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A Literatura Em Busca De Um Conceito

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Por:   •  26/6/2014  •  2.466 Palavras (10 Páginas)  •  509 Visualizações

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A Literatura em busca de um conceito.

Alan Ricardo de Amorim

Resumo

O objetivo do presente artigo é o de realizar uma reflexão acerca da natureza e da função da literatura como meio de aquisição de conhecimento e humanização do leitor. Para tanto, serão expostas e analisadas algumas teorias de alguns dos mais importantes estudiosos do assunto na atualidade.

Palavras-chave: Teoria da Literatura / Literatura/ Conceito

Desde os primeiros tempos em que o homem começou a estudar a arte por ele mesmo produzida, a questão sobre concepção e função da literatura tem sido assunto de muitas controvérsias. Durante o processo de evolução cultural do homem, muito se tem discutido a respeito do assunto aqui abordado. Sabe-se, pois, que, em cada época literária, são atribuídas à literatura natureza e funções distintas, condizentes com a realidade cultural e, portanto, social, da época.

As pesquisas realizadas no projeto de iniciação científica O Ensino da Literatura: teoria e prática, levaram ao estudo de conceitos e funções atribuídos à literatura por teóricos do século XX, uma vez que são esses conceitos aceitos mais amplamente que aqueles formulados por teóricos de outras épocas.

As pesquisas iniciaram-se por uma leitura crítica da obra do semiologista francês Roland Barthes, intitulada Aula (BARTHES, 1978). Esta obra é a edição em livro de sua aula inaugural, ministrada pela ocasião de sua elevação à Cátedra de Semiologia no Colégio de França. Tem ela um caráter essencialmente formalista, uma vez que expressa a opinião de um estudioso da linguagem e não da literatura. Mas, como tal, Barthes demonstra um amplo conhecimento no campo da linguagem e, como não poderia deixar de ser, de uma de suas vertentes: a linguagem literária.

Roland Barthes tem, da linguagem, uma visão eminentemente social e vê, nela, a expressão do puro poder social a que todos estamos submetidos: Esse objeto em que se inscreve o poder, desde toda eternidade humana, é: a linguagem – ou, para ser mais preciso, sua expressão obrigatória: a língua. (BARTHES, 1978:12). Barthes vê, pois, na língua, um objeto de submissão e, fatalmente, de alienação. Diz ele que, por estarmos todos aprisionados irremediavelmente às estruturas lingüísticas, uma vez que devemos nelas enquadrar nossos pensamentos, somos todos escravos da língua. Diz ainda: ...a língua, como desempenho de toda linguagem, não é nem reacionária, nem progressista; ela é simplesmente: fascista; pois o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer. (id., ib., p. 14). Dessa forma, de acordo com a teoria de Barthes, uma vez que a língua leva à aceitação obrigatória de suas estruturas para a completa comunicação, ela faz parte de uma estrutura de poder a qual todos estão submetidos, obrigados.

O ser humano parte sempre, e todas as suas ações o dirigem para tal caminho, em busca da liberdade. Então, quando se considera que a liberdade é uma desvinculação total do poder a que se é submetido, dentro do universo lingüístico não há maneiras de ser livre. Só resta, pois, ao homem, a fuga da linguagem por meio de uma trapaça lingüística utilizando-se da própria língua: Essa trapaça, salutar, essa esquiva [...], eu a chamo, quanto a mim: literatura. (id., ib., p. 16).

A concepção de Roland Barthes de que a literatura é a utilização da linguagem não submetida ao poder, deve-se ao fato de que a linguagem literária não necessita de regras de estruturação para se fazer compreender. Enquanto a utilização da linguagem cotidiana requer uma estrita obediência de sua estrutura – deve-se enquadrar o pensamento nas estruturas lingüísticas, para que haja uma perfeita comunicação -, a linguagem literária não obedece a qualquer regra estrutural fixa. O autor, que se utiliza dessa linguagem, não é obrigado a emoldurar seus pensamentos nas estruturas lingüísticas; ele é livre para escolher e criar uma estrutura própria, que proporcione a ele uma clara expressão de seus sentimentos e idéias. Assim, construindo o texto de acordo com seus próprios desejos, o escritor consegue que sua criação tenha uma novo valor – passa da simples utilização comunicativa da linguagem à uma utilização artística da mesma – e um novo poder. O poder assumido pela nova linguagem é um poder ligado ao novo valor artístico. A linguagem literária assume aspectos de representação e demonstração. Através dessa linguagem, pode-se refletir sobre a própria língua com liberdade. A linguagem literária permite que as palavras assumam vida própria, com novas significações que não aquelas a elas conferidas usualmente. A linguagem passa a ter “sabor”. Enquanto no discurso científico a linguagem é direta e não permite ambigüidades, na linguagem literária as palavras assumem novos significados e representações.

Como se verá mais adiante, uma das funções da literatura é a representação do real. Esta representação, no entanto, é feita de um modo especial, uma vez que o real não pode ser plenamente representado em um plano unidimensional por ter uma natureza distinta, pluridimensional. Assim, Barthes diz que a literatura é utópica, pois permite a criação de novas realidades, conferindo às palavras uma verdadeira heteronímia das coisas. Essa heteronímia pode ser melhor entendida quando se pensa que esta linguagem, como já dito anteriormente, é livre para conferir novos significados às palavras. Ela joga com os signos ao invés de reduzi-los a um universo já determinado.

Como dito acima, a literatura tem como uma de suas funções a representação do real. Assim é que o crítico e sociólogo Antonio Candido constrói o seu conceito de literatura:

A arte, e portanto a literatura, é uma transposição do real para o ilusório por meio de uma estilização formal da linguagem , que propõe um tipo arbitrário de ordem para as coisas, os seres, os sentimentos. Nela se combinam um elemento de vinculação à realidade natural ou social, e um elemento de manipulação técnica, indispensável à sua configuração, e implicando em uma atitude de gratuidade.. ( CANDIDO, 1972:53).

Na citação acima, Candido fala da indispensável presença de um elemento de manipulação técnica, o qual é fator determinante para a classificação de uma obra como literária ou não. Esse elemento, entende-se, é a linguagem classificada por Barthes como a linguagem literária, a qual estabelece uma nova ordem para as coisas representadas, mantendo uma ligação com a realidade natural. Embora a literatura permita a criação de novos universos, esses são baseados, ou inspirados,

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