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Fenomenologia

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Por:   •  12/3/2015  •  2.208 Palavras (9 Páginas)  •  182 Visualizações

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Um dos elementos do Estado constitui o poder de governo ou comando que o Estado possui sobre seu povoFica com ele em seu quarto durante dois anos, emprestado pela biblioteca da universidade, onde nesse tempo ninguém o solicita, o que lhe desperta uma paixão solitária e ao mesmo tempo marcante. Cinqüenta anos mais tarde ainda devaneia quando pensa nesse livro: (Eu) fui tão marcado pela obra de Husserl que nos anos seguintes sempre voltava a ela... o fascínio que emanava dessa obra estendia-se para a página de rosto e o frontispício... (p.53).

Neste período Heidegger está no internato preparando-se para seguir a carreira eclesiástica e se dedica aos estudos de teologia que viabilizam, através de bolsas de estudo pagas pela igreja católica, a finalização de seu doutorado e a preparação para um possível concurso de professor universitário. Apesar das dificuldades, seu pai não tem dinheiro para bancar seus estudos, e de ser considerado a “grande esperança filosófica para os católicos alemães”, ele interrompe seus estudos de teologia pois “Heidegger sabe que o que o prende na teologia não é o teológico e sim o filosófico” (SAFRANSKI, 2000, p. 72 e 70 respectivamente). É por este caminho que Heidegger chega a Freiburg e em 1913, aos 24 anos, defende sua tese de doutorado com a tese A doutrina do juízo no psicologismo. Neste ano também, Heidegger havia solicitado e recebido (1913-1916, o pedido será refeito e renovado anualmente) uma bolsa de estudos à Fundação em Honra de Santo Tomás de Aquino, o que o obrigava a trabalhar com a escolástica: “Na confiança de que o senhor permanecerá fiel ao espírito da filosofia tomista, concedemos...” (p. 76) foi a resposta de concessão da bolsa. Para sobreviver e seguir seus estudos, ele recorreu ao que estava à mão.

Heidegger solicitara essa bolsa a 2 de agosto de 1913 junto ao cabido da Catedral de Freiburg com as seguintes palavras: O submissamente abaixo assinado permite-se apresentar [...] ao reverendíssimo cabido da Catedral [...] o mais humilde pedido de que lhe seja concedida uma bolsa [...]. O submisso abaixo assinado deseja dedicar-se ao estudo da filosofia cristã e ingressar na carreira acadêmica. Como o mesmo se encontra em situação financeira muito modesta, ficaria profundamente agradecido ao reverendíssimo cabido da Catedral [...]. e assim por diante. Cartas tão humilhantes deixam um espinho em quem as escreveu ou teve de escrever. Dificilmente se perdoa àqueles a quem se teve de mendigar (Safrannski, 2000, p. 76).

Em 1916 Heidegger é aprovado como livre-docente (título de Privatdozent) na Universidade de Freiburg, mas suas decepções com o meio acadêmico já estão em andamento. Em 1917 Edith Stein, proveniente do circulo de fenomenologia de Göttingen, desistiu de seu trabalho como assistente pessoal de Husserl e ele vê em Heidegger alguém com quem pudesse filosofar. Da aproximação com Husserl, desencadeou-se também uma fraterna amizade com Karl Jaspers - seis anos mais velho que ele e que em 1921 assumirá a cátedra de filosofia da Universidade de Heidelberg - em 1920. A busca por um novo começo da filosofia os une e estabelece laços de amizade que durarão até o momento em que Heidegger se aproxima do nazismo (HEIDEGGER e JASPERS, 2003). Neste período, em sua correspondência com Jaspers, as pequenas desavenças com Husserl, e com o meio acadêmico em geral, já aparecem. Em carta a Jaspers, datada de 14 de julho de 1923, Heidegger escreve:

Você sabe que foi proposto para Berlin; se comporta pior que um Privatdozent que mudaria sua felicidade eterna por um posto de titular. O que ocorre está envolto em penumbra: diante disso se vê que o praeceptor Germaniae – Husserl está totalmente fora dos eixos (se é que alguma vez esteve, o que é cada vez mais discutível nos últimos tempos) – vai daqui para ali dizendo trivialidades, o que dá muita pena. Vive de sua missão de ‘fundador da fenomenologia’, não sabe o que é (HEIDEGGER e JASPERS, 2003, p. 35).

Mesmo com as diferenças, quando Husserl se aposenta em 1928, de acordo com Arion Kelkel e René Schérer (1982), “é a Heidegger que deixa a sua cátedra, julgando-o o único filósofo digno de lhe suceder” (p. 17). Apesar de Heidegger ter lhe dedicado o livro Ser e Tempo, esta interpretação da fenomenologia não agradou a Husserl e ele se sente bastante decepcionado. A ascensão do nazismo e a posição que Heidegger assume em relação ao mesmo a partir dos anos de 1930 colocam-no, ao final da Guerra, num grande isolamento. Proibido de dar aulas, Heidegger ministrará cursos isolados e criará discípulos que trabalharão com sua versão de uma fenomenologia existencial. Dela teremos autores que levarão, como já havia feito Jaspers, estas reflexões para o campo da psiquiatria e da psicologia gerando novas possibilidades de apreensão da fenomenologia existencial com autores como Eugéne Minkowski, Ludwig Binswanger e Medard Boss.

A divulgação do existencialismo atinge seu ápice com Jean-Paul Sartre, no pós-guerra na França. Após a publicação de O Ser e o Nada em 1943, que gerou críticas da direita católica e da esquerda comunista, Sartre acreditou que podia, em uma conferência, defender-se das críticas que lhe foram lançadas e, ao mesmo tempo, esclarecer sua filosofia que, no momento desta sua conferência, outubro de 1945, ele acaba por acatar o rótulo de existencialismo.

Jean-Paul Sartre foi um intelectual singular. Mergulhava nos vários campos de saber com a sede de quem se encontra no deserto, buscando respostas cujas perguntas sempre estiveram presentes durante toda sua carreira intelectual. Filósofo, romancista, autor de inúmeras peças de teatro, ensaísta, crítico, ativista político, esteve completamente engajado no seu século e dele encarnou a consciência e as contradições. O Século de Sartre, assim se refere a ele Bernard-Henry Lévy (2001), que inicia seu livro destacando esse “não sei o quê” deste pequeno homem, cuja voz é seca e metálica, que consegue, mesmo na sua total ausência, mobilizar uma multidão. Foi assim no dia de sua morte, quando uma multidão tomou conta do boulevard Edgard Quinet em frente ao prédio onde ele morava.

Sartre também despertou os mais variados tipos de emoções e, como outros filósofos, atraiu para si um raro ódio furioso, para não dizer escatológico, capaz de fazer o diretor do Jornal Le Figaro escrever que já era tempo “de se exorcizá-lo, cobri-lo de enxofre e atear-lhe fogo diante da catedral de Notre-Dame, o que seria o meio mais caridoso de lhe salvar a alma”. Acabou, é claro, entrando para a lista negra dos livros proibidos do Vaticano e provocou a ira cega do então diretor do jornal France-Soir que, não contente em tirar a roupa do existencialismo, disse que iria “arrancar a sua pele” (LÉVY, 2001, p. 42-43). Ele

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