ademais de que, ao que tudo indica, o eleitorado americano não esteja a favor de qualquer envolvimento na Ucrânia

http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Otan-na-Ucrania-e-o-mesmo-que-misseis-em-Cuba-diz-Moniz-Bandeira/6/30582

O Plebiscito:

Crimeia vota por separação da Ucrânia para reintegrar a Rússia

O Parlamento da Crimeia, região autônoma no sul da Ucrânia, com maioria russa, votou pela secessão nesta quinta-feira (6), com o objetivo de integrar a Rússia. De acordo com a mídia internacional, os parlamentares afirmaram que, caso o país vizinho aceite a medida, os cidadãos da Crimeia poderão decidir sobre o futuro da península através de um referendo, a ser realizado no dia 16 de março.

Apesar do intensificar da retórica de acusação contra a Rússia, em um desenrolar acelerado da crise que atingiu a Ucrânia desde a eclosão dos protestos pró-União Europeia, de contornos predominantemente fascistas, a população da Crimeia, região transferida à Ucrânia em 1954, é composta majoritariamente por russos, cerca de 60% do total.

No final de fevereiro, a derrubada inconstitucional do presidente ucraniano Viktor Yanukovich, respaldada pelo Ocidente, foi o cume na escalada exponencial da crise desde novembro do ano passado, quando o Parlamento ucraniano decidiu suspender o acordo comercial que levaria à integração à União Europeia e, para muitos, a expansão da presença regional da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan), que continua refletindo e discursando sobre o contexto regional através de uma narrativa retrógrada, patente durante a Guerra Fria.

Apesar das demandas que Yanukovich e o presidente russo Vladmir Putin passaram a fazer sobre a garantia feita pela UE, na mediação das negociações entre a oposição de direita e extrema-direita e o governo ucraniano, o “golpe de Estado”, como denunciam ambos os presidentes, tem sido institucionalizado com o respaldo ocidental, embora ocorrido um dia depois de acordo assinado

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