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Perspectivas de Ensino no Museu da Inconfidência

Por:   •  9/9/2022  •  Artigo  •  1.796 Palavras (8 Páginas)  •  85 Visualizações

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Perspectivas de ensino no Museu da Inconfidência em Ouro Preto – MG

Guilherme Vidmantas

Graduado em História

Universidade Federal de Ouro Preto

vidmantasguilherme@gmail.com

Resumo: Os estudos decoloniais tem se tornado cada vez mais presentes dentro dos debates acadêmicos e das discussões cotidianas, mesmo que as pessoas não se deem conta dessa presença. Dessa forma, se torna necessário pensar estratégias e alternativas para a incorporação dessas discussões no ensino da história. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é uma reflexão de como trabalhar a decolonialidade em um ambiente tão complexo quanto esse museu. Como transformar a narrativa apresentada pelo museu em outra subvertida? Em outro discurso que valorize o papel das etnias que, desde a colônia, vem sendo colocadas em posição de inferioridade?

        Um dos elementos principais da proposta é a utilização do conceito de “visita mediada” para buscar significados novos e subvertidos para o acervo em exposição. A visita mediada possui um caráter de “decodificação” da exposição, o mediador faz um intermédio entre o visitante e os objetos, além disso, considera a perspectiva do próprio visitante como fator essencial para o desenvolvimento do roteiro, em contraposição da tradicional visita guiada, que representa aquele tradicional passeio pelo museu no qual é somente apresentado os objetos, seus usos e algumas vezes sua história.

        O trabalho utiliza como base diversos textos e artigos que abordam temas como a decolonialidade e colonialidade, assim como os impactos que esses dois conceitos implicam nos estudos acadêmicos, nas práticas culturais e no cotidiano da sociedade. Para além dessas fontes, também é trabalhado referenciais teóricos na área de museologia e educação museal.

Palavras-chave: Museu, Educação museal, Ensino de história, Mediação;

INTRODUÇÃO

O Museu da Inconfidência reside na cidade de Ouro Preto, Minas Gerais. Seu prédio foi construído entre 1785 e 1855, originalmente para funcionar como Casa de Câmara e Cadeia de Vila Rica. Em 1942, exercendo uma política de exaltação da nacionalidade e da república, Getúlio Vargas inaugura o “Panteão”, onde estão guardados os restos mortais dos “inconfidentes”, e no ano seguinte inaugura toda a exposição do Museu da Inconfidência. Desde então, a exposição passou por algumas alterações, inclusive uma significativa reforma no ano de 2006.

        Após uma pequena análise, é possível perceber que o Museu da Inconfidência está imerso na colonialidade em pontos muito além de sua história, paredes e adornos. A museóloga Brenda Caro Cocotle, em seu artigo Nós prometemos descolonizar o museu, afirma que o museu, enquanto instituição moderna, tem sua razão de ser na lógica colonial, e uma das formas de expressão dessa colonialidade é a “vinculação com a narrativa do Estado-nação”[1], ou seja, a preferência dada por diversos museus à um discurso oficial, à uma “história única”.

        Seguindo esse raciocínio, identifica-se raízes coloniais muito fortes no Museu da Inconfidência, pois, apesar de ter sido idealizado no século XX e criado para exaltar a república, que supostamente rompeu definitivamente com as nossas heranças coloniais, é evidente que o Museu corrobora uma versão oficial e definitiva da história: ele exalta a Inconfidência Mineira e seus participantes como heróis e mártires da pátria; acima de todos eles está Tiradentes, a “vítima fatal da terrível Coroa portuguesa”, o militar que se sacrificou pelo Brasil e idealizava um futuro melhor para nação. Dessa forma, a exposição permanente do museu ouro-pretano ignora quase completamente o papel dos povos indígenas e dos africanos escravizados no processo de formação da cidade.

        Porém, o objetivo desse trabalho não é uma discussão acerca da colonialidade ou não do Museu da Inconfidência, mas sim, uma reflexão de como trabalhar a decolonialidade em um ambiente tão complexo quanto esse museu. Como transformar a narrativa apresentada pelo museu em outra subvertida? Em outro discurso que valorize o papel das etnias que, desde a colônia, vem sendo colocadas em posição de inferioridade?

        Afinal, o papel educativo dos museus tem se tornado mais importante desde o século XX e principalmente nas últimas décadas. Isso ocorre devido à uma busca pelos próprios museus de se tornarem mais acessíveis ao público geral, o que se difere muito de séculos passados, nos quais os museus recebiam um público mais específico, de acadêmicos e pessoas que utilizavam esses espaços como “centros de pesquisa”. Sendo assim, além de ser necessária uma linguagem mais acessível, explicativa e pedagógica entre o museu e seus públicos, também é imperativo que o discurso, que a narrativa apresentada se relacione com esse público, para que o museu efetivamente possa aproximar as pessoas da história de seu país, de seu povo e de sua própria história.

VISITA MEDIADA E DECOLONIALIDADE

        A hipótese que este trabalho gostaria de levantar é baseada no livro Educação em Museus: a mediação em foco, organização de Martha Marandino[2], no qual os autores expõem a importância de uma “visita mediada”, ao invés da tradicional visita guiada. A visita guiada é aquele tradicional passeio pelo museu no qual é apresentado os objetos, seus usos e algumas vezes sua história. Já na visita mediada, há um papel de “decodificação” da exposição, o mediador faz um intermédio entre o visitante e os objetos, além disso, considera a perspectiva do próprio visitante como fator essencial para o desenvolvimento do roteiro.

        Ou seja, como muitas vezes alterar a exposição ou os textos explicativos, o uso de recursos midiáticos ou visuais, não está ao alcance do professor, talvez a mediação seja a melhor saída para as limitações pedagógicas impostas pelo museu e pela própria exposição.

        Pode-se usar como exemplo a “Sala das Origens”, a primeira sala do Museu da Inconfidência. No contexto dessa sala é possível perceber uma intenção da museografia em mostrar o início da “civilização” na região do ouro, porém, essa origem é representada com enfoque na civilização portuguesa e europeia, deixando de lado os povos originários, como é possível ver na imagem abaixo:

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