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Por:   •  4/2/2015  •  Projeto de pesquisa  •  4.229 Palavras (17 Páginas)  •  176 Visualizações

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Introdução

Por muito tempo, e ainda hoje, a sociedade encarou o edifício hospitalar como sendo um local de doença, morte, angústia, entre outros sentimentos. Entretanto, segundo De Góes (2004) (1) a palavra hospital vem do latimhospitalis, adjetivo que significa “ser hospitaleiro, acolhedor, que hospeda” derivado de hospes, que quer dizer hóspede, estrangeiro, viajante. Durante a Idade Média, o hospital serviu basicamente para isso: hospedar doentes, viajantes e pobres. E a função de curar? Nesse período, essas instituições serviam basicamente como asilo tendo por objetivo somente o isolamento de pessoas doentes ou pobres do convívio com o restante da sociedade, evitando, desta forma, riscos sociais e epidemiológicos. A função da cura e do tratamento não existia e a “medicina” – entendida em sua concepção atual – não era realizada: tratava-se apenas do fornecimento de um abrigo e do estabelecimento de uma rotina.

A concepção do hospital como local de tratamento é relativamente recente. A partir do século XVIII, com o Iluminismo e a Revolução Industrial, constrói-se uma nova visão sobre o homem e a natureza. A crescente especialização das ciências e a ampliação dos conhecimentos neste período contribuíram para a busca do melhoramento das condições sanitárias, tendência que foi intensificada ao longo do século XIX. Logo, é no século XVIII – por volta de 1770, quando a doença passa a ser reconhecida como fato patológico – que o hospital se torna um instrumento de cura.

“O hospital como instrumento terapêutico é uma invenção relativamente nova, que data do final do século XVIII. A consciência de que o hospital pode e deve ser um instrumento destinado a curar aparece claramente em torno de 1780 e é assinalada por uma nova prática: a visita e a observação sistemática e comparada dos hospitais.” (2)

A percepção deste equipamento como componente integrante do processo da cura leva a uma progressiva especialização de seus espaços. Questões relativas à distribuição espacial de seu programa e de seus fluxos tornam-se, paulatinamente, as de resolução mais prementes na prática projetual da arquitetura hospitalar. Essa preocupação inicia-se no século XVIII com o simples combate à superlotação de leitos – estes não eram individuais (3) –, chegando ao final do século XIX com a ampliação significativa da área ocupada por essas edificações, através da difusão do modelo pavilionar – o qual buscava facilitar a circulação e renovação do ar a fim de adaptar-se às descobertas de Pasteur – e manifesta-se no século XX na crescente multiplicação e especialização dos componentes de seu programa e diferenciação de seus fluxos (4). O edifício hospitalar passa então a ser organizado segundo a especialização de áreas internas, baseada em atividades de cuidados aos pacientes e seus diversos apoios. (5)

Entretanto, a partir de meados do século XX, o crescente interesse da sociologia e da antropologia pela saúde e pela doença – e as críticas que essas disciplinas desenvolvem à abordagem estritamente biológica desses conceitos – permitiram que o foco da discussão sobre os espaços hospitalares fosse renovado. Sob sua influência, organizaram-se movimentos que buscaram reformas sanitárias em diversos países, cujo objetivo era garantir o direito universal à saúde e o desenvolvimento da medicina preventiva. (6)

As críticas à exclusão social promovida através da medicina hospitalar não são, no entanto, resolvidas apenas com a ampliação da saúde preventiva. Constrói-se um consenso de que é preciso renovar os espaços hospitalares e, nesse contexto, sua humanização aparece como solução para o impasse. Entretanto, se a necessidade da promoção da humanização afigura-se, por um lado, como consensual, por outro lado, a definição do que seria esta ação parece difícil de discernir.

O presente artigo tem como objetivo demonstrar a inexistência de um conceito único de humanização dos espaços hospitalares. Postula-se que essa ausência verifica-se tanto na esfera do discurso, quanto em sua materialização na prática projetual. Para tanto, analisam-se e contrapõem-se, ao longo deste artigo, diferentes definições e aplicações desta noção.

A análise das diferentes definições de humanização passa pelo cotejamento de textos especializados de autoria de arquitetos que abordaram a questão – Jarbas Karman, Lauro Miquelin, José Ricardo S. L. Costa, João Filgueiras Lima e Catherine Fermand. Já para a análise da materialização, optou-se por um corpus somente de hospitais pediátricos, visto que nestes a busca pela humanização, além de ser mais corrente, apresenta-se como mais premente: para o público infantil a estadia no hospital e a diminuição de seu ritmo normal de vida podem causar estresse emocional e complicar o processo de cura.

Entre a analogia e o conceito: ensaios de definição da noção de humanização no espaço hospitalar

Ao final do século XX, exige-se que a “máquina de curar”, nascida no final do século XVIII, torne-se humana. Qual o significado e as consequências dessa ação? Como procedê-lo? Como veremos na sequência, os arquitetos fazem apelo a diferentes analogias em seus discursos a fim de visualizar o que seria a humanização. As mais recorrentes poderiam ser agrupadas nas seguintes figuras metafóricas: (a) o hotel – analogia muito frequente na arquitetura hospitalar americana contemporânea –; (b) a relação com a natureza e a integração com obras de artes; (c) o lar e possibilidade da intimidade e, por último, (d) a figura do espaço urbano e do convívio social – geralmente associada às experimentações da arquitetura hospitalar francesa contemporânea.

Dentro da linha que busca na analogia com o hotel a chave para a solução da humanização do espaço hospitalar, encontramos os arquitetos Jarbas Karmam e Lauro Miquelin. Karmam acredita que, assim como os hospitais americanos, o paciente deve ser considerado como um cliente e a internação deve aproximar-se, cada vez mais, a um hotel. A atenção dirigida em especial à internação é justificada pelo fato de esta ser o local de maior permanência dos pacientes no hospital. Neste sentido, a humanização deste espaço proporcionaria maior bem-estar aos seus usuários, aliviaria suas angústias e reduziria, desta forma, o tempo de internação (7). Karmam destaca que “Projetos de hotéis onde o hóspede às vezes fica apenas um dia exigem tratamento especial para atrair o público. O mesmo deve ocorrer com o hospital, onde a permanência é mais prolongada”. (8)

Dentro desta mesma linha, Lauro Miquelin, também busca a analogia com o hotel como possibilidade para humanização

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