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Fui Ao Telhado

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Por:   •  11/11/2013  •  1.641 Palavras (7 Páginas)  •  337 Visualizações

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Com tantos indícios contra, é estranho, mas Francisco é um boa-praça. Tem o rosto sardento como a mãe, Maria Helena, o que lhe dá um ar de garotão. Veste roupas joviais. Quando foi preso, estava com uma camisa colorida, de um time de hóquei. É o tipo que passa despercebido na rua ou no elevador, mas que, quando puxa assunto, atrai simpatias. É conversador, gosta de falar e responde atenciosamente às perguntas que lhe são feitas. Desde que sua vida começou a ser devassada, são comuns as descrições do Francisco gente fina. É o que dizem seus chefes, seus pais, algumas ex-namoradas. "O Francisco é bastante carinhoso e brincalhão. O único defeito é que o tempo livre dele é todo para os patins", diz a estudante Juliana Prado Fanasca, 16 anos, moradora de Guaraci, município a 522 quilômetros de São Paulo, onde vivem os pais de Francisco, e a ex-namorada dele. Juliana e Francisco ficaram juntos um mês. "Comigo ele era um cara superlegal", conta Ellen Renata Pereira, de 16 anos. Também vizinha dos pais de Francisco, Regiane Alves, 20 anos, conheceu o motoboy quando a família dele se mudou para a Rua Joaquim Rossini, no bairro Cohab 4. "A gente batia papo, jogava conversa fora." Segundo a garota, Francisco sempre pareceu ser uma pessoa normal, um cara legal. "Não acredito que ele possa ser o maníaco." Curiosamente, no entanto, ela diz que deixou de falar com o vizinho depois que uma amiga lhe contou que o motoboy teria tentado estuprar uma outra garota, em São José do Rio Preto. "Perguntei se ele tinha mesmo feito isso. Ele falou que não, mas não acreditei nele." Desde então (ela não tem certeza, mas acha que o episódio se passou em 1995), Regiane nunca mais conversou com Francisco.

Ao ser preso no Rio Grande do Sul, a polícia encontrou entre as coisas de Francisco dois papeizinhos com orações, uma para o Padre Cícero, outra para São Francisco. Achou ainda um santinho de São Judas Tadeu e um panfleto de uma igreja evangélica de Buenos Aires. A entrevista coletiva que ele concedeu logo ao chegar a São Paulo esteve repleta de visões de igrejas. Elas pontuaram toda a descrição do percurso que Francisco fez, entre as cidades de Alvear, na Argentina, e Itaqui, no Rio Grande do Sul. Francisco assistiu a uma missa em Itaqui, no domingo, apenas dois dias antes de ser preso. O pescador que denunciou a presença de Francisco na cidade, João Carlos Dornelles Villaverde, 40 anos, disse que, na volta da missa, Francisco contou-lhe que tinha ido à igreja rezar e pedir a Deus que o ajudasse.

Um outro traço comum aos assassinos em série é o comportamento social aceitável e até admirável. Eram assim, acima de qualquer suspeita. De novo, o acusado de ser o "maníaco do parque" encaixa-se à perfeição nesse modelo. Além das namoradas com doces lembranças dele, Francisco era popular no Parque do Ibirapuera, onde costumava fazer malabarismos sobre patins ao menos uma vez por semana. Craque no esporte, ele pacientemente ensinava aos iniciantes como dar os primeiros passos sobre rodas. Quando ia visitar os pais, em Guaraci, as crianças costumavam cercá-lo na rua. Era querido e respeitado.

Convence. Uma de suas vítimas, M.C., de 18 anos, que reconheceu Francisco como o estuprador que a dominou no Parque do Estado depois de convidá-la a posar para fotos, disse na quinta-feira passada, diante de um batalhão de repórteres: "Ele sabe fazer ar de desamparado". Francisco estava com esse ar no primeiro encontro com os pais depois de sua prisão. Quando as luzes das câmeras de televisão se apagaram, logo em seguida à entrevista coletiva, chorou no ombro da mãe e do pai como uma criança. Com as mãos algemadas, passava os braços em torno do pescoço deles enquanto dizia que havia pensado muito na família nas últimas semanas.

advogada Maria Elisa Munhol,

Veja — O senhor Francisco de Assis Pereira admitiu ter matado nove mulheres, entre as quais a jovem Isadora Fraenkel. O que a senhora tem a dizer sobre isso?

Maria Elisa Munhol — É interessante que essa confissão entre aspas tenha sido obtida por vocês. Eu não sou psiquiatra, mas minha experiência indica que Francisco deve ter o que os especialistas chamam de "transtorno de personalidade". Não descarto a hipótese de ele ter feito essa confissão como forma de aparecer mais, de se tornar uma grande estrela, de virar um grande astro. Aliás, esse exibicionismo pôde ser facilmente verificado por ocasião da entrevista coletiva que Francisco deu em sua chegada a São Paulo. Ele falou sem parar e estava evidentemente muito à vontade nessa atuação. É claro que tem um enorme desejo de aparecer, de ser valorizado. Se esse tipo de "transtorno de personalidade" ficar comprovado, a confissão que vocês têm em mãos não é digna de confiança nem de crédito.

Tim, encolhido no fundo da cela, entre o pai e a mãe, balançou a cabeça, os olhos inundados de lágrimas, e não respondeu. Em vez disso, tratou de estender para a mãe um manuscrito interminável, lavrado em letra hesitante num bloco de cartas, espécie de autobiografia. Por duas horas, a família vasculhou detalhes da infância e adolescência de Francisco, atrás de sinais que pudessem explicar onde e quando o menino Tim se transformou num predador. Os pais o bombardearam com perguntas. Queriam saber por que Tim não comentara com eles que havia sido molestado sexualmente por uma tia, por que não procurou um médico quando começou a sentir vontade de matar. E por que, afinal de contas, ele matou. "Ele disse que não conseguia pedir ajuda. Chegou a dizer que foi abandonado por Deus", conta Maria Helena. Entre uma pergunta e outra, os pais folheavam os escritos. "É tudo confuso. Parece que ele quer escrever sua história para ver se ele mesmo entende", diz Nelson Pereira. Foi o primeiro encontro da família desde a confissão de Francisco.

É difícil entender. No manuscrito, está o relato de um episódio passado há 22 anos. Para Francisco, um momento marcante. Quando tinha 8 anos, o menino matou um filhote de rolinha com um estilingue. Levou o passarinho para casa e tentou colocá-lo numa frigideira. Foi impedido pela avó,

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