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A Arte Contemporânea como Possível Investimento

Por:   •  28/6/2017  •  Artigo  •  4.271 Palavras (18 Páginas)  •  304 Visualizações

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A Arte Contemporânea Como Possível Investimento

Júlia S. F. Santos

Resumo

O artigo investiga os fatores que influenciam a valorização de obras dentro do mercado secundário da arte e o comportamento que a arte adquire quando tratada como um veículo de investimento e não apenas como um bem de consumo. Voltando-se para a presença da Arte Contemporânea em leilões, busca também melhor compreender quais são as estratégias mais sensatas a serem utilizadas por artistas que desejam pertencer a esse mercado e o que faz deste um meio atrativo para os investidores.

Palavras-chave: arte contemporânea; mercado secundário; Basquiat; investimento.

O mercado de arte, marcado pela sua heterogenia, não pode ser tido como fonte de liquidez, mas, pela sua mobilidade de venda e revenda, pode conter um grande potencial de investimento, apesar de apresentar uma performance frequentemente inferior aos demais veículos de investimento, sendo eles tradicionais ou alternativos.

O que torna este um tópico de interessante debate é a ausência de um critério estabelecido de avaliação fixo para obras de arte, o que nos leva ao desejo de compreender melhor as flutuações de preços. Por esse ser um mercado que, graças à suas inúmeras possibilidades de comportamento, está constantemente se destoando das suas performances anteriores, torna quase tudo possível¹. Assim, é preciso falar sobre o que é capaz de intervir intensamente nessas questões, como por exemplo, o gosto dos consumidores e o porquê de estar tão ligado não só à estética do trabalho artístico, mas também ao que o nome desse artista representa nos mais diversos meios. Outro causador de curiosidade é o prestígio que se obtém através de historiadores da arte, críticos, curadores e outros agentes ativos desse círculo torna o nome do artista uma marca, sendo que ele fala do seu estilo de produção, na sua esfera visual, bem como do que o nome daquele artista agrega ao objeto a ideia de um bem de luxo.

Na produção contemporânea, os parâmetros que definem o custo e a magnitude financeira e simbólica da expressão artística tornam o valor derivado da marca do artista tão importante quanto ou até mesmo superior às qualidades intrínsecas à obra². Assim sendo, é necessário entender mais profundamente como a questão da reputação intervém no processo de tornar arte um investimento.  

O papel do fetiche na valorização da arte

Aludindo às questões singulares de obras de arte, algumas se dispõem um pouco mais relevantes que outras na precificação de um trabalho em particular. Destacam-se elementos como autenticidade, importância do artista naquilo que seria a história cânone da arte, a fase da carreira do artista da qual essa obra origina, além do assunto e da unicidade que essa carrega.  

Entretanto, há um aspecto que desperta uma curiosidade maior: a biografia do artista, ou melhor, a romantização que se dá em torno dela. “Os preços colossais no mercado de leilões hoje são dados para um pequeno número de nomes top sendo perseguido por um grupo de bilionários que são decididamente troféu de caça. E só querem certas obras: Picasso da época do caso do artista com Marie-Thérèse Walter, por exemplo, ou um Warhol Jackie.” (ADAM, 2014, tradução nossa). Ficam evidentes que casos amorosos, obsessões com algo ou alguém específico, comportamentos de rebeldia contra qualquer tipo de convenção ou até mesmo manifestações de loucura são paradigmas de interesse de compradores. Um exemplo evidente disso foi Van Gogh, que muitos acreditam ter cortado a própria orelha após um desentendimento, ou seja, apresentou vários indícios de distúrbios mentais e dessa forma se tornou o maior ícone da fantasia do artista incompreendido.

Podemos também pegar, para elucidar melhor a questão, a obra abaixo, de Basquiat, recém-vendida por 110,5 milhões de dólares em meados de maio desse ano pela Sotheby’s, que como Chirstie’s, é uma das maiores casas de leilão do mundo.

[pic 1]

Figura 1

Jean-Michel Basquiat

Sem título,1982

Tinta acrílica, tinta spray e pastel oleoso s/ tela

183 x 173cm (Fonte: SOTHEBY’S, 2017)

“Sem título”, 1982, veio a ser a sexta obra mais cara vendida através de um leilão. A tela apresenta a figura de uma caveira que aparenta ter sido pintada veloz e repetidamente, com adição ou subtração de certos detalhes, nas cores preto, branco, amarelo e vermelho, todas sobre um tom de azul. Seria possível que estas, de alguma forma, representassem todas as etnias humanas, uma vez que o objeto central da pintura é uma caveira, a qual o artista buscava afim de enfatizar a ideia da natureza efêmera da vida e da degeneração dos corpos.

Toda a produção de Basquiat que dizia respeito à Fine Art se deu nos primeiros sete anos da década de 1980, marcada violentamente pelo crescimento descontrolado da economia e da globalização e pelo início de implantações de governos neoliberais em diversos lugares, incluindo nos Estados Unidos, que também passava por tensões geradas em torno da Guerra Fria na mesma época³. Tamanha movimentação criou um novo ambiente muito mais dinâmico e acabou resultando no mundo artístico duas principais bifurcações, o neoconceitual e o neoexpressionismo, sendo a segunda à qual Basquiat pertencia.

O artista evidencia seu histórico de grafite, de meados dos anos 1970 até o início dos 1980, nas paredes e muros nova iorquinos, por toda a sua criação e é associada a uma modificação que, ao ser transferida das ruas para o ateliê, buscava se encaixar nas ideias pós-modernistas, que pode ser visto como crítico ou conivente de eixos manipuladores capitalistas.

Mesmo sem nenhum treinamento formal, Basquiat soube compreender como se dava o contexto no qual trabalhava e, graças ao seu quase que instantâneo sucesso, uniu-se e fez amizade com grandes nomes de diversas áreas artísticas, como Andy Warhol, Madonna e Cy Twombly, sendo este último aquele que se acredita que tenha sido a principal influência que levou Basquiat a abandonar as paredes e aderir às telas4. Esse ciclo social é mais um elemento fundamental na criação da marca do artista e no fazer romântico do mito do artista.

Outro ponto muito interessante é a presença de vários signos, números e letras, parcialmente visíveis em certas áreas da tela, cobertos apenas o suficiente para que dificultem a leitura dos mesmos. A intenção dessa ação vem do desejo de despertar o interesse do observador, uma vez que o fato de estarem escondidas gera a curiosidade de entender o porquê disso e o que significam. A presença desses elementos visuais foi referida, muitas vezes, como primitiva, o que levanta uma questão muito importante quanto ao fetiche, de cunho obviamente racista, do artista negro.

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