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Ensaio Contra Acadêmicos

Por:   •  11/5/2015  •  Resenha  •  2.871 Palavras (12 Páginas)  •  347 Visualizações

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Ensaio PRELIMINAR

A “academia” de Platão passa por dois períodos distintos. No primeiro, a atmosfera de que se nutriu foi a certeza que a filosofia possibilita conhecer verdades inteligíveis. No segundo período, sob a orientação de Arcesilau, a academia não se nutre mais daquela certeza. A profunda mudança deve-se a uma disputa contra Zenão de Citium em torno da possibilidade do conhecimento que obrigou o acadêmico Arcesilau a ensinar que é impossível conhecer as verdades filosóficas. Assim nasce a “nova academia” cujo espírito predominante será cético. Ceticismo que se dirige especificamente contra a base do conhecimento proposta pelo ex-acadêmico e fundador do estoicismo. Como resposta ao problema proposto pela nova academia, Zenão afirmará que a base do conhecimento é o que ele denominou de phantasia kataleptiké.  

Agostinho ver-se uma reabilitação daquele o ensino da antiga academia. Fases

1 Introdução

O “Contra Acadêmicos” segue a tradição de escritos em forma de diálogo que tem como percussores Platão e Cícero. Nele, Agostinho expõe sua versão do ceticismo da nova academia, tendo como base a obra ciceroniana intitulada de “Primeiros Acadêmicos”.  

Incumbido de familiarizar Licencio e Trigêncio nas questões filosóficas, como exercício filosófico, Agostinho faz uma exposição critica da posição dos acadêmicos contra as teses de Zenão de Citium, ex-aluno da academia e fundador da corrente filosófica denominada de estoicismo.  Talvez por isso, na introdução do “Contra Acadêmicos”, Jovilet diz-nos que Agostinho não expõe uma doutrina filosofia propriamente sua (JOVILET, 1948, 11).

No entanto, essa afirmação parece limitar o “Contra Acadêmicos” a uma mera reconstrução histórica do debate estóico-acadêmico. Uma leitura cuidadosa deverá revelar que não se trata de uma mera reconstrução do debate em torno do projeto que visa determinar se algo pode ser conhecido. É inegável que Agostinho faça essa reconstrução histórica; não obstante, ele o faz para discutir criticamente a postura dos acadêmicos e propor soluções para determinar o conhecimento de algo.

Recém convertido à fé católica que assegura a possibilidade de alcançar um conhecimento verdadeiro, Agostinho familiarizado – via Cícero – com o ceticismo acadêmico sentiu-se instigado a estabelecer limites para o ceticismo acadêmico contra a possibilidade do conhecimento. A afirmação de que pela fé é possível alcançar a verdade soa aos ouvidos dos céticos, em especial dos acadêmicos, como um projeto pretensioso que jamais poderá ser atingido. A dúvida acadêmica não só pulveriza essa afirmação, como também interdita as questões que a fé põe como verdadeiras. Não é por acaso que Agostinho empenha-se em dar uma resposta aos acadêmicos. A partir de um minucioso exame da definição de Zenão essa resposta virá. E gradativamente conduzirá Agostinho a combater o ceticismo acadêmico em seu próprio domínio. No entanto, o projeto de Agostinho revela uma dificuldade que precisa ser superada, a saber: a difícil tarefa de não dar azo às teses dos estóicos, por mais plausíveis que elas sejam. Sendo mais específico, Agostinho deverá evitar um compromisso com uma “epistemologia empirista”, para usar aqui uma expressão de Dutton.

Compreende-se que são, pois, dois movimentos no interior do “Contra Acadêmicos” que expõe a disputa entre acadêmicos e estóicos em torno da possibilidade do conhecimento. Visto dessa maneira, a obra configura-se como uma reconstrução histórica do debate. Mas a definição de Zenão e o exame minucioso dessa definição empreendido por Agostinho, que nos interessa, constituem-se o fio condutor a partir do qual o autor do “Contra Acadêmicos” terá o ensejo para investigar as condições para o conhecimento. Se estivermos certos, tal empreendimento concederá a obra de Agostinho um passo além daquele dito como mera reconstrução histórica.

2 o Contra Acadêmicos

2.1 estrutura do Contra Acadêmicos 

Acerca do Contra Acadêmicos (c. acad.) pode-se dizer que ele é composto por três livros a respeito dos quais destacamos três premissas fundamentais. A premissa vital no livro I é a afirmação de que o homem sábio é feliz porque vive segundo a razão. Conectado a esta premissa está discussão da natureza do erro e da sabedoria. Agostinho pergunta aos seus alunos, Trigêncio e Licencio, se a sabedoria consiste em encontrar a verdade ou tão-somente buscá-la diligentemente, tal como os acadêmicos aconselham. O problema de determinar se o sábio deve possuir ou tão-somente buscar diligentemente a verdade revela que o pano de fundo da discussão é a opinião acadêmica acerca da possibilidade do conhecimento. De fato, o livro II tem como premissa fundamental a “afirmação” acadêmica de que não se pode conhecer algo. Em conseqüência, o sábio não deve dar seu assentimento a nada, restando a ele tão-somente a busca diligente da verdade sem pretender jamais alcançá-la. A objeção à posição dos acadêmicos será desenvolvida por Agostinho no livro II e III, tendo como núcleo articulador a definição de Zenão em razão da qual a academia adota uma postura cética. Para Agostinho o sábio necessariamente conhece. Por isso, nosso autor irá combater, a partir da definição de Zenão, as duas premissas fundamentais dos céticos acadêmicos, a saber, “nada se pode perceber” e “em nada devemos assentir”.

3 O ceticismo acadêmico

3.1 Apresentação geral do ceticismo

A versão do ceticismo acadêmico aparece nos dois livros de Cícero intitulados de Acadêmica. Especificamente no “Academicorum Priorum”, numa “disputatio” com Lucúlio, Cícero expõe a doutrina da academia. Como é sabido, em Roma, no ano de 88-85, Cícero teve contato com os problemas do ceticismo acadêmico via Filo de Larissa e em Atenas, no ano de 79, com Antíoco de Ascalon. Foi Filo que, ao defender a nova academia, usou a tese de Carnéades de que nada pode ser percebido para opor-se ao dogmatismo dos estóicos. Carnéades (214/213 – 129/128 a.C.) ensinou um método de argumentar em favor e contra toda questão.

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