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Arte e Natureza: Viagem as Cachoeiras

Por:   •  26/8/2018  •  Artigo  •  1.117 Palavras (5 Páginas)  •  185 Visualizações

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Mailton dos Santos Jesus

Relatório: Arte e Natureza, viagem as cachoeiras.

Ainda consigo ouvir toda noite, antes de dormir, o barulho das águas que tocam as pedras quando caia de lá de cima da queda d’água, era um grito em silêncio, um pedido de cada  parte do meu corpo, em que cada molécula se fazia liquida no momento em que eu encostei o ouvido junto a pedra e senti a textura viçosa do limo e o lôdo verde que vestia quase todas as superfícies da cachoeira, foi impressionante observar a mudança drástica de cenário que ocorre no ambiente ao redor da cachoeira do Acaba Vida e a parte elevada que antecede a decida, a simbiose de duas vegetações que acentua extrema beleza em ambos os lados, cerrado e seus infinitos tons de marrom, mata atlântica e sua paleta diversificada de verde. A primeira sensação de chegar na primeira cachoeira foi o espanto, o arrebatamento de ver tanta água correndo de algum lugar e indo para outo rumo também desconhecido, não deixou espaço para outra atitude se não a contemplação. A parte de descida ao interior da cachoeira foi desafiadora, um momento de teste, onde meu corpo acessou áreas de medo e tensão que nunca tinha experimentado antes, era um caminho que eu chamo de a primeira artéria até chegar no coração da cachoeira.

Procurar lenha, tentar acender fogo e a tentativa de cozinhar em meio a mata, foi uma experiência no mínimo hilária, que após muitas tentativas e muito sinal de fumaça finalmente obtivemos fogo. Isso me fez pensar o quão desconfortável é a nossa relação com a natureza quando queremos desfrutar do que ela tem a oferecer sem esquecer do conforto e todos os aparatos tecnológicos que o mundo globalizado nos oferece, me refiro principalmente ao fato de ter levado tantas coisas na mochila que por fim nem usei e que só serviram para fazer mais peso.

Desde que os estudos em arte e natureza se fizeram presentes eu consegui treinar o meu olhar e analisar melhor exemplos de como se dá a interação dos nossos corpos com o espaço em que estamos nos relacionando, infelizmente foram constatações que me preocuparam e ao mesmo tempo me entristeceu, infelizmente a nossa expansão espacial não incute na preocupação integral de zelar pelos espaços verdes na maioria das vezes, nas cachoeiras as pessoas literalmente imprimiam suas marcas: nomes talhados nas pedras e nas árvores, lixos diversos espalhados por todos os cantos eram extremamente perceptíveis, ainda não amadurecemos o pensamento o suficiente para repensar outras formas de marcar os espaços e de levar algo desses ambientes descaracterizando a ação de literalmente retirar algo deles, foi difícil conter o impulso que é quase automático de fazer uma selfie e gritar aos quatro cantos onde você está, de olhar para tanta beleza e encontrar outra forma que não seja somente a de comportamento massivo e ressiguinificar seu comportamento para com aquele lugar, nenhuma das coisa materiais que eu trouxe desses espaços (folhas, sementes e galhos) nada consegue ser tão forte quanto as experiências sensoriais sentidas na pele.

O ápice do primeiro dia de viagem foi ter ousado estar embaixo da queda d’agua, os pés doloridos de pisar nas pedras irregulares, a atenção que pedia cada passo nas superfícies escorregadias e gelatinosas, o frio  e a percepção de mudança da temperatura que acontece embaixo da cascata, o som forte da água indo de encontro as pedras, a incrível pressão da água que me fez constatar o quão era real o ditado “água mole pedra dura , tanto bate até que fura”  eu fiquei embasbacado com a força dos pingos, e a dor que chegava a causar quando em contato com a pele e o mais interessante ainda: a vontade coletiva de querer gritar, com força de forma espontânea, o alívio e um mix de emoções que não se sabe o porquê, mas que afloraram naquele momento.

A caminhada do segundo dia em direção à Cachoeira do Redondo foi um momento incrível do ponto de vista que se concretizou tanto num teste físico, quanto na preparação para adentrar na cachoeira, caminhar 12 quilômetros numa superfície extremamente difícil de se mover foi a parte que mais exigiu condicionamento físico, caminhar tanto tempo em silêncio se tornou cada vez mais fácil, desde a primeira vez que o exercício foi proposto, mas a sentimentalidade desse momento tem um peso significativo. Momentos de grande resistência e desafio, me fizeram sentir mais conectados com o meu corpo e o meu pensamento e por conseguinte com o lugar e as pessoas ao redor, o som da água que corria do outro lado das enormes muralhas de buritis era uma das trilhas sonoras que compunha a caminhada e a trilha sonora ideal para as construções e devaneios mentais que rolavam durante o percurso.

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