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Compreensão Textual Como Trabalho Criativo

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Por:   •  3/5/2014  •  5.376 Palavras (22 Páginas)  •  1.423 Visualizações

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Compreensão textual

como trabalho criativo

Luiz Antônio Marcuschi

Universidade Federal de Pernambuco

Resumo: Partindo da revisão das noções de língua e de texto, o autor discute a leitura como processo cognitivo,

social e histórico, delineando diferentes horizontes ou perfis de compreensão: a) a falta de horizonte; b)

horizonte mínimo; c) horizonte máximo; d) horizonte duvidoso; e) horizonte indevido. Dentro do processo de

leitura, analisa-se com detalhe o conceito de inferência.

Palavras-Chave: Leitura, Horizontes de Leitura, Inferência.

Compreender exige trabalho

Compreender bem um texto exige habilidade e trabalho. Sempre que ouvimos alguém

ou lemos um texto, entendemos algo, mas nem sempre essa compreensão é bem-sucedida.

Compreender não é uma ação apenas linguística ou cognitiva. É muito mais uma forma de

inserção no mundo e um modo de agir sobre o mundo na relação com o outro dentro de uma

cultura e uma sociedade. É comum ouvirmos reclamações do tipo: “não foi bem isso que eu

queria dizer”; “você não está me entendendo”; “o autor não disse isso”. Contudo, vale a pena

indagar-se o que é que estava sendo dito ou o que é que o autor queria dizer. Existe, pois, má

e boa compreensão, ou melhor, más e boas compreensões de um mesmo texto, sendo estas

últimas atividades cognitivas trabalhosas e delicadas.

Sabemos como é importante nos entendermos bem no dia a dia, seja no diálogo com

outras pessoas ou na leitura de textos escritos. Da má-compreensão podem surgir desavenças

e acabarem namoros; podemos perder amigos e dinheiro, sofrer acidentes e até deixar de

conseguir um emprego. Não parece necessário argumentar em favor da relevância do estudo

da compreensão, mas é útil lembrar aspectos relacionados ao tema. Em primeiro lugar,

sempre que produzimos algum enunciado desejamos que ele seja compreendido, mas nunca

exercemos total controle sobre o entendimento que esse enunciado possa vir a ter. Isto se

deve à própria natureza da linguagem que não é transparente, nem funciona como fotografia

da realidade. Em segundo lugar, a interpretação dos enunciados é sempre fruto de um tra90

balho e não uma simples extração de informações objetivas. Como o trabalho é conjunto e

não unilateral, pois compreender é uma atividade colaborativa que se dá na interação entre

leitor-texto-autor ou ouvinte-texto-falante, podem ocorrer desencontros. A compreensão é

também um exercício de convivência sociocultural.

Já que praticamente todas as nossas ações diárias mais significativas estão revestidas

de linguagem, é importante saber algo sobre o seu funcionamento. E esse funcionamento é

tão espontâneo que não nos damos conta de sua complexidade. Quando falamos ou escrevemos

não temos muita consciência das regras usadas ou das decisões tomadas, pois essas

ações são tão rotineiras que fluem de modo inconsciente. Por outro lado, as atividades sociais

e cognitivas marcadas pela linguagem são sempre colaborativas e não atos individuais. Por

isso, seguidamente, operam como fontes de mal-entendidos. Pois, como seres produtores de

sentidos, não somos tão lineares e transparentes quanto seria de desejar e a compreensão

humana depende da cooperação mútua. Sendo uma atividade de produção de sentidos colaborativa,

a compreensão não é um simples ato de identificação de informações, mas uma

construção de sentidos com base em atividades inferenciais. Para se compreender bem um

texto, tem-se que sair dele, pois o texto sempre monitora o seu leitor para além de si próprio

e este é um aspecto notável quanto à produção de sentido.

Tal quadro teórico traz várias consequências, entre elas estão, por exemplo, as seguintes,

no que se refere ao entendimento:

’’de um texto, não equivale a entender palavras ou frases;

’’das frases ou das palavras, é vê-las em um contexto maior;

’’propriamente, significa produzir sentidos e não extrair conteúdos prontos;

’’de texto, é inferir em uma relação de vários conhecimentos.

A isso subjazem algumas suposições bastante centrais, como:

’’os textos são, em gera,l lidos com motivações muito diversas;

’’diferentes indivíduos produzem sentidos diversos com o mesmo texto;

’’um texto não tem uma compreensão ideal, definitiva e única;

’’mesmo que variadas, as compreensões de um texto devem ser compatíveis.

Para fundamentação dessas posições e análise dos processos de compreensão envolvidos,

devemos levar em conta noções básicas, entre elas, as de língua, texto e inferência.

Outras noções serão apresentadas, ao longo do trabalho, mas dessas três dependerá nossa

visão da atividade de compreensão. É claro que outros conceitos deveriam ser

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