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Sofrimento Fisico

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Por:   •  2/4/2014  •  986 Palavras (4 Páginas)  •  376 Visualizações

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É inacreditável a resistência do ser humano ao sofrimento físico. Em mais de 30 anos de medicina (Dr. Drauzio Varella), vi doentes enfrentarem cirurgias mutiladoras seguidas de períodos pós-operatórios que exigem semanas de internação, submeterem-se a tratamentos agressivos com medicamentos que abrem feridas na boca e provocam vômitos incoercíveis, resistirem a dores lancinantes durante meses e, ainda assim, lutarem para preservar a vida até sentirem exaurido o último resquício de suas forças.

O heroísmo com o qual defendemos nossa existência quando ameaçada, no entanto, contrasta com a incapacidade de mudarmos estilos de vida que conduzirão a doenças gravíssimas no futuro. Não me refiro apenas a mudanças radicais como largar de beber, deixar de fumar ou de ter relações sexuais desprotegidas com múltiplos parceiros, mas especialmente aos comportamentos rotineiros: comer um pouco mais do que o necessário, passar o dia sentado, esquecer de tomar remédios e de fazer controles periódicos de saúde.

Nas grandes cidades, não faltam justificativas para nossa irresponsabilidade na prevenção dos problemas de saúde que afligem o homem moderno: doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, hipertensão, reumatismo, osteoporose e outras enfermidades degenerativas. “Saio cedo, perco horas no trânsito e volto tarde, morto de fome, como vou fazer para levar vida saudável?” – é a desculpa que damos a nós mesmos para justificar o descaso com um bem que a natureza nos ofertou sem termos feito qualquer esforço pessoal para merecê-lo: o corpo humano.

O corpo humano é uma máquina construída para o movimento. Não fosse assim, para que tantos ossos, músculos e articulações? Só que, ao contrário de outras máquinas desenhadas com a mesma finalidade -como o avião, por exemplo – que se desgastam enquanto se movimentam, o organismo humano se aprimora com o andar.

A falta de movimentação contraria as forças seletivas que forjaram as características de nossa espécie. Pessoas sedentárias como somos hoje teriam dificuldade de sobrevivência num mundo sem automóvel, telefone e supermercado na esquina. Antes do advento da agricultura – criada há meros dez mil anos -, nossos antepassados eram forçados a consumir quantidade substancial de energia para conseguir água e alimentos atualmente disponíveis ao alcance da mão. Quando tinham a felicidade de encontrá-los, precisavam retirar deles o máximo de calorias disponíveis para sobreviver às épocas de vacas magras que viriam em seguida.

Durante cinco milhões de anos, a sobrevivência de nossa espécie num mundo desprovido de tecnologia para estocar provisões exigiu um planejamento preciso da relação entre a energia investida na procura de comida e a recompensa calórica obtida ao encontrá-la. Forjado nesses tempos de penúria, nosso cérebro herdou o desprezo pelos alimentos pouco calóricos e a predileção obstinada pelos de alto conteúdo energético, como as carnes gordurosas e os açúcares que atormentam a vida do homem moderno em conflito permanente com a balança.

Somos descendentes de mulheres e homens que sobreviveram até a idade reprodutiva graças à capacidade de evitar perigos imediatos, proteger a prole, ingerir calorias em excesso para manter a integridade física em caso de jejum prolongado e descansar no intervalo das refeições para economizar energia. Na seleção natural, levaram vantagem os que souberam planejar a rotina diária de modo a chegar à vida adulta em condições físicas propícias ao acasalamento. Planejamento do futuro distante não exerceu pressão seletiva em nossa espécie. Para quem vivia no desconforto das cavernas, que vantagem reprodutiva haveria na preocupação em prevenir ataques cardíacos, derrames cerebrais ou câncer de próstata?

Como consequência desse passado, somos excelentes organizadores do dia-a-dia e tão incompetentes para planejar a longo prazo. Sabemos exatamente o que fazer para não passar

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