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Força das organizações

Tese: Força das organizações. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  30/3/2014  •  Tese  •  2.827 Palavras (12 Páginas)  •  206 Visualizações

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PAGÉS, Max et al. O poder das organizações. São Paulo: Atlas, 1993

O poder das organizações é o resultado de uma pesquisa realizada por Pagés e seus colegas com a finalidade de analisar como ocorrem os fenômenos de poder nas organizações, visando elaborar um quadro teórico que permita uma melhor compreensão do fenômeno. Essa pesquisa foi efetuada, principalmente, numa filial européia de uma grande empresa multinacional americana, apelidada de TLTX.

Este estudo é dirigido às empresas que os autores chamam de "hipermodernas", porque é nelas que são exacerbados os processos de mediação. Trata-se de organizações que dispõem de sistemas que viabilizam a intermediação entre suas ações de exploração e dominação e as vantagens e benefícios oferecidos aos indivíduos, de tal forma que essa contradição é minimizada e os que nela trabalham até colaboram para sua própria submissão.

De imediato, nota-se claramente a posição ideológica dos autores ante o sistema capitalista e o poder que este exerce sobre os indivíduos. Essa abordagem pressupõe, a priori, a existência de um conflito na sociedade e, conseqüentemente, nas organizações. Segundo Carvalho (1998), as duas correntes de pensamento que se destacam na visão conflituosa da vida social são: a corrente marxista - cujo centro das atenções é a luta de classes, vista como a origem de todos os demais conflitos - e a corrente liberal e algumas revisões marxistas, que destacam a instância superestrutural, onde estaria a base do conflito.

Na introdução, os autores apresentam uma visão do sistema de poder da TLTX, elaborada a partir de diversas entrevistas e seminários com os empregados da empresa, destacando claras contradições nos discursos das pessoas, que ora enaltecem a organização, ora contrapõem uma observação negativa, como por exemplo, ao dizer "acredito piamente nos grandes princípios da empresa, mas são aplicados imperfeitamente" ou "o poder da organização nos dá segurança, mas é duro".

Para que as pessoas possam conviver com essas contradições, com esse discurso fragmentado e com o permanente conflito interno, são propostos quatros processos de mediação. A mediação econômica é representada pelos altos salários e pela abertura da carreira. A mediação política garante o respeito às diretrizes centrais da empresa, ao mesmo que assegura o desenvolvimento da iniciativa individual. A mediação ideológica gera a identificação entre o indivíduo e a organização, quando aquele absorve a ideologia elaborada pela esta. Já a psicológica possibilita que os privilégios e as restrições (coerções) impostas pela empresa se transformam em prazer e angústia das pessoas que trabalham na organização. Esses processos de mediação são os mecanismos que as empresas hipermodernas, ou seja, as organizações multinacionais e/ou transacionais utilizam para antecipar e/ou prevenir conflitos que possam afetá-las.

As contradições entre as pessoas e a organização, como também dos próprios indivíduos e da própria empresa, podem levar ao conflito que o processo de mediação entre esses atores vai minimizar, da mesma forma que também pode levar à solução dos problemas. Logo, os indivíduos aceitam suas condições de trabalho, colaboram ativamente para sua submissão (consciente ou inconscientemente), e o poder da organização (ou o de alguns de seus membros) é que prevalece na solução desses conflitos e/ou interfere decisivamente para a mediação entre essas posições. Por isso, a dominação das pessoas pela organização está diretamente ligada ao desenvolvimento de um conjunto integrado e coerente de mecanismos econômicos, políticos, ideológicos e psicológicos, que uma vez associados, conseguem influir no comportamento das pessoas.

Para os autores, o processo de mediação econômica surge quando a organização promove o confronto com os privilégios oferecidos pela TLTX, como compensação pelas exigências feitas a seus empregados, que funciona como uma forma de viabilizar suas ações de exploração e dominação em contrapartida às vantagens e benefícios oferecidos às pessoas. Na primeira parte de O poder das organizações é enfocado o processo de mediação política quando os valores, as crenças, as normas, as regras, a forma de comportamento e, principalmente, os controles visíveis (sutis e/ou disfarçados) determinam não apenas a forma como as pessoas têm que agir, mas seu sucesso e a sua permanência (ou não) na organização.

O poder da organização igualmente identifica as fraquezas e/ou ambições dos indivíduos e, conseqüentemente, o poder de "premiar" e/ou "punir" os empregados. Por dispor desse conhecimento, a empresa consegue ofertar a seus empregados o que os satisfaz, o que pode ser não necessariamente uma vantagem financeira, mas, por exemplo, o cartão de algum clube, que identifique seu portador como uma pessoa diferenciada.

A ambição de ser reconhecido como um empregado mais qualificado que os demais, de ter sucesso profissional, de ter o poder de dominar outras pessoas é utilizada de forma deliberada pela organização para estabelecer uma efetiva dominação sobre seu corpo de empregados, independentemente do nível hierárquico. Por outro lado, alguns empregados que têm essa consciência podem sacrificar sua ideologia, seus valores, sua independência e sua auto-estima para poderem exercer essa ambição de dominação sobre outros. Como destaca Morgan (1996), na perspectiva política das organizações, pode-se visualizá-las como um palco de luta entre interesses divergentes que são resolvidos pelo uso do seu poder, o qual, no entanto, necessita de um mínimo de consenso para funcionar. Tal consenso é exercido através da mediação, a partir daqueles que efetivamente detêm o poder na organização.

Na segunda parte do livro é enfatizado o processo de mediação ideológica, através do qual a empresa exerce papel semelhante ao de uma igreja com a sua correspondente fé, já que trabalhar na TLTX indica a adesão dos empregados a um sistema de valores e crenças da organização, que na prática se traduz na dedicação total ao trabalho com base na deificação da organização, que é considerada honesta, generosa e eficaz e cujos erros são provenientes do sistema social ou da imperfeição da natureza humana. Nesse sentido, trabalhar na TLTX faz com que os empregados adotem uma religião praticada pela maioria das pessoas, cujos princípios ideológicos são os mesmos da empresa, e nos quais muitos identificam seus próprios valores e crenças. Portanto, os empregados sentem necessidade de preservar, a qualquer preço, a imagem gratificante que formaram da organização, para que possam conservar a fé que investiram

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