Cartona: história, união familiar e guarda de emoções.

Cartona: história, união familiar e guarda de emoções.

A empresa Cartona Cartão Fato LTDA, uma empresa familiar, dirigida em sua segunda geração pelo patriarca Ricardo Augusto Monegaglia, por 30 anos, centralizou as tomadas de decisões em sua pessoa, repentinamente deparou com as mudanças no cenário sócio/econômico do país e com a necessidade de sucessão e sobrevivência no mercado. Seus três filhos: Ricardo Filho, Rodolpho e Rodrigo, partiram deste momento crítico para uma tomada de decisão estratégica, modificar os rumos e a maneira de gerir a empresa, trabalhando a organização dentro de um modelo de gestão compartilhada, promovendo uma verdadeira revolução interna, buscando as necessidades do mercado, agora, altamente competitivo e dos clientes. Trabalhou-se a liderança pelo exemplo, o comprometimento, a implementação das ações de investimentos, a construção conjunta, a cooperação mútua na construção de uma nova organização. Aos 79 anos, a Cartona colhe os frutos desta mudança radical promovida pela flexibilidade e comunicação dentro de uma relação positiva e motivadora entre seus diretores, colaboradores, clientes e credores/fornecedores.

A visão organizacional dos três irmãos, o empreendedorismo apresentado na gestão foi primordial para sua efetividade no mercado. Eles buscaram a adequação da empresa às novas filosofias e conceitos existentes no mercado. A manutenção de uma empresa familiar mesclada a uma descentralização e democratização nas tomadas de decisões, foi positivamente necessária para a conquista e crença dos colaboradores na nova diretoria. As oportunidades encontradas pela empresa foram frutos do abandono da visão de espelho em favor da visão de janela. Suas referências foram o que o mercado apresentava de novo, o planejamento estratégico, a confiança, a cooperação mútua, os valores familiares aprendidos, contribuíram muito para a construção desta gestão compartilhada. Esta visão estratégica propôs outro ponto positivo, que se efetivou nos funcionários, o clima favorável e a postura de lealdade e garra nas duas vertentes da pirâmide administrativa. Os riscos apresentados e observados se encontravam exatamente no próprio mercado, com a concorrência crescente, nas mudanças repentinas de tecnologia, necessitando todo o tempo o monitoramento das necessidades dos clientes, bem como o próprio momento político/econômico instável do país.

Para compreender melhor o relato do caso Cartona é fundamental saber que todo o setor industrial no Brasil tinha enfoque voltado praticamente para área da produção, tal explicação pode ser atribuída à falta de concorrência externa e aos consumidores que não tinham muitas opções na escolha de produtos ou serviços, o que propicia certa zona de conforto por parte das empresas brasileiras que não precisavam se preocupar com o que o consumidor desejava. Na década de 90 houve o processo de abertura e integração comercial brasileira gerando uma liberalização financeira externa e a eliminação das barreiras protecionistas contra as importações.

As empresas precisaram se adaptar a nova realidade do mercado consumidor, CARTONA que praticamente não havia concorrentes de mesma linha percebeu que estava perdendo mercado ao entrar concorrentes de diversos países em seu nicho mercadológico. Os dirigentes da empresa notaram que era necessário se reinventar e para isso houve mudanças significativas e modernização. A gestão passou a ter foco no cliente (ao que era necessário para agradar, satisfazer e atender as novas expectativas) e não mais focar apenas na produção. A empresa adotou a importação de mercadoria principalmente da china e do Canadá para revender no mercado brasileiro com a sua marca para que assim pudesse entrar na concorrência da época. A partir do momento em que foi visto a necessidade de modificar o foco da empresa CARTONA houve também uma mudança no planejamento, de forma que,a CARTONA, que tinha um foco industrial passou a investir inicialmente no desenvolvimento de produtos e distribuição. “O que importava para nós é que já tínhamos o cliente. A gente tinha que vender e começamos a colocar nosso foco no que o cliente queria”. Independente se o produto fosse adquirido através da importação ou se fosse produzido pela própria empresa o importante é que o cliente continuasse a ter como principal referência a empresa, ou seja continuasse a comprar com a CARTONA.

Em 1997 a primeira providência dos irmãos que acabaram que assumir a empresa após o falecimento do Sr. Ricardo Monegaglia foi de reunir todos os colaboradores da empresa, cerca de 170 pessoas e garantir que a empresa continuaria funcionando normalmente e pediram a colaboração de todos para que o objetivo fosse alcançado. Logo depois repetiram o texto utilizado com os colaboradores para seus clientes, fornecedores e concorrentes.

Os novos proprietários determinaram as funções que cada um deles atuaria, de acordo com a formação ou experiência. Seu pai havia lhes ensinado que antes de governar era necessário saber a ser subordinado e seus filhos haviam trabalhado em outras empresas como subordinado e assim adquirindo experiências que lhe contribuiriam para alcançar o sucesso da CARTONA. Rodolfo assumiu a área de marketing, Ricardo ficou na função de diretor industrial e de compras. Meses após a sucessão os gerentes financeiro e de produção se demitiram porque não acreditavam nos três irmãos, ficando no cargo apenas o diretor comercial. Muitos funcionários outros funcionários também não acreditavam na competência dos três irmãos e desconfiavam que estes dariam um golpe no mercado ou iriam utilizar do poder e herança de forma irresponsável e assim se demitiram da empresa, mas os que ficaram tiveram uma postura de lealdade com a nova diretoria.