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Trabalho Em Max Weber

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Por:   •  11/10/2014  •  2.120 Palavras (9 Páginas)  •  407 Visualizações

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O conceito de trabalho em Max Weber

A Reforma Protestante muda radicalmente a visão sobre o trabalho conduzindo-o a um pleno reconhecimento. Será através da Reforma, que o trabalho assumirá verdadeiramente um status de importância e contribuirá decisivamente para uma outra subjetividade manifesta no trabalho. Quem melhor traduziu o impacto das reformas protestantes, na valorização religiosa do trabalho, foi Weber em A ética protestante e o espírito do capitalismo [1905]. A ascensão espetacular do trabalho como um valor, sem precedente na história da humanidade, é explicada pelo sociólogo a partir da Reforma, apesar do tema do trabalho não ser central em sua obra. A questão central é a origem do racionalismo ocidental manifesta no capitalismo, porém, a concepção de trabalho através da religião, oferece para Weber (1967) a chave da compreensão do surgimento do racionalismo ocidental.

Weber procura demonstrar que, desde o início da Reforma assiste-se ao nascimento de uma concepção espiritual do trabalho, bem como ao aparecimento de uma ética profissional, as quais constituíram um aspecto central do espírito do capitalismo, que favoreceu seu desenvolvimento no Ocidente (MÜLLER, 2005: 241).

Até então, em toda a sua história, o trabalho era considerado de maneira ambivalente. O trabalho era indispensável para a reprodução biológica e social da humanidade, mas era indesejável. Sobre ele pesava uma condição de castigo e anulação da individualidade das pessoas. Essa visão ambivalente do trabalho é encontrada na cultura judaico-cristã que, apesar de estar na origem de mudanças profundas no sentido do trabalho, ainda não o sublinha como possibilidade de manifestação de um lugar social, uma vez que valoriza o trabalho manual

na medida que serve a Deus (...) visto que todos devem trabalhar em nome e para a glória de Deus, eles são iguais enquanto cristãos e pessoas religiosas. (...) o trabalho se opõe ao ócio, ao repouso, ao descanso, ao sabbat (com Tomas de Aquino – o ficar sem fazer nada será apreciado, como tempo para vida contemplativa) (MÜLLER, 2005: 242).

Apenas em Lutero, a formula ora et labora sublinhará a possibilidade de superação da ambivalência do trabalho no mundo religioso. Na teologia de Lutero, a igualdade entre os dois modos de vida não é antagônica. Lutero teve uma influência decisiva na concepção do significado do trabalho, “quando traduziu para o alemão o Novo Testamento (1522), empregando a palavra beruf para trabalho, em lugar de arbeit. Beruf, acentua mais o aspecto da vocação do que o do trabalho propriamente dito” (COSTA, 1990), ou seja, descaracterizando a concepção pejorativa do trabalho como expiação. Porém, será em Calvino que o trabalho assumirá um caráter ainda mais radical de valorização, passando mesmo a se tornar um dever. Para Calvino, “o trabalho profissional deveria formar uma muralha contra a preguiça, todos devem trabalhar – quem não trabalha não deve comer e o trabalho é um dever” (MÜLLER, 2005: 243-244). A descoberta de Weber, da importância de Calvino, fez-se a partir da observação de que, na Alemanha, no começo do século XX, os capitalistas protestantes tinham sido melhor sucedidos em termos econômicos do que os seus correligionários católicos. Weber revela que Calvino demonstra um interesse maior do que Lutero pela vida econômica e social. Na concepção calvinista, “não somente a religião concernia a toda a vida – econômica, profissional, familiar –, mas tudo devia concorrer para a glória de Deus (...) e Calvino afirmará que ‘dentre todas as coisas deste mundo, o trabalhador é o mais semelhante a Deus’” (WILLAIME, 2005: 70). Na visão de Calvino, o trabalho é um sinal de graça. Ele abandona a idéia do trabalho como fonte de pecado original e mesmo como contemplação. Pelo contrário, o trabalho pode libertar o homem do sofrimento e se tornar agradável a Deus, na medida em que

o homem deve, para estar seguro de seu estado de graça, ‘trabalhar o dia todo em favor do que lhe foi destinado. Não é, pois, o ócio e o prazer, mas apenas a atividade que serve para aumentar a glória de Deus (...) É condenável a contemplação passiva, quando resultar em prejuízo para o trabalho cotidiano, pois ela é menos agradável a Deus do que a materialização de Sua vontade de trabalho (WEBER, 1967: 112)

Não trabalhar significa não prestar homenagem a Deus. Somente razões imperativas como a doença podem impedir alguém de trabalhar, mas optar por não trabalhar ou não fazer de tudo para encontrar um trabalho, é moralmente condenável. O ócio, assim como a preguiça, não são desejados por Deus e “o mais importante é que o trabalho constitui, antes de mais nada, a própria finalidade da vida” (WEBER, 1967: 113). Calvino considera ainda que o mal não está no dinheiro em si, mas no uso que se faz dele. Nessa ótica, o rico tem uma missão econômica providencial. Ele é “o ministro dos pobres”, os quais lhe dão a possibilidade de se liberar da servidão do dinheiro, testando sua fé e sua caridade. Segundo Weber, a doutrina do Calvinismo contribui para o desenvolvimento do capitalismo e para a importância do trabalho na medida em que, na sua teologia – a doutrina da predestinação –, Deus decidiu desde o princípio quem, entre os crentes, compartilharia a salvação e quem seria condenado e não restaria alternativa a não ser travar uma luta diária para fazer jus à possível escolha de ser um dos eleitos de Deus. Essa luta diária faz-se através de um enorme ativismo, alimentado por recomendações pastorais, afirmava Weber. De um lado, por manter-se como dever

de cada um considerar-se escolhido (...) A exortação é aqui interpretada como um dever de obter certeza da própria dedicação e justificação na luta diária pela vida (...). Por outro lado, a fim de alcançar aquela autoconfiança, uma intensa atividade profissional era recomendada como o meio mais adequado (WEBER, 1967: 77).

A incerteza da salvação pessoal deve ter gerado uma enorme angústia nos fiéis. Não se podia esperar ajuda alguma, nem de Deus, nem da Igreja, nem da comunidade religiosa, pois cada um encontrava-se na mesma situação e, além disso, os membros da comunidade eram concorrentes aos raros lugares salvadores no céu. Esse sistema fatalista, de individualização e incertezas, desencadeou “o trabalho encarniçado e o domínio do mundo” (MÜLLER, 2005: 246). A idéia subjacente é de que o trabalho é um meio de adquirir a independência e a confiança, e de fazer parte de ser um dos eleitos de Deus. O sucesso na vida terrestre, adquirido através do trabalho, não é certamente uma garantia de salvação, mas um sinal

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