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Um Sopro De Vida - Resenha

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Por:   •  30/9/2013  •  1.485 Palavras (6 Páginas)  •  2.975 Visualizações

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INTRODUÇÃO

Um Sopro de Vida (Pulsações) foi iniciado em 1974 e finalizado em 1977, pouco antes da morte da escritora Clarice Lispector. Foi organizado por uma amiga da escritora, Olga Borelli, que se tornou uma das maiores estudiosas de sua obra.  Este romance transporta o leitor por um universo de criação dos autores literários, em que a personagem principal, é uma criação de outra personagem, conhecido apenas como “autor”, este nos fala sobre o processo de construção de uma certa personagem. Ou seja, a personagem construída pelo autor é quase um ente do mundo real para ele, com a qual ele conversa e discute sobre as questões do cotidiano dela (Silva, 2012).

O romance, que é dividido em três partes - O sonho acordado é que é realidade; Como tornar tudo um sonho acordado? e Livro de Ângela – que não tem sequência narrativa, conta a história de um homem-escritor que cria uma personagem – Ângela Pralini – que vem a ser seu “eu inconsciente”, a imagem da personalidade do próprio autor, como é verificado: “Tive um sonho nítido inexplicável: sonhei que brincava com o meu reflexo. Mas meu reflexo não estava num espelho, mas refletia uma outra pessoa que não eu” (p.27). (Silva, 2010).

O presente ensaio tem como objeto de estudo a construção da personagem do romance um sopro de vida de Clarice Lispector. Tem a finalidade de analisar a criação do “autor”, Ângela Pralini, e o elo existente entre eles. Para tanto, será abordado a questão d “eu inconsciente”, ligação com Deus, e a imagem reflexiva desta personagem.

CONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM ÂNGELA PRALINI EM RELAÇÃO AO “AUTOR”

A construção de uma personagem não é uma tarefa fácil e é fundamental para o romance. São levados em consideração, a mensagem a ser passada e o processo de fusão entre autor e personagem, além da linguagem que ela utilizará, entre outros.

A personagem principal, criada por outra personagem denominada “autor”, foi desenvolvida como um refúgio deste, que em alguns momentos no decorrer do romance, se confunde com um “eu feminino”. Eles possuem algumas semelhanças e particularidades como o fato de serem ambos escritores. Em determinados momentos o “autor” refere à Ângela como um reflexo no espelho, o que reforça a ideia de fusão entre os dois.

Ângela Pralini, que foi criada pelo escritor sem nome, também cria obras e além de ser sua protagonista, também é seu “eu” inconsciente que representa a imagem de sua personalidade. Isso pode ser confirmado no trecho (Silva, 2012):

Tive um sonho nitido inexplicável: sonhei que brincava com o meu reflexo. Mas meu reflexo não estava num espelho, mas refletia numa outra pessoa que não eu. Por causa desse sonho é que inventei Ângela como meu reflexo? Tudo é real, mas se move va-ga-ro-sa-men-te em câmara lenta. Ou pula de um tema a outro, desconexo. (Lispector,p.27).   

Ângela Pralini é uma personagem indispensável ao “autor” pois ele dela necessita, nela ele se vê. Ela é uma imagem do seu próprio “eu”, que precisa se apoiar no igual para suprir suas frustrações. Da mesma forma, a personagem se mostra dependente dele, formando assim um elo quase que indestrutível.

De acordo com Lígia Silva, Ângela representa uma necessidade para o autor (“... Ângela é minha necessidade”), pois ela é a forma encontrada por ele de expurgar seus sentimentos e seus impulsos (Silva, 2010). Esse autor ainda salienta que a personagem é tudo que o “autor” gostaria de poder ser, em todos os sentidos, que pode ser evidenciado abaixo:

[...] Ângela não sabe que é personagem. Aliás eu também talvez seja o personagem de mim mesmo. Será que Ângela sente que é um personagem? Porque, quanto a mim, sinto de em quando que sou o personagem de alguém. É incômodo ser dois: eu para mim e eu para os outros. Eu moro na minha ermida de onde apenas saio para existir em mim: Ângela Pralini. Ângela é minha necessidade. (Lispector, p.29)

Ângela é o meu personagem mais quebradiço. Se é que chega a ser personagem: é mais uma demonstração de vida além-escritura como além-vida e além-palavra. Amo Ângela, porque ela diz o que não tenho coragem de dizer porque temo a mim mesmo? Ou porque acho inútil falar? Porque o que se fala se perde como hálito que sai da boca quando se fala e se perde aquela porção de hálito para sempre. (Lispector, p.38)

Outro aspecto relevante a ser demostrado é a relação que a personagem tinha com Deus. Ora evidencia uma vontade de se afastar dele, ora parece ter uma dependência fora do comum. Essa Ligação, talvez tenha origem na própria Clarice Lispéctor, já que lutava contra um câncer durante a escrita do romance.

Segundo Maria Ribeiro, a presença de Deus é constante nesta obra. Ângela Pralini busca uma vida com a ausência de Deus e acaba revelando este desejo através de uma prece (Ribeiro, 2011). O trecho a seguir demonstra o nervosismo por um encontro com Deus e inverte a relação Deus - homem:

Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faça com que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase.[...]Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.[...] Receba em teus braços o meu pecado de pensar.(Lispecor, p. 152)

A personagem Ângela vai ao encontro de Deus, como uma entrega ao Criador. “Eu clamo pela absolvição! Oh Deus poderoso, me perdoe a minha vida errada e de péssimos hábitos de sentir.[...]Oh

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