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Conceito De Criança

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Por:   •  22/5/2014  •  3.835 Palavras (16 Páginas)  •  416 Visualizações

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CRIANÇA: HISTÓRIA E CONCEITO

O propósito deste capítulo consiste em mostrar um breve histórico do conceito de criança, focalizando-se o caminho pelo qual esta foi sendo concebida e tratada, ao longo dos séculos, até os dias atuais, tendo como ponto de referência às idéias de Philippe Ariès. Destaca-se também, a criança no Brasil, quando serão enfatizadas as transformações ocorridas, por esta, dentro de uma perspectiva histórica e cultural.

Logo após, enfoca-se a criança na contemporaneidade brasileira, ou seja, como ela vem sendo tratada e/ou concebida no contexto atual.

Por fim, abordam-se as tendências pedagógicas e suas influências nas concepções de criança.

Nossa pretensão, portanto, não é estudar a criança como um problema em si, mas, sobretudo, entendê-la no seu contexto histórico, político, econômico e cultural.

1.1 História cultural da criança.

A retrospectiva histórica e cultural do conceito de criança revela que esta foi concebida e tratada de diferentes formas, dependendo da classe social a qual pertencia e do grupo étnico do qual fazia parte, em diferentes momentos e lugares da história da humanidade.

Nos séculos XII e XIII, não se afirmava, na iconografiada época, a representação positiva da idéia de “ser criança”. Até mesmo as estátuas eram ornamentadas com o corpo de adulto. Somente as iconografias profanas reservavam inscrições sobres às “idades da vida” destacando a criança. (NUNES e SILVA, 2000).

De acordo com ARIÈS (1978), foi somente no século XIII que surgiram os ícones de simbolização peculiar de alguns tipos de crianças um pouco mais próximo do sentido moderno: o primeiro tipo de representação era religioso, onde as crianças eram concebidas como um anjo com aparência de um rapaz. “O segundo seria o modelo e o ancestral de todas as crianças da história da Arte:o menino Jesus ou Nossa Senhora menina. O terceiro apareceu na fase gótica: a criança nua, porém, sempre representada como assexuada”.

Até o fim do século XIII, não existiam crianças caracterizadas por uma expressão particular, e sim homens de tamanho reduzido. As crianças eram vestidas tais quais os adultos. (id)

Percebe-se que houve uma lenta mudança entre o século XII e XIV acerca do ser criança, ou seja, há pouca diferença na forma como a sociedade concebe a criança na passagem desse século (XII), como pode ser observado, no percurso da história.

NUNES e SILVA, (op cit) comentando ARIÉS, informam que, no século XIV, a iconografia acerca do ser criança se estabeleceu e fixou seus traços essenciais, que permaneceram quase inalterados até o século XVIII.

Estes também acrescentam que no século XV as crianças ainda andavam misturadas com os adultos e, com eles, participavam de festas, trabalhos e reuniões, sempre correndo e dando saltos no ambiente supostamente reservado aos negócios do adulto. Nessa fase da história, os limites entre infância e adolescência eram incertos e mal percebidos.

Um século depois (XVI), pouca mudança houve na concepção de criança. Nessa época, o sentimento de infância era de que a criança era uma coisa “engraçadinha”, uma espécie de ser “exótico” e angelical. Tal sentimento não deixava perceber a criança como um processo, ou seja, como sujeito de sua própria história. (id)

Ainda comentando o século XVI, ARIÈS (op cit) revela que, ao analisar a iconografia, os diários, túmulos, documento e vocabulário desse século, percebeu que neles a criança é muito pouco representada e, quando é, aparece como um adulto em escala menor. Antes dessa época, a criança não era diferenciada do adulto e participava igualmente de várias manifestações sociais.

Mas, é somente no final do século XVI e início do XVII que surge uma radical mudança na pedagogia familiar e social. A criança havia conseguido um lugar junto aos seus pais. Lugar este que, até então, não poderia ter ocupado, uma vez que o costume mandava que a criança fosse confiada a estranhos. A criança, nessa época, tornou-se um elemento indispensável à vida quotidiana, além do que a vida familiar se estendeu a quase toda a sociedade. (NUNES e SILVA, 2000).

Corroborando esse pensamento, SCORSATO (1998) destaca que é apenas no início do século XVII que os adultos modificam sua concepção de infância e concede uma visão nova à criança, o que significa ainda que se lhe reconheça um lugar privilegiado na família e que se faça dela o seu centro. Havia, nesse século,uma manifestação de medo da infância expressa através da filosofia e da teologia. A criança aqui aparecia como símbolo da força do mal, do pecado original, o que evidenciava o ponto de vista da natureza humana corrompida.

A partir do século XVII, sob a influência dos reformadores moralistas, pouco a pouco se admitia que a criança não era preparada para a vida, cabendo aos pais a responsabilidade pela formação moral e espiritual dos filhos, gerando o aparecimento de novos sentimentos nas relações familiares. Os pais passaram a enviar seus filhos à escola onde recebiam a sólida formação proclamada pelo pensamento moralista da época. (ARIÈS apud MIRANDA, 1983)

Observa-se que nesse século a criança começa a adquirir mais espaço na família e, conseqüentemente, na sociedade. Assim, NUNES e SILVA (op cit) revelam que, no final do século XVII, já se observa o começo de uma separação entre o mundo da criança e o mundo do adulto. Essa separação, segundo eles, é irreversível, pois cresce até o fim do século XIX.

Contudo, KRAMER (In KRAMER e LEITE 1996) registra que a idéia de infância aparece com a sociedade capitalista, urbano-industrial, na medida em que mudam a inserção e o papel social da criança na comunidade. Se, na sociedade feudal, a criança exercia um papel produtivo direto “de adulto”, na sociedade burguesa ela passa a ser alguém que precisa ser cuidada, escolarizada e preparada para uma atuação futura. Esse conceito de infância é determinado historicamente pela modificação nas formas de organização da sociedade.

De acordo com PINHEIRO (1998), anteriormente à sociedade industrial, a duração da infância se limitava à tenra idade em que ela necessita dos cuidados físicos para sua sobrevivência, ou seja, tão logo seu desenvolvimento físico fosse assegurado – aproximadamente aos sete anos -. Para ilustrar sua fala, a autora cita ARIÈS (ibid, p. 43) quando comenta que a criança passava a conviver diretamente com adultos, compartilhando do trabalho e dos jogos a todo o momento, uma vez que a socialização acontecia no convívio com a sociedade, não sendo determinada

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