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Psicopatas

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Por:   •  9/3/2015  •  4.203 Palavras (17 Páginas)  •  935 Visualizações

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Psicopata

O psicopata sempre esteve associado a crimes e contravenções. Portanto, a sua marginalidade também faz parte de sua posição social e confunde-se com sua condição clinica. Ele foi e continua sendo um problema para a criminologia muito antes de ser uma questão clinica para a psicanálise.

Veremos que muitas das contribuições da psicanálise estão ligadas a demandas jurídicas, há poucos estudos de caso de psicopatia na literatura. No momento, basta dizer que o psicopata não se pensa como um “doente”. Não e ele que procura ajuda, mais sim aqueles que sofrem com as conseqüências de sua ação.

É muito importante saber reconhecer à dinâmica e a característica de uma personalidade do psicopata. Principalmente por ser ele um grande dissimulador. O diagnóstico de psicopatia deve ser preciso, pois pode se tornar um rótulo pelo qual indivíduo sofrerá conseqüências jurídicas. Também o fará ser visto como praticamente inelegível para qualquer tipo de intervenção clinica.

O conceito de psicopatia

Definição: psicopata é um indivíduo clinicamente perverso, e quem tem personalidade psicopática. A psicopatia é uma pessoa com distúrbios mentais graves, caracterizados por um desvio de caráter, ausência de sentimentos, frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios, manipulação, egocentrismo, falta de remorso s de culpa para atos cruéis e inflexibilidade com castigos e punições.

Geralmente os psicopatas são do sexo masculino, mas também atingem as mulheres, em variados níveis, embora com características diferentes e menos especificas que a psicopatia que atinge os homens.

Histórico

Benedict Augustin Morel (1809-1873) chamou a atenção para o fator etiológico. Influenciado pelos trabalhos de Darwin, introduziu a idéia de herança degenerativa. Em 1857, Morel cria a categoria de “loucura dos degenerados”. Ele acreditava que agentes externos, como álcool e tóxico, podiam predispor um individuo para a degeneração e que o mesmo se podia dizer de um “mau temperamento”.

Benedict Augustin Morel.

Valentim Mognan (1835-1916) ampliou o conceito de degeneração, introduziu a idéia de desequilíbrio mental. Sua conceituação estava baseada numa concepção neurológica: haveria uma falta de coordenação harmoniosa entre diferentes centros nervosos. Certos aspectos do desequilíbrio da vontade são associados, ainda hoje, aos sintomas do psicopata.

Valentim Mognan

Kurt Schneider foi outro expoente da escola alemã que difundiu o termo personalidade psicoapática entendendo-o como um distúrbio da personalidade que não afeta nem a inteligência e nem a estrutura orgânica do indivíduo. Schneider define a personalidade psicopática como “aquelas personalidades anormais que sofrem por sua anormalidade ou, por ela, fazem sofrer a sociedade”, degenerescência.

Nesse mesmo sentido é que Eugen Kahn (1931) usa personalidade psicopatia para agrupar vários problemas e desordens da personalidade não classificados como doenças mentais e que teriam como condição precípua comum o desajustamento social.

Eugen Kahn

Outra grande tradição que influenciou o que hoje conhecemos por psicopatia é a anglo-saxônica. O psiquiatra inglês James Prichard (1786-1848) escreveu, em 1835, o termo intensidade moral (ou loucura moral) para a forma de alteração mental na qual o poder de autocontrole estava prejudicado.

James Prichard.

Terminologia e classificação

Uma vez que a conduta ante-social o elemento crucial descrição, fala-se em sociopatia e personalidade anti-social. O termo sociopatia pelos behavioristas, enfatizando o aspecto aprendido, através do meio, por reforçamento e punição. A psicopatia é denominada oficialmente na classificação francesa de distúrbios mentais como desequilíbrio mental.

A classificação da organização mundial de saúde (OMS) refere-se a distúrbio da personalidade, com predominância de manifestação sociopaticas ou associais.

Distúrbio de personalidade caracterizado pela inobservância das obrigações sociais, indiferença para com outrem, violência impulsiva ou fria insensibilidade. Há um grande desvio entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas. O comportamento é pouco modificável pela experiência, inclusive as sanções.

Em 1952, o DSM-I introduziu o termo distúrbio sociopático de personalidade, procurando diminuir a confusão terminológica e buscar uma uniformização. Não obstante, muitos continuaram a usar termos psicopatia e sociopatia como um subgrupo dentro de uma categoria mais ampla, que seria a psicopatia, especificamente aqueles que apresentam traços anti-sociais e agressivos.

O psicopata esta livre de sinais ou sintomas geralmente associados a psicoses, neuroses ou deficiência mental. Ele conhece as conseqüências de seu comportamento anti-social, mais ele dá a impresso de que tem muito pouco reconhecimento real de sentimento dos quais verbaliza tão racionalmente.

Ele é incapaz de se adaptar em suas relações sociais de forma satisfatória de uma maneira geral. O psicopata não é detido em suas ações pela punição; aliás, ele parece desejá-la. Sua conduta carece normalmente de uma motivação, ou se uma motivação pode ser inferida, ela é inadequada enquanto explicação para Atal comportamento. Ele sabe se expressar em termos de respostas afetivas esperadas, mas demonstra uma total falta de consideração e uma indiferença em relação aos outros.

Ele demonstra uma pobre capacidade de julgamento e uma incapacidade de aprender com a experiência, que por ser vista nas “mentiras patológicas”, crime repetitivo, delinqüências e outros atos anti-sociais.

Transtorno de personalidade anti-social

Características essenciais: padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros, que inicia na infância ou começo da adolescência na idade adulta. Sinônimos: psicopatia, sociopatia ou transtorno da personalidade dissocial.

Critérios diagnósticos:

Padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros que ocorre desde os 15 anos, como indicado por pelo menos 3 dos seguintes critérios:

• Fracassos em conformar-se ás normas sociais com relação a comportamentos legais, indicado pela execução repetida dos atos que constituem motivo de detenção.

• Propensão para enganar, indicada por mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens pessoais ou prazer.

• Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro.

• Irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou agressões físicas, por exemplo, espancamento de conjugue e filhos.

• Desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia, por exemplo, direção perigosa, comportamento de risco com sexo e drogas e negligência dos filhos.

• Irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou honrar obrigações financeiras.

• Ausência de remorso, indicado por indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado outra pessoa, por exemplo, “a vida é injusta”, “isto iria acontecer de qualquer modo”.

Quando há transtorno de conduta (antes dos 10 nos) associado a transtorno de déficit de atenção, há uma alta probabilidade de desenvolver o tratamento anti-social de personalidade.

É mais comum entre os homens. Há preocupação com subdiagnóstico pela ausência do item componentes agressivos nas mulheres, 3% em homens e 1% em mulheres na comunidade.

A psicopatologia do psicopata

O que interessa para nosso estudo é o chamado de criminosos em conseqüência de sentimentos de culpa. Segundo Freud, há indivíduos que, sob pressão de um sentimento de culpa inconsciente, buscam, por meio de um ato criminoso, o alivio e a justificação de tal culpa; portanto, a punição seria parte integrante do sintoma.

Os atos ilícitos relatam por seus pacientes em analise começaram a chamar a sua atenção quando eram cometidos por pacientes durante o tratamento e em idade muito posterior á puberdade. Por meio da analise destes casos, ele contatou a preexistência de um peno “sentimento de culpa” anterior a uma transgressão real.

Freud.

Da atuação neurótica á fuga da realidade

Os primeiros estudos psicanalíticos abordando o ato criminoso são também as primeiras atribuições da psicanálise para criminologia. O interesse se voltava principalmente sobre a gênese da “alma criminosa” e a busca intervenções e formas de prevenção.

O interesse de Aichhorn era investigar as características comuns que levam á delinqüência. Sua crença era que os fatores ambientais levaram á delinqüência somente quando houvesse um “estado latente de delinqüência”, ou seja, uma predisposição para reações anti-social já existente.

Ampliando a tese freudiana, definiu o caráter neurótico e o criminoso neurótico, que constituiria um subgrupo do caráter neurótico. Alexander teve um papel importante ao trazer suas contribuições dentro de um quadro de referencia psicanalíticas para os métodos legais existentes para lidar com infratores.

August Aichhorn.

Na categorização de Alexander, o psicopata estaria classificado como o criminoso nato ou normal, cuja participação do ego não sofre influencia de drogas ou distúrbios orgânicos, nem de sentimento de culpa inconsciente e nem de condições sociais ligadas ao desenvolvimento. Franz Alexander

Observa ainda algumas características especificas comparando esse tipo de paciente com o neurótico obsessivo. Em ambos os casos aparecem comportamentos repetitivos e não controláveis, porem no neurótico obsessivo os atos compulsivos são sentidos como “corpos estranhos”, enquanto a impulsividade do caráter impulsivo é uma característica de personalidade e raramente reconhecida como patológica. A pulsão, no caráter impulsivo, é geralmente mais difusa em relação ao objeto ao qual se liga ás situações em que isto ocorre, variando em tipo e intensidade, sendo completamente dependente das condições sociais.

Nesse sentido, Reich esta falando que existe um superego, porem malformado; no entanto, a impulsividade característica deste quadro é acompanhada por formações neuróticas.

Wilhelm Reich

A gênese da psicopatia em um ponto de fixação?

O assim chamado psicopata, ou certo grupo de psicopatas, tem seu ponto de fixação na fase protofálica. A complicação da neurose com a psicopatia ocorre em função de um segundo ponto de fixação na fase deuterofálica. O psicopata protofálico é um individuo cujo superego do indivíduo normal tanto quanto do indivíduo neurótico. A sua evolução é tardia, poupando o psicopata dos inevitáveis conflitos normais e neuróticos entre o id e o ego. Ele é impulsivo, controlado apenas pelo medo a agentes externos. Ele vê e compreende os perigos de fora, mas os perigos dentro de si e conflitos de consciência são coisa desconhecidas por ele.

O raciocínio de Wittels é o seguinte: uma vez que o psicopata não acerta contas com o seu Édipo na fase deuterofálica, o seu superego e os mecanismos de defesa não se desenvolvem apropriadamente. A não definição da sexualidade deixaria o psicopata com características que ora lembram o homem, ora a mulher, ou ainda com características que apresentam uma dupla polaridade.

É nesse sentido que se explica a dupla personalidade, quando o psicopata se representa hipossexualizado, ás vezes rude, outras vezes delicado, mau e bom, cínico e idealista e, até mesmo, estúpido e esperto. Isto por que os dois componentes da bissexualidade estão desintegrados coexistindo lado a lado.

Ele não aprendeu a se fixar e se limitar a apenas um sexo, porque ele nunca passou pela estreita passagem do medo da castração. Ele engana não só os homens como também as mulheres. Eles ignoram a sua natureza agressiva e destrutiva porque eles se sentem atraídos pela criança que existe nele.

Continuando nessa linha de raciocínio, a ausência característica de culpa seria explicada exatamente por esta estrutura bissexual na qual os conflitos da identidade sexual não são colocados. O aspecto sedutor e conflitante, como a característica que se sobressalta no tipo impostor de contar mentiras e assumir identidades, é reputado á estruturação especifica decorrente desde ponto de fixação. Mentirosos patológicos mentem como crianças que não se decidiram sobre seu sexo, eles são capazes de uma melhor empatia porque, em função de sua organização bissexual, eles se identificam melhor que as pessoas normais com pessoas de ambos os sexos.

Wittels vê aí a origem da capacidade do psicopata de transitar com tranqüilidade entre duas polaridades de sexualidades: justificando seu comportamento de roubar, facilitando o mentir, a capacidade de assumir identidades alheias e exercendo as polaridades da agressividade. Quando matam, eles matam umas das polaridades que protegem no mundo exterior.

A ausência de um sentimento de culpa pode não ser causada pela falta de superego. O superego destes pacientes, cujas ações associadas não eliciam neles nenhum sentimento de culpa, manifestava-se por meio da ansiedade dos seus objetos, embora essa ansiedade estivesse em parte projetada em objetos externos. Entretanto, é importante lembrar que a patologia do superego deve ser avaliada com base na ralação interna da pessoa com seu ambiente social, e não segundo definições convencionais ou legais do que é anti-social.

Fritz Wittels

Psicopatia e perversão: uma relação de inclusão?

O contorno clinico da perversão, enquanto categoria diagnóstica, é menos específico do que o da neurose o da psicose. Isso da margem a uma inclusão de vários quadros clínicos sob esta mesma rubrica que, no entanto, possuem especificidades próprias.

Otto Fenichel (1945) localiza o psicopata dentro da categoria geral das prevenções e neuroses impulsivas. Ele explica que, contrariamente aos impulsos compulsivos, o impulso em questão tem caráter instintivo, sentem-se da mesma forma que as pessoas normais sentem impulsos instintivos normais. Por causa desta diferença, os pervertidos e os neuróticos impulsivos não só absolutamente chamados, ás vezes, neuróticos, psicopatas.

Cumpre esclarecer, no entanto, que, á época de sua sistematização das neuroses, Fenichel considerava psicopatas aqueles cujos impulsos levavam a cleptomania e á adição a drogas. Quanto a adição a drogas ou toxicomania, é aceito que haja tal manifestação na condição psicopática. Isso não quer dizer que qualquer depende químico nos dias de hoje passa ser um psicopata e vice e versa.

Otto Fenichel

Kernberg dividiu as manifestações perversas, sob o ponto de vista psico-estrutural, em vários, em vários grupos. Discriminou, dentre eles, o distúrbio de personalidade anti-social dentro do qual entende estar a condição psicopatica na sua manifestação agressiva. Este autor reserva, no entanto, o termo estrutura perversa para os casos de organização bordeline de personalidade.

A proposta diagnóstica de Kernberg busca uma integração entre os quadros clínicos psicanalíticos e a sistematização proposta pelo Dsm. Já vimos que ele privilegia o aspecto superegóico e a qualidade das relações objetais para discriminar um quadro do outro. Em sua proposta, sugere um cuidado na compreensão dos comportamentos anti-sociais, uma vez que vários quadros clínicos podem apresentar esta característica sem que seja o caso de distúrbio de personalidade anti-social.

Para Kernberg, o psicopata propriamente dito esta na categoria de transtorno anti-social da personalidade, enquanto diferenciada da personalidade narcista, apresenta características anti-sociais, e dos pacientes com formas malignas de narcisismo, com o comportamento anti-social. A característica primordial, que também define a gravidade maior do quadro, é a incapacidade de sentir culpa remorso.

Otto Kernberg.

Jean Bergeret, psicanalista Francês, propõe uma sistematização dos quadros clínicos, enquadrando a psicopatia dentro das anestruturas e, dentro dela, como uma patologia do caráter,

Bergeret faz uma distinção entre os “perversos”, aquele que opera uma recusa do sexo da mulher por meio da elivagem do ego e os “perversos” de caráter (o nosso psicopata), que seriam os acometidos de perversidade. Para estes, o que seria característico é a recusa do direito dos outros de terem um narcisismo. Para tais sujeitos, os outros não devem possuir interesses próprios e, menos ainda, investimentos em outras direções, todo objeto relacional pode servir apenas para assegurar e complementar o narcisismo falho do perverso caráter. O objeto é mantido pelo sujeito em uma relação sodomasoquista muito estrita. Retomando a acepção de perversidade (crueldade, fereza).

Jean Bergeret.

Outro psicanalista Francês, que praticamente inverte a lógica exposta acima, explica as diversas respostas defensivas enquanto do tipo de psicose e psicopatia, partindo do mecanismo básico da perversão e da psicose. Christophe Dejours propõe a existência de uma terceira tópica constituída pela clivagem do ego, separando de um lado sistema pré-consciente e o inconsciente secundário e do outro lado, o consciente e o inconsciente primário. Dejours lembra que, segundo a tópica freudiana, tanto o pré- consciente quanto o consciente são separados dos sistemas inconscientes primários e secundários pela barra da censura.

No caso do psicopata, a área coberta pelo pré-consciente /consciente é pequena em comparação com a área inconsciente. Isso faz com que o aparelho psíquico tenha poucos recursos defensivos frente a estimulação proveniente da realidade. É preciso lembrar que o pré-consciente e o consciente são entendidos aqui como tendo uma função de proteção do aparelho psíquico de um montante de energia excessiva.

A fraqueza do aparelho psíquico do psicopata vem exatamente da “pobreza” do recurso defensivo que possui para se proteger da realidade, no sentido de uma ameaça traumática resultante de um momento de excitação além da capacidade do aparelho psíquico de suportar.

O não neurótico tem de assegurar uma estabilidade do aparelho psíquico com uma separação rígida entre o consciente e o inconsciente primário (censura), não contando com o apoio do sistema inconsciente secundaria e pré-consciente por ser esta área menor em função da posição da linha de clivagem do ego. Se o mecanismo da negação, não dá conta do montante de excitação, a única via possível de evacuação seria a descarga no exterior. O parelho psíquico, que, em termos psicológicos, corresponderiam a uma descompensação. O principal modo de descarga seria atuação violenta dirigida aos outros. A forma de manifestação desta atuação seria a destruição da fonte externa da excitação, nesse sentido, se o psicopata não consegue fugir ou destruir a causa lhe perturba, e ele enlouquece.

Chistophe Dejours.

Uma criança pode ser psicopata?

Não, se consideramos o critério do DSM-IV que deixa claro que o diagnostico de transtorno da personalidade anti-social só pode ser aplicado no indivíduo que tenha no mínimo de dezoito anos. Antes dessa idade, de acordo com certos comportamentos anti-sociais, a criança pode ser diagnosticada com transtorno de conduta.

O cuidado no uso do termo psicopata para crianças e adolescentes se justifica, tendo em vista a labilidade de tal diagnostico e o efeito estigmatizante que pode ter sobre o indivíduo. Isto é ainda mais forte em situações de confinamento em longo prazo em instituições totais.

Spitz enfatiza que certos “fatores emocionais específicos” se fazem presentes na etiologia da psicopatia: “os fatores emocionais estão relacionados com certas personalidades maternas especificas. Tal personalidade materna é a que torna a identificação impossível por seus afetos contraditórios e inconsistentes que mudam muito rapidamente. Se esta é a personalidade da mãe da criança, a criança desenvolvera a psicopatia mesmo que o lar não seja desfeito e nem existam longas separações materna. A psicopatia é um estado mental patológico caracterizado por desvios, principalmente, de caráter, que desencadeiam comportamentos anti-sociais. Esse desvio de caráter costuma ir se estruturando desde a infância. Por isso, na maioria das vezes, alguns dos seus sintomas podem ser observados nesta fase e/ou na adolescência, por meio de comportamentos agressivos que, durante estes períodos, são denominados de transtornos de conduta. A psicopatia é um transtorno que tende a se cronificar e causar prejuízos na vida do próprio indivíduo e de quem com ele convive e, até mesmo, na sociedade.

Por fazer parte dos transtornos de personalidade, a psicopatia só pode ser diagnosticada a partir dos dezoito anos de idade. É importante ressaltar que os transtornos de personalidade não são propriamente doenças, mas anormalidades do desenvolvimento psicológico que perturbam a integração psíquica de forma persistente e ocasionam no indivíduo padrões profundamente entranhados, inflexíveis e mal-ajustados, tanto em relação a seus relacionamentos, quanto à percepção do ambiente e de si mesmos. Após se concretizar, a psicopatia se torna um fator de risco: podem ocorrer atos infracionais, pois os indivíduos acometidos por este transtorno têm maior facilidade em utilizar charme, manipulação, mentira, violência e intimidação para controlar as pessoas e alcançar seus objetivos.

Existem outros transtornos, com características bastante semelhantes as da psicopatia, que também são conhecidos, tais como o transtorno de personalidade anti-social (TPAS) e a sociopatia. Embora compartilhem da maioria dos sintomas, a psicopatia apresenta, segundo Hare (1991), características que não estão presentes nos antissociais e sociopatas. Em contrapartida, a APA (2002) classifica o transtorno de personalidade anti-social como sendo igual à psicopatia e a sociopatia. Deste modo, o TPAS, a psicopatia e a sociopatia não são categorias distintas, mas sim categorias sobrepostas e complementares. Portanto, é possível inferir que todos os psicopatas devem ser considerados anti-sociais e sociopatas, mas destes nem todos podem ser considerados psicopatas.

As características que definem detalhadamente o perfil psicopata foram descritas por Cleckley (1988) em sua obra clássica The mask of sanity. Dentre estas, estão: charme superficial, boa inteligência, ausência de delírios e de outros sinais de pensamento irracional, ausência de nervosismo e de manifestações psiconeuróticas, falta de confiabilidade, deslealdade ou falta de sinceridade, falta de remorso ou pudor e tentativas de suicídio. Comportamento anti-social inadequadamente motivado, capacidades de julgamento fraco, incapacidade de aprender com a experiência, egocentrismo patológico, incapacidade de sentir amor ou afeição, vida sexual impessoal ou pobremente integrada e incapacidade de seguir algum plano de vida também fazem parte dessas características. E ainda: escassez de relações afetivas importantes, comportamento inconveniente ou extravagante após a ingestão de bebidas alcoólicas, ou mesmo sem o uso destas, e insensibilidade geral a relacionamentos.

A impulsividade, uma característica importante também presente nos psicopatas, é uma tendência a não inibição de comportamentos de risco, mal adaptados, mal planejados e que são precocemente executados. Ela pode ser hereditária, um traço da personalidade ou, até mesmo, pode ser adquirida por lesão no sistema nervoso central. Os comportamentos mais comuns, nestes casos, vão desde a incapacidade de planejar o futuro até a ocorrência de atos violentos ou agressivos.

Existem vários tipos de impulsividade e de comportamentos impulsivos, que podem ser classificados como não patológicos e patológicos. Exemplos de impulsividade não patológica podem ser encontrados em praticantes de esportes radicais. Essas pessoas, assim como os psicopatas, não se sentem desconfortáveis na presença de uma situação de risco e têm prazer em praticar atividades perigosas. No caso destes esportistas, porém, a baixa ansiedade é compensada por um espírito crítico e habilidades cognitivas.

Já os psicopatas, como possuem uma deficiência empática e são desprovidos de emoção, não conseguem perceber a emoção no outro, o que faz com que não ponderem sobre os efeitos de suas atitudes. São indivíduos frios, com afetividade pouco elaborada. Como os praticantes de esportes radicais, não se sentem ansiosos em situações de risco, mas a diferença é que suas atitudes podem prejudicar outras pessoas, além de não existir uma recompensa positiva em seus comportamentos. Se os seus interesses forem contra os da sociedade, poderão infringir leis e regras para obter o desejado, o que acaba associando fortemente tal transtorno ao sistema penitenciário e torna importante a precisa identificação do mesmo.

Embora estas características descrevam o perfil psicopata, nem sempre elas são suficientes para sua correta identificação no momento de um diagnóstico, pois os sintomas deste transtorno não são tão evidentes como no caso das psicoses, em que a pessoa se mostra claramente transtornada. Aparentemente, estes indivíduos têm um comportamento normal, demonstrando serem pessoas agradáveis e de bom convívio social, o que dificulta a sua identificação e facilita o acesso a suas vítimas. Os psicopatas são atores da vida real, pois tem o dom de fazer com que as pessoas acreditem neles e se sintam responsáveis por ajudá-los; por isso, ao se aproveitarem das fraquezas humanas, torna-se fácil para eles enganar outras pessoas. Por outro lado, em certos momentos, podem tomar atitudes extravagantes e em desacordo com as normas estabelecidas, o que permite que aqueles com quem convivam duvidem de sua sanidade mental, pois são as pessoas mais próximas que têm mais facilidade de perceber este tipo de alteração comportamental.

Outro fator que contribui para dificultar o diagnóstico dos transtornos de personalidade em geral, mas principalmente o da psicopatia, é o fato de existirem várias graduações dentro desta, fazendo com que nem todos os psicopatas apresentem níveis de agressividade e intensidade de comportamentos iguais. Dentre essas graduações, estão os que cometem pequenos delitos, mentem compulsivamente e ignoram regras, características que podem facilmente ser confundidas com as de criminosos comuns.

Existem também os que cometem os mais variados tipos de crime, tais como os serial killers (assassinos em série), considerados os psicopatas mais violentos que, neste caso, são identificados com maior facilidade. Além disso, ocorre também o desinteresse de muitos profissionais da área de saúde em relação ao transtorno: por entenderem que essa patologia é permanente, ou seja, não tem cura, acabam por desacreditar no atendimento especializado

Em 2002, Nadis, Steve e Omni realizaram pesquisas, sobre psicopatia, por aproximadamente 25 anos, em uma universidade britânica. Eles retrataram as reações emocionais de indivíduos considerados psicopatas e não psicopatas, enfocando suas diferenças. Assim, puderam observar que existem discrepâncias entre os dois tipos de mentes, verificando que os psicopatas parecem ser incapazes de possuir sentimentos em relação a outras pessoas e a eles mesmos. Para chegar a esta conclusão, os dois grupos foram submetidos a testes contendo os mesmos estímulos. Um dos testes executados foi à aplicação de choques de pequena intensidade nos dois grupos e a análise das reações de cada um. Desta forma, verificaram os autores que, antes da aplicação dos choques, os psicopatas não expressaram qualquer tipo de ansiedade, diferente dos não psicopatas, que se mostraram fortemente ansiosos por intermédio do suor nas mãos. Estímulos de outras espécies também foram aplicados como, por exemplo, a exposição aos dois grupos de fotos contendo cenas neutras e fotos contendo estímulos aversivos. Os psicopatas continuaram não apresentando nenhum tipo de sentimento; já o outro grupo se mostrou bastante incomodado ao ver as fotos com conteúdos mais fortes.

Até o presente momento, pouco se conhece sobre as causas da psicopatia. Existem evidências de que aspectos biológicos (fatores genéticos, hereditários e lesões cerebrais), psicológicos e sociais estão associados ao transtorno. Esses fatores biopsicossociais contribuem para a formação da nossa personalidade desde a infância e podem ou não exercer influência sobre o desenvolvimento de uma psicopatia na vida adulta.

Casos de psicopatas

Suzane Von Richtofen é outro caso de psicopatia que se livra de quem coloca obstáculo em sua vida. Ela foi declarada cúmplice do assassinato dos pais, Marisa e Manfred, cometido a golpes de barras de ferro em 2002. Ela foi sentenciada a 39 anos de prisão.

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