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O Monge E O Executivo

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Por:   •  28/4/2014  •  1.032 Palavras (5 Páginas)  •  287 Visualizações

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A ESCOLHA FOI MINHA. Ninguém mais é responsável por minha partida.

Olhando para trás, acho quase impossível acreditar que eu — um superocupado gerente-geral

de uma grande indústria – tenha deixado a fábrica para passar uma semana inteira num mosteiro

ao norte de Michigan. Sim, foi isso mesmo. Um mosteiro autêntico, cercado por um belíssimo

Jardim, com frades, cinco serviços religiosos por dia, cânticos, liturgias, comunhão, alojamentos

comunitários. Por favor, compreenda, não foi fácil. Eu resisti o quanto pude, esperneando de todas

as maneiras. Mas, afinal, escolhi ir.

"SIMEÃO" era um nome que me perseguia desde que nasci.

Quando criança, fui balizado na igreja luterana local. A certidão de batismo mostrava que o

versículo da Bíblia escolhido para a cerimônia pertencia ao segundo capítulo de Lucas, a respeito

de um homem chamado Simeão. De acordo com Lucas, Simeão foi "um homem muito correto e

devoto, possuído pelo Espírito Santo". Aparentemente ele teve uma inspiração sobre a vinda do

Messias ou qualquer coisa do gênero que nunca entendi. Este foi meu primeiro encontro com

Simeão.

Ao final da oitava série fui crismado na igreja luterana. O pastor escolheu um verso da Bíblia

para cada candidato à confirmação, e quando chegou minha vez leu em voz alta o mesmo trecho

de Lucas sobre Simeão. "Coincidência bem estranha", lembro-me de ter pensado na época.

Logo depois - e durante os vinte e cinco anos seguintes - tive um sonho recorrente que acabou

me atemorizando. No sonho, é tarde da noite e eu estou completamente perdido, correndo num

cemitério. Embora não possa ver o que está me perseguindo, sei que é o mal, alguma coisa

querendo me causar grande dano. De repente, um homem vestido com um manto negro aparece

na minha frente, vindo de trás de um grande crucifixo de concreto. Quando esbarro nele, o homem

muito velho me agarra pêlos ombros, olha-me nos olhos e grita: "Ache Simeão - ache Simeão e

ouça-o!" Eu sempre acordava nessa hora, suando frio. Para completar, no dia do meu casamento

o pastor se referiu a essa figura bíblica durante sua breve homilia. Fiquei tão atordoado que

cheguei a confundir-me na hora de pronunciar os votos, o que foi bastante constrangedor.

Na realidade, eu nunca soube ao certo se havia algum significado para todas essas

"coincidências" envolvendo o nome de Simeão. Minha mulher, Raquel, sempre esteve convencida

de que havia.

NO FINAL DOS ANOS 1990, eu me sentia num momento de glória. Estava empregado em uma

importante indústria de vidro plano e era gerente-geral de uma fábrica com mais de quinhentos

funcionários e mais de cem milhões de dólares em vendas anuais. Quando fui promovido ao

cargo, tornei-me o mais jovem gerente-geral da história da companhia, fato de que ainda muito me

orgulho. Tinha bastante autonomia de trabalho e um bom salário, acrescido de bônus sempre que

atingisse as metas da empresa.

Eu e Rachel, minha linda mulher com quem estou casado há dezoito anos, nos conhecemos na

Universidade Valparaíso, no estado de Indiana, onde me formei em Administração de Empresas, e

ela, em Psicologia. Queríamos muito ter filhos e lutamos contra a infertilidade durante vários anos,

de todas as maneiras. Rachel sofria muito com a infertilidade, e nunca abandonou a esperança de

ter filhos. Muitas vezes a surpreendi rezando, pedindo um filho.

Então, em circunstâncias raras mas maravilhosas, adotamos um menino assim que nasceu, lhe

demos o nome de John (como eu) e ele se tornou nosso "milagre". Dois anos depois, Rachel

inesperadamente ficou grávida, e Sara, nosso outro "milagre", nasceu.

Aos quatorze anos, John Jr. estava iniciando a nona série, e Sara, a sétima. Desde o dia em que

adotamos John, Rachel passou a trabalhar em seu consultório de psicologia apenas um dia na

semana, pois achávamos que era importante ela dedicar-se o mais possível a nosso filho. Por

outro lado, esse dia de trabalho lhe proporcionava uma pausa na rotina de mãe, permitindo que

ela mantivesse sua prática profissional. A vida parecia muito equilibrada em todos os sentidos, e

nós nos sentíamos gratos por isso.

Além do apartamento na cidade, tínhamos uma casa muito bonita à beira do lago Erie, onde

navegávamos num barco à vela ou que percorríamos em jet ski. Havia dois carros novos na

garagem, tirávamos férias duas vezes por ano, e ainda conseguíamos acumular uma poupança

respeitável.

Como eu disse, aparentemente a vida era muito boa, cheia de muitas satisfações.

MAS É CLARO que as coisas não são exatamente como parecem ser. Sem que eu me desse

conta, minha família estava se desestruturando. Um dia Rachel veio me dizer que vinha se

sentindo infeliz no casamento há algum tempo e que suas "necessidades" não estavam sendo

satisfeitas. Eu mal pude acreditar! Pensava que lhe dava tudo o que uma mulher podia desejar.

Que outras necessidades ela poderia ter?

O relacionamento com os filhos também não ia bem. John Jr. estava ficando cada vez mais

malcriado e agressivo com a mãe. Certa vez ele me deixou tão transtornado, que quase bati no

meu filho, o que me fez muito mal. John manifestava sua rebeldia opondo-se a tudo o que lhe

falávamos e, ainda por cima, colocou um brinco na orelha. Foi preciso Rachel intervir para que eu

não o expulsasse de casa. Seu relacionamento comigo se resumia a grunhidos e acenos de

cabeça.

Sara também estava diferente. Nós sempre tivéramos uma ligação especial, e meus olhos ainda

se enchem de água quando penso na menininha tão carinhosa comigo. Mas agora ela parecia

distante e eu não compreendia a razão. Rachel sugeria que eu conversasse com Sara a respeito

dos meus sentimentos, mas eu parecia "não ter tempo", ou, mais honestamente, coragem.

Meu trabalho, a única área de minha vida onde eu estava seguro do meu sucesso, também

passava por uma mudança. Os empregados horistas da fábrica recentemente tinham feito

campanha para que um sindicato os representasse. Durante a campanha houve muito atrito e

desgaste, mas felizmente a companhia conseguiu vencer a eleição por uma margem estreita de

votos. Fiquei animado com o resultado, mas meu chefe não gostou do que acontecera e deu a

entender que se tratava de um problema de gerenciamento da minha responsabilidade. Não aceitei

a acusação, pois estava convencido de que o problema não era meu, mas desses sindicalistas que

nunca se davam por satisfeitos. A gerente de recursos humanos, solidária comigo, sugeriu com

seu jeito meigo que eu examinasse meu estilo de liderança. Isso me irritou profundamente! O que

é que ela entendia de gerenciamento e liderança? Eu a considerava uma mulher cheia de teorias,

enquanto eu só me preocupava com resultados.

Decididamente eu estava passando por um período difícil. Até o time da Pequena Liga de

...

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