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Transição Para A Idade Adulta

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Por:   •  30/9/2014  •  2.239 Palavras (9 Páginas)  •  1.003 Visualizações

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Transição para a idade adulta: Das condições sociais às implicações psicológicas

A passagem da fase da adolescência para a vida adulta é marcada por uma transição, e é através dessa transição que potencializa-se a identidade pessoal e social do individuo, fazendo com que os mesmos adquiram de fato o estatuto social de adulto.

Ao nos referirmos a esse estatuto estamos falando de uma posição social que deve ser alcançada por esse indivíduo, onde o mesmo desempenhará importantes papéis, como o papel profissional e familiar, caracterizando-se assim a passagem para a vida adulta.

Ser adulto portanto baseava-se em obter-se uma atividade profissional e na constituição de uma família, porém nos dias atuais essa transição ganhou um novo conceito, devido a uma mudança progressiva nos padrões culturais do país ampliaram-se as expectativas de realização profissional, dessa forma existe um prolongamento dos jovens em seus estudos uma vez que esses são incentivados a investir em sua formação acadêmica ingressando tardiamente no mercado de trabalho.

A inserção do jovem ao mercado de trabalho posterior ao término dos estudos está drasticamente abalada por consequência da instabilidade laboral, exemplo disso são as opções de formação que inicialmente não eram desejadas, ou até mesmo a aquisição de um emprego que fosse compatível com sua formação. Os jovens são afetados de um modo geral, principalmente aqueles que são licenciados, devido a sua formação acadêmica não obter resultado perante o mercado profissional, porém é cada vez maior o número de jovens que prosseguem em seus estudos universitário, uma vez que para eles sua formação representa mais do que uma vida profissional bem sucedida, refere-se também a uma realização pessoal.

Nos países do sul da Europa no qual Portugal se inscreve, tendem a apresentar percursos escolares extensos no qual os jovens ficam completamente afastados do mercado de trabalho, contribuindo dessa forma para o prolongamento do estatuto social de “não produtivo” que envolve fatores sociais e culturais. Esses estudantes em sua grande maioria buscam por instituições de educação que encontram-se perto da residência de seus pais, para que assim não tenham despesas e alto custo de vida, pois uma vez que tivessem, seriam obrigados a fazer parte do mercado de trabalho mesmo que temporariamente.

Já no que se refere ao contexto Norte-Americano, o numero de jovens que trabalham enquanto estudam é elevado, os estudos revelam que esses o fazem para obterem recursos econômicos a fim de usufruírem em atividades de lazer, é comum também entre esses jovens à procuram de atividades que ofereçam experiências pessoais como os voluntariados, e estágios que se aproximem da sua futura profissão.

Segundo Arnett (2000), as experiências profissionais em jovens adultos, tem por objetivo salientar a vocação profissional, embora como já fora relatado anteriormente, o trabalho é visto por esses não só como algo que lhes proporcionem autonomia econômica, mas também como um lugar de realização pessoal, sendo muitas vezes necessário a mudança de trabalho, até que esse se enquadre no mesmo.

Mediante a todo esse contexto social e cultural Norte-Americano e Europeu, a transição entre o sistema de ensino e o mercado de trabalho envolvem muitas incertezas, a família por sua vez incentiva os jovens a prosseguirem os estudos mantendo-os afastados do mercado de trabalho, onde os mesmo passam a coabitar com seus pais por períodos cada vez mais longos.

Tang (1997) realizou uma pesquisa, onde constatou que saída da casa dos pais está relacionada com a independência social do individuo, segundo ele os jovens que saíram mais cedo de casa, (por volta dos 17 anos), tiveram como fatores principais o recasamento, adoção ou a redução de apoio socioeconômico, já os que saíram na idade certa (18-24 anos), tiveram como fator predominante o cumprimento do serviço militar, a constituição da própria família e o fim do relacionamento dos pais, logo os que saíram mais tarde (25-30 anos) tiveram como fator principal a idade, que representa o principal desencadeador da saída.

Num estudo realizado sobre as diferenças culturais entre os países da Europa do Norte e os países da Europa do Sul, verifica-se que apesar do desemprego e do emprego precário, os jovens da Europa do Norte possuem independência residencial, enquanto os do sul da Europa moram com suas famílias. O estudo revela que o jovem mantem esse prolongamento na casa dos pais, pois prefere permanecer no conforto que a residência familiar lhe proporciona, abrindo mão de sua autonomia, uma vez que fora da casa dos pais seu padrão de vida seria de fato inferior, os pais por sua vez concordam em manter os filhos em sua residência até que os mesmo consigam atingir sua independência econômica.

Segundo Cavalli (1997) a dependência residencial dos jovens ocorre de forma racional, quando se trata de jovens da classe média, por exemplo, esses possuem um espaço próprio dentro da residência da família, muitas das vezes personalizados a seu gosto, onde recebem amigos e colegas sem qualquer tipo de objeção, sendo assim beneficiados com uma “semi-autonomia” sem que tenha que se preocupar com a responsabilidade socioeconômica.

Existe porém jovens que permanecem na casa de seus pais por mero comodismo, embora exerçam uma profissão que lhes permitam ser independentes, optam por continuarem a usufruir de todo o conforto na casa da família, sem que tenham que adquirir responsabilidades financeiras, uma vez que não as tendo, poderão utilizar seus recursos econômicos para o lazer, mantendo assim em alto nível seu padrão de vida. É em cima desse contexto que Cavalli afirma que a decisão de serem apoiados pelos pais é perfeitamente racional, visando o seu próprio bem-estar.

No contexto Norte-Americano, os jovens tendem a deixar a casa dos pais entre os 18 e 19 anos, adquirindo esse estatuto de semi-autonomia, ou seja, uma independência temporária que ocorre durante os estudos ou para viver uma relação afetiva. Os jovens que ingressam a faculdade na sua grande maioria dependem de bolsa de estudos e dos trabalhos em tempo parcial e contam com o apoio econômico da família, porém quando esses enfrentam desemprego, emprego precário ou até mesmo quando são mal sucedidos em seus relacionamentos afetivos, acabam retornando para a casa da família.

É importante ressaltar que o convívio residencial não implica exatamente em proximidade psicológica entre pais e filhos, pesquisas realizadas no contexto norte-americano revelam que adultos que possuem uma proximidade física elevada com os pais, ou até mesmo os que residem próximo a eles apresentam indicadores muito fracos de ajustamento psicológicos e de proximidade com os pais.

Essa transição da fase adulta é caracterizada pelo desenvolvimento de algumas competências pessoais como autonomia psicológica e a maturidade, sendo independentes de marcadores sociais como um papel profissional ou familiar.

O jovem hoje possui um novo olhar a respeito dessa fase de transição sobre o que é ser adulto, contendo seus aspectos negativos e positivos, tais como obrigações profissionais, familiares e a monotonia, conhecer novas pessoas, viajar, encontrar ocupações com condições de abandona-las assim que se tornarem aborrecidas ou quando aparecer algo mais interessante.

Um dos fatores determinante para a representação da vida adulta está associada a um emprego estável e a um aumento crescente do nível de vida, porém nos dia de hoje esse critério não é determinante para ser “adulto”. A parentalidade é um fator decisivo para ser considerado adulto, segundo alguns autores, os jovens independentemente da idade e gênero, afirmam que ser pai ou mãe requer uma responsabilidade muito grande com o outro e consigo mesmo, caracterizando assim a idade adulta. Os estudos mais recentes identificaram características pessoais como sendo prioritárias para ser considerado um adulto, entre elas as que mais se destacaram foram, ser responsável, ser capaz de tomar decisões e ser capaz de sustentar a si próprio financeiramente, assim como a percepção da autossuficiência do ponto de vista psicológico e instrumental(dependência econômica e social). Porém para o jovem ser adulto implica entrar em uma fase diferente da que se encontra.

Falar da adolescência implica reportarmo-nos a um período de mudanças tanto de aspectos físicos quanto psicológicos, uma fase na qual esses estão a frequentam sistema de ensino secundário e residem com os pais, do qual são dependentes do ponto de vista instrumental e afetivo. Na psicologia porém é cada vez mais frequente o termo “adolescência tardia”, que situa-se entre o final da adolescência e o inicio da idade adulta. Segundo Arnett (2000) é inadequado classificar jovens universitários com tal designação, pois esses se encontram em uma fase visivelmente distinta da adolescência, tanto no que se refere ao desenvolvimento físico, quanto ao desenvolvimento psicológico, onde esses possuem domínio sobre suas opções e decisões, tanto no aspecto afetivo como no domínio da educação e das escolhas profissionais, diferentemente dos supostos adolescentes que ainda estão em uma fase de exploração e formação de identidade.

Referência:

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RESUMO

Nas últimas décadas assistiu-se a um conjunto de

alterações sociais que exercem influência sobre os

modos como a transição para a idade adulta é

efectuada. Se por um lado se perspectiva um período

de transição cada vez mais extenso, por outro lado este

envolve um conjunto de características próprias,

adquirindo o estatuto de etapa desenvolvimental – a

adultez emergente. O presente artigo explora o modo

como as condições sociais se repercutem na transição

para a idade adulta, no contexto internacional e, em

particular, para o contexto Português. Pretende

também reflectir sobre o conceito de adultez

emergente do ponto de vista dos desafios e das

oportunidades que esta encerra para os jovens.

Palavras-chave: Adultez emergente, Desenvolvimento

psicológico, Transição para a idade adulta.

ABSTRACT

During the last decades major social changes have

introduced some special features into the transition to

adulthood. On one hand the transition to adulthood

tends to occur in later ages. On the other hand it

involves a set of particular specificities that allows it to

be considered as a developmental phase – emerging

adulthood. This paper explores how social constrains

act in the transition to adulthood, taking into account

the international and national context. It intends to

give a global overview about the challenges and

opportunities that emerging adulthood provides to

young adults.

Key-words: Emergent adulthood, Psychological

development, Transition to adulthood.

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