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Sobreposição entre religião e educação

Por:   •  18/10/2016  •  Artigo  •  5.191 Palavras (21 Páginas)  •  312 Visualizações

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GÊNERO E SEXUALIDADE: TENSÕES E SOBREPOSIÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO FORMAL E RELIGIÃO

                Ingrit Machado Jeampietri de Paiva (PPGCR – UFS)[1]

Daniela Senger (UFS)[2]

RESUMO:

Os preconceitos de gênero e de orientações sexuais aparecem no Brasil como construtos de disparidade escolar e de exclusão. Os recentes impasses para a formulação do Plano Nacional de Educação têm apontado para sobreposições entre os campos educacional e religioso, o que impossibilitou a permanência da meta que pretendia superar as desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual. Este artigo pretende apontar as tensões, sobreposições e cumplicidades entre a matriz religiosa cristã Católica e a educação formal no que tange às questões de gênero e sexualidade, abrangendo as discordâncias entre coletivos sociais e a igreja Católica, passando pela forja da terminologia “ideologia de gênero”. Analisaremos como o poder simbólico religioso propicia a reprodução de preconceitos no espaço escolar.

Palavras-chave: Campo Religioso; Campo Educacional; Gênero; Sexualidade.

 

ABSTRACT:

Gender and sexual orientations bias act as constructs of school disparity and exclusion in Brazil. Recent obstacles to the formulation of the National Education Plan (PNE) have been pointing to overlaps between educational and religious fields; such a situation made it impossible to hold the intended aim to overcome educational inequalities, emphasizing the promotion of racial, regional, gender and sexual orientation equality. This article aims at showing tensions, overlaps and complicities between the Christian Catholic religious matrix and formal education in relation to gender and sexuality issues. The paper will focus on disagreements between social movements and the Catholic Church, looking at the construction of the terminology “gender ideology”. It will also analyze how religious symbolic power contributes to the reproduction of prejudice at school.

Keywords: Religious Field; Educational Field; Gender; Sexuality.

INTRODUÇÃO

Com vistas à formulação do Plano Nacional da Educação (PNE) 2014-2024 houve no Brasil grande disputa pela influência no Campo Educacional. De um lado aqueles que movidos por pesquisas de gênero, movimentos feministas e LGBT, desejavam que a educação tivesse como meta a “superação de desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual”; do outro, coletivos religiosos que denominavam a inclusão desta meta como “Ideologia de Gênero”, que teria como objetivo ensinar às crianças que elas não possuem sexo. Porém, segundo o “Manifesto pela Igualdade de Gênero na Educação”, “falar em uma educação que promova a igualdade de gênero não significa anular as diferenças percebidas entre as pessoas (o que tem sido amplamente distorcido no debate público), mas garantir um espaço democrático onde tais diferenças não se desdobrem em desigualdades”. (MANIFESTO, 2015)

O posicionamento deste Manifesto apresenta-se coerente com inúmeras pesquisas que apontam para a violência, o preconceito e a evasão escolar como parte de construtos sociais firmados nas desigualdades de gênero e distanciamentos sociais. Corroborando nesta perspectiva podemos citar o “Estudo sobre Ações Discriminatórias no Âmbito Escolar” realizada pela Fundação Instituto de Pesquisa Econômicos (FIPE, 2009) em 501 escolas de todo território Nacional.

A pesquisa apontou que “os maiores valores para o índice ponderado percentual de concordância com as atitudes discriminatórias foi a que exprime a discriminação em relação a gênero (38,2%)” (FIPE, 2009, p. 6), e que, o maior índice (72%) de distanciamento social é em relação a pessoas homossexuais.

O quadro torna-se mais alarmante ao apresentar que quanto maior a participação em uma instituição religiosa, há uma elevação de 2% para o preconceito de gênero, geracional e territorial e de 6% para preconceito em relação à orientação sexual (Idem, p. 340), e que, “respondentes de outras religiões que não a católica ou a evangélica (budista, candomblé, umbanda, espírita, judaica, muçulmana e outras) apresentaram os menores valores para as atitudes e para as distâncias sociais.” (Idem, p. 10). Estes dados somados à mensuração comparada com a Prova Brasil 2007, onde foi constatado que quanto maior o índice de preconceito menor a nota dos alunos (Idem, p. 347) apontam para a sobreposição entre o Campo Religioso e Educacional que propicia não somente preconceitos com também prejuízo para os educandos.

Tendo em vista a sobreposição do Campo Religioso no Educacional e suas consequências negativas ao forjar pré-conceitos sobre gênero e sexualidade é relevante levantarmos nossos olhares para as disputas e cumplicidades dos agentes sociais em torno do PNE. Partindo desta perspectiva este artigo pretende observar as tensões, sobreposições e cumplicidades entre Campo Religioso e Educacional. No primeiro instante apontaremos as discordâncias entre coletivos sociais que buscam a promoção da igualdade de gênero e de sexualidade Vs Igreja  Católica[3] –  , passando pela frágua da terminologia “ideologia de gênero”, para, enfim, analisar como a transmutação do poder simbólico religioso em capitais culturais propicia a reprodução de preconceitos no espaço escolar.

  1. TENSÕES E CUMPLICIDADES

No ano de 2014 foi aprovado o PNE (2014-2024), documento que apresenta diretrizes e metas para a educação em todo território nacional. As pautas de discussão para sua formulação foram as mais diversas respeitando as demandas necessárias para uma educação democrática e integral, como: estrutura, financiamento, plano de carreira, metas, entre outras, abrangendo ainda questões mais polêmicas como justiça social, direitos humanos, meio ambiente, democratização do acesso, controle social dos recursos etc. Porém, a mais polêmica das discussões girou em torno da meta que previa a superação das desigualdades educacionais com ênfase na “promoção da “igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual”, expressão substituída por “cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação”. (BRASIL-PNE. 2014, p. 22).

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