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AMBIENTE RURAL E DIVERSIDADE CULTURAL EM MINAS GERAIS

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Por:   •  5/10/2013  •  1.481 Palavras (6 Páginas)  •  607 Visualizações

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AMBIENTE RURAL E DIVERSIDADE CULTURAL

EM MINAS GERAIS

Vitor Vieira Vasconcelos

Doutorando em Geologia pela Universidade Federal de Ouro Preto

Consultor Legislativo de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais

Belo Horizonte, Minas Gerais, Julho de 2009

Quando compramos nossos alimentos no supermercado, assim como quando vestimos nossas roupas no dia-a-dia, nem sempre costumamos refazer o caminho que estes produtos percorreram para chegar até nós, e menos ainda sobre o lugar onde se dá a produção inicial da matéria que o constitui. Se nos predispusermos a percorrer esses elos, chegaremos, por fim, às várias regiões agropecuárias, onde agricultores e pecuaristas se empenham para extrair da terra a base que sustenta toda a população humana, ou seja, seus alimentos e toda uma sorte de matérias-primas.

Esse é o convite que esta nota faz ao leitor, empreendendo esta viagem pelo território mineiro e descobrindo como se dá essa importante relação entre o homem e a natureza, a que denominamos agropecuária. O que se pretende, como logo se verá, é apresentar Minas Gerais como uma grande pintura, onde cada região possui seus matizes e arranjos especiais, contribuindo para a riqueza do arranjo final. Mais do que isso, vê-se não se tratar de uma obra pronta, mas sim do trabalho de um pintor deveras inquieto, onde novos padrões e paisagens tomam, aos poucos, o lugar de antigas disposições, em busca de atender aos ensejos de seu povo. Comecemos, pois, dos grandes contrastes, para que se tenha idéia da diversidade que nos espera.

A título ilustrativo, imaginemos Tonho, habitante do Vale do Jequitinhonha, nos ermos do Nordeste de Minas Gerais. Sob o sol forte, labuta na plantação de cana, à baixada do ribeirão, intercalando a entoação de cantigas tradicionais e orações para São Pedro, já pedindo pela água dos céus que inicia a escassear. Ao fim da tarde, recolhe um gado que cria à solta nos chapadões e que, em breve, se tornará carne seca. Com a cachaça do alambique e a sobra da carne, já dá para trocar e vender algo nos vilarejos, como o que há de se agüentar a estiagem que se anuncia. Ainda mais porque é a alternativa derradeira, única esperança de sobrevivência, como sempre foi e, se Deus permitir, haverá de ser.

Bem diferente é a situação de Márcio. Da janela do escritório em sua casa, observa as extensas plantações de soja, que se perdem no horizonte, recebendo a interminável chuva dos pivôs de irrigação. No computador à sua frente, múltiplas janelas se sobrepõem, informando dados de cotações financeiras internacionais, previsões climáticas e boletins especializados. Todavia, o momento de contemplação é curto, pois o alarme do relógio relembra dos compromissos com outros produtores, que se organizam para tentar novamente renegociar as dívidas com o governo. Por um breve instante, enquanto disca um número no telefone, perpassa sua mente a recente notícia de uma praga que se aproxima, e que vem lhe tirando o sono nos últimos dias.

Os dois personagens apresentados são exemplos emblemáticos de duas situações bastante díspares, mas que coexistem em nosso território. A história de Tonho é vivida, de modo semelhante, por pequenos produtores familiares tradicionais, mormente no Nordeste de Minas Gerais, mas também dispersos por todo o restante do estado. Utilizando-se de métodos arcaicos de produção e, também, de um conhecimento e cultura passados de pais para filhos, esses núcleos familiares vivem, ainda, afastados das inovações e benesses da sociedade moderna e formam verdadeiros bolsões de pobreza. Marginalizadas historicamente, regiões como o Vale do Jequitinhonha continuam fora do alcance de fluxos de modernização que se estenderam por outras regiões do país. Embora tenham importância produtiva local, é um grande desafio contornar o atraso produtivo dessas regiões, em relação às áreas mais desenvolvidas de Minas Gerais.

Sem dúvida, trata-se de uma circunstância conjuntural bem diferente das áreas de frente agrícola tecnológica do Triângulo e Noroeste de Minas Gerais, ilustradas com a situação vivenciada pelo agricultor Márcio. Inseridos em um mercado competitivo de commodities agrícolas, tais agricultores necessitam estar sempre munidos de tecnologias de produção de ponta, de modo a manter a viabilidade econômica dentro das cada vez mais estreitas margens de lucratividade. Tão estreitas que, conjugadas aos altos riscos inerentes à atividade agropecuária, assim como aos investimentos vultosos em maquinaria e insumos, só tornam esse negócio atrativo quando é exercido em grandes escalas de extensão e com um aproveitamento máximo dos recursos naturais disponíveis. Essa forma de produção resultante tem levado a uma forte pressão sobre os ecossistemas nativos que ainda restam nessas regiões, assim como em um aumento abrupto no uso de recursos hídricos com fins de irrigação.

Mas a diversidade do quadro paisagístico da agropecuária mineira apresenta muitas outras faces. A visão apresentada por este texto remanesceria incompleta caso não abarcasse, por alto, que seja, as circunstâncias peculiares do Norte, Centro e Sul de Minas Gerais. Transitando entre as tintas do moderno e do tradicional, do micro e do grande, do familiar e do empresarial, cada um desses lugares mostrará novos retratos tomados na ocupação agropecuária.

A região Norte de Minas Gerais se caracteriza por grandes propriedades dos tradicionais “coronéis”, onde predomina há muitas décadas a pecuária extensiva. O brilho e o status dos grandes fazendeiros, característica das antigas sociedades de matriz rural, já reluz com bem menos esplendor, em uma sociedade e cultura cada vez mais centralizadas nos

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