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Dadaísmo e 1ª Guerra Mundial

Por:   •  6/12/2018  •  Artigo  •  1.598 Palavras (7 Páginas)  •  194 Visualizações

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Os criadores do movimento Dada acreditavam que as mazelas dos tempos de guerra (1914 - 1918, Primeira Guerra Mundial) eram frutos da racionalidade, da lógica, do aprisionamento em que o sistema havia condicionado as pessoas. Por quê?

O mundo nunca mais foi o mesmo depois da Revolução Industrial. Para além das mudanças na estrutura econômica e produtiva, a sociedade também mudava, e de modo cada vez mais acelerado. A arte, ao espelhar o modo de ser e de se inserir no mundo do homem, seguia passo a passo essa evolução. Mas a virada do século XIX para o XX presenciou uma situação de crise e caos generalizado, sob todos os aspectos, especialmente na Europa.

Até então, as pessoas mostravam-se entusiasmadas com o progresso advindo dos novos inventos mecânicos, que facilitavam a vida cotidiana e liberavam o tempo das pessoas para o lazer e atividades culturais as mais diversas. As cidades do Velho Continente fervilhavam, e Paris era sua síntese: era lá que se concentravam os artistas e pensadores da época, que se encontravam pela cidade iluminada e reformada por Haussman, com seus amplos boulevares substituindo os becos sujos e tortuosos. Desses encontros, grandes idéias surgiam, e davam origem a uma serie de movimentos artísticos, os “ismos” – fauvismo, cubismo, surrealismo ... Dentre eles, o que talvez melhor tenha traduzido a influência do avanço industrial foi o futurismo.

O futurismo foi um movimento político desde o seu início, onde o novo era abraçado com fervor em detrimento de todo o passado histórico e artístico. Um de seus principais pensadores, Marinetti, chegou mesmo a lançar um manifesto, em 1909  (o primeiro de uma serie deles, em várias tendências artísticas diferentes), onde propunha, literalmente,  a destruição dos museus e bibliotecas (!), e dizia preferir um automóvel moderno e ruidoso à Vitória de Samotrácia...  De tendência fascista, dizia que o brilhantismo e protagonismo da Itália estaria sendo bloqueado pelo peso das antigas tradições, como as artes romana e renascentista. Louvava-se o dinamismo, a velocidade, e glorificava-se a guerra, o militarismo, o patriotismo exacerbado; utilizando estratégias de publicidade, manipulava-se a mídia e o público, que se encantava pelas obras de linhas marcantes, cheias de movimento e de qualidade inegável como as esculturas e pinturas de Boccioni e Giacomo Balla.

Não se pode deixar de comentar aqui o que era a pauta de discussão em termos políticos e sociais na época, pois até mesmo essa havia sido influenciada pelo otimismo reinante, pela crença num futuro glorioso para a humanidade como um todo. Os diversos governos prometiam um enorme crescimento econômico, fruto das incríveis conquistas tecnológicas, e que teria um impacto positivo para todas as classes sociais. Os líderes mundiais prometiam estabilidade, baseada na cooperação política, na hierarquia e na ordem social; por outro lado, o Imperialismo crescia, e as disputas entre países se acirravam.

Também no campo da ciência e do pensamento os avanços eram notáveis e pareciam apontar para um futuro de grande progresso e brilhantismo para a humanidade. A criação das teorias psicanalíticas de Freud, que procuravam desvendar a natureza e o funcionamento da mente humana; a filosofia de Nietzche, que advogava o nascimento de um novo homem, livre das amarras religiosas e dos valores éticos vigentes; e as várias teorias de Marx, que destacando as mazelas da economia capitalista influenciaram vários movimentos políticos e estéticos no período, e mesmo em anos posteriores se traduziam em uma mudança de atitude diante da vida, e  junto com os novos avanços tecnológicos e de modos de fazer e ver a arte, numa atitude que propiciava a experimentação e a revolução. Muitas escolas de vanguarda traduziam essas questões humanitárias e sociológicas em suas obras, e técnicas como a colagem, a fotografia, o cinema e a charge eram rapidamente incorporadas pelos artistas das várias escolas, como linguagens originais e representativas dos novos tempos. O racional e atual eram cada vez mais privilegiados, em detrimento do romantismo ou da tentativa de retratar a realidade com as formas e suportes tradicionais de arte.

No meio de toda essa euforia, eclode a Primeira Guerra Mundial, um conflito diferente de todos os outros já vivenciados pelo continente europeu. Até então, as batalhas se davam basicamente em terra, com armas de curto alcance e combates homem-a-homem. A industrialização chega de maneira forte, fornecendo aos exércitos de ambos os lados um enorme sortimento de novas e modernas armas, verdadeiras máquinas de guerra. Com a ajuda de tanques, aviões e outros aparatos mecânicos, a indústria da guerra aumentou a letalidade das batalhas; o massacre nos campos de batalha era amplamente documentado, uma vez que as técnicas de  fotografia e cinema também se desenvolviam rapidamente; os mutilados se multiplicavam e, ao voltar a suas cidades de origem, traziam além da terrível visão um peso econômico a mais à já combalida economia dos países envolvidos. A idéia romântica de guerra, tal como retratada pelas artes em geral (literatura, pintura...), se dissiparia para sempre.

É neste contexto que se reúne em 1916, em Zurique, um grupo de artistas de várias nacionalidades, a maioria se auto-exilando de seus países de origem, em muitos casos fugindo da convocação para os campos de batalha. Liderados por Hugo Ball, denunciavam como engodo o discurso político vigente e o otimismo proclamado perante o futuro, enquanto seres humanos eram massacrados aos milhares na Guerra. Propunham um novo sistema baseado no acaso, na aleatoriedade, onde o individual fosse celebrado, em detrimento da suposta racionalidade defendida pelo Sistema. Esse acaso era aplicado desde a poesia, onde palavras recortadas e colocadas em um saco eram sorteadas e “montadas” como um poema, sem nenhum encadeamento lógico, até as artes plásticas, onde se propunha a execução de colagens com pedaços de papel colorido, lançados do alto de uma escada. Lançaram o seu manifesto, denominando o movimento de Dada, palavra simples e com significados distintos em várias línguas – de “cavalo de pau” ao simples balbucio de uma criança, o que ajudaria a traduzir o internacionalismo do movimento, bem como a falta de sentido que enxergavam em tudo o que acontecia no mundo. Afinal, porque racionalizar os eventos da vida se ela mesma era em si imprevisível? Porque tentar imaginar uma sociedade baseada na ordem, se a desordem reinava?  O teatro dadaísta, em especial, era provocativo, e buscava indignar e provocar reações, geralmente negativas, em sua plateia, acostumada a se defrontar com um espetáculo que seguia um script pré-definido, muitas vezes com final previsível ou já conhecido.

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