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Celso Furtado - Formação Econômica Do Brasil

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Por:   •  2/2/2015  •  1.685 Palavras (7 Páginas)  •  573 Visualizações

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FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Edição comemorativa – 50 anos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.2

O texto que segue está estruturado em três atos: 1) vida material e afetiva de Formação econômica do Brasil; 2) o porquê do livro ter causado tanto impacto no seu tempo; 3) a razão dele poder continuar a fazer história para quem o percorre depois do governo Lula. Daí a frase que encerra o livro: “sendo assim, o Brasil, ao final do presente século, ainda figurará como uma das áreas da terra em que maior é a disparidade entre o grau de desenvolvimento e a constelação de recursos potenciais” (p. 280). Esta anti-profecia era um chamado para a ação do cientista que acreditava na transformação social. Furtado tornava-se, assim, o primeiro economista a se fazer popular sem cortejar a opinião com linguagem polí- tica, segundo a sagaz observação do historiador Francisco Iglesias. O autor não queria passar a impressão de que o desafio que se tinha pela frente era de pouca envergadura. O estilo elegante e escorreito, avesso a ideologias e passeatas, esmerara-se em demonstrar a lógica implacável do movimento da economia brasileira ao longo da história. Na obra A fantasia organizada, Furtado revela que escrevera Formação econômica do Brasil entre novembro de 1957 e fevereiro de 1958, “nas sobras de tempo que ia furtando ao festival do debate teórico de Cambridge”, onde conhecera Nicholas Kaldor, Piero Sraffa e Joan Robinson, que figuram entre os principais economistas a surfarem na onda da revolução keynesiana. De certa forma, esta obra começou a ser elaborada já em 1948, quando Furtado escreve a sua tese de doutorado na França, A economia colonial no Brasil nos séculos XVI e XVII, cuja publicação devemos ao professor Tamás Szmrecsányi. Mas, segundo este, entre uma obra e outra, uma mutação se processaria: o cientista social interessado tanto em história como em economia cede lugar ao profissional especializado e ao alto funcionário governamental. Ocorre que o Furtado amadurecido não soterra o jovem Furtado com tintas de historiador. A capacidade de se renovar, sem olvidar das suas incursões do passado, é a característica que sobressai no Furtado de Formação econômica do Brasil e em toda a sua obra subsequente. Mas é importante ressaltar que o projeto de Formação econômica do Brasil já estava lançado. No prefácio de A economia brasileira, ele se propõe a responder a seguinte pergunta: “como se forma o fluxo de renda em cada um dos sistemas econômicos que se sucederam no território do país”? Ele também já se preocupa com os fatores que levam a que “esgotadas as possibilidades de crescimento de um sistema, a economia entre num período de transição que pode ser de atrofiamento ou de gestação de um novo sistema”. Faltava apurar o método, adquirir confiança no esforço teórico autônomo e cuidar do estilo de exposição. Era preciso deixar a matéria-prima em banho-maria, partir para outras lutas e depois encontrar tempo para arregaçar as mangas. O método é tudo em Formação econômica do Brasil. O próprio Furtado, sem se referir a sua obra magna, fornece-nos as pistas para a sua dissecação em trabalho apresentado, no ano de 1971, para um colóquio internacional, realizado em Paris, um dos sítios do seu exílio forçado. Fala-nos, então, da relação entre análise econômica e enfoque histórico. Ele pretende “demonstrar” – este é o termo utilizado – que toda a vez que um economista se depara com um “conjunto social complexo”, ele o faz a partir de uma vista global fornecida pela história. Sugere que quando a estrutura conceitual do economista é formulada apenas em nível de elevada abstração, a partir de variáveis quantificáveis, que não dialogam concretamente com a estrutura da vida econômica e social, temos uma sintaxe desprovida de significado e de qualquer potencial para uma ação política transformadora. O que ele se propõe é mais do que um exercício interdisciplinar. Ainda de acordo com Romano, por meio deste “contínuo refluxo entre história e economia, onde a sociologia não está ausente”, Furtado inova, pois o resultado tampouco é histórica econômica no seu sentido mais tradicional. O leitor pode encontrar historiador e economista reunidos, porém redimidos, posto que desprovidos de suas idiossincrasias particulares. Não há nem a exegese do historiador preso a um ponto do passado e nem as receitas mirabolantes dos economistas sábios, suspensos num futuro amorfo. Na economia colonial, o pagamento aos fatores de produção vaza para o exterior, ao passo que a manutenção do escravo também representa custos fixos. Isto não significa que a economia não seja monetária, mas apenas que a renda monetária reverte ao empresário açucareiro e deste para os importadores e financiadores dos bens de capital, revelando a sua natureza meramente contábil. A macroeconomia keynesiana viaja no tempo e no espaço para explicar porque este crescimento com base no impulso externo não poderia engendrar um processo de desenvolvimento auto-propulsor (1959, cap. 9). Paralelamente, não existe crise na economia colonial, ao menos no sentido conhecido pelas economias industriais. Ao arrefecer-se o impulso externo, a atividade açucareira se mantém em virtude dos altos custos fixos, ao passo que a economia criatória, projeção gerada pela demanda do setor açucareiro, desgarra-se do mercado e retorna à subsistência. Para entender isto, explica o Furtado nordestino, “é necessário ter em conta que a criação de gado era em grande medida uma atividade de subsistência, sendo a fonte quase única de alimentos e de uma matéria-prima (o couro) que se utilizava praticamente para tudo” (p. 76-77). O processo mais amplo ajuda a descortinar o real, tornando-o palpável, fazendo com que o olhar do leitor desça para o nível mais básico da vida material. Percebe-se, assim, a constante criação de tipos ideais estilizados, mas que se constroem a partir das diversas experiências históricas. O estilo de exposição procura retirar o máximo do confronto – uma analogia por meio do contraste – entre estes tipos ideais não-estáticos, pois que se referem a diversas trajetórias possíveis de desenvolvimento. Porém, o que quer Furtado é fazer quase uma sociologia econômica das ideias possíveis em cada ponto do tempo e do espaço. E de sobra dá uma estocada no pretenso cosmopolitismo das elites brasileiras em qualquer época. Não à toa, em outra passagem, ele não deixa

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