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Ensaio O Sentimento de Identificação

Por:   •  21/4/2021  •  Trabalho acadêmico  •  1.924 Palavras (8 Páginas)  •  180 Visualizações

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Há alguns anos atrás, procurando vídeos no youtube, acabei me deparando com um em específico que me chamou a atenção pela thumbnail e pelo título, a imagem mostrava uma menina sorridente, de cabelos azuis, parecidos com o meu, e o nome do vídeo era: “vai feia mesmo!”. Cliquei para assistir e fiquei hipnotizada com o discurso da moça, que agora eu sei que se chama Alexandra (do canal Alexandrismos), ela contou uma história e depois refletiu sobre como é importante não deixarmos de viver qualquer experiência que desejamos por nos sentirmos menos do que outros, é através dessas vivências que nós podemos construir nossa trajetória e descobrir nossas potencialidades. Acabei mergulhando nesse conteúdo e descobrindo que existia um movimento sobre aceitação corporal, sobre amor próprio, sobre ser livre para ser quem você é.

Fiquei encantada pelo assunto, não parei de ler e consumir conteúdos relacionados a ele desde então. Com o tempo, percebi uma questão que era bastante presente nas discussões que eu acompanhava, a representatividade; as pessoas falavam sobre como parte da aceitação própria vinha de ver pessoas parecidas com nós mesmos e também como era incomum, sendo minimamente fora do padrão estético, se ver representado na mídia. Partindo dessa reflexão e, tendo o espaço da disciplina do projeto sete, observei que essa seria uma lacuna que eu, de certa forma, poderia preencher; propus a confecção de um livro de fotografias, promovendo um lugar onde eu pudesse mostrar pessoas comuns e falar sobre suas experiências. Idealizei que essa publicação pudesse fazer o leitor criar empatia e se emocionar, se identificar, que ele se sentisse acolhido; o objetivo era instigar uma reflexão sobre os espaços que ocupamos, evidenciar a satisfação que é se ver representado e mostrar que ele não está sozinho.

Quando apresentei o projeto finalizado na aula, tive a chance de mostrar a publicação para algumas pessoas da sala e tentei observar as reações e opiniões que elas tinham sobre o livro. De uma maneira geral, as pessoas gostaram do livro e recebi muitos elogios, especialmente em relação às fotos; a publicação ficou bem grande também, com cerca de 10 cm de lombada, isso chamava a atenção, fazendo com que algumas pessoas viessem até mim voluntariamente para ver o livro. Percebi que, pela quantidade de imagens e por serem trechos espalhados dos relatos colhidos por mim, quem folheava o livro não se permitia muito tempo para absorver o que estava sendo passado; olhavam bastante as fotos e liam os relatos rapidamente, só percebi alguma reação mais forte quando o trecho lido era alguma memória muito dolorida.

Parte de mim ficou satisfeita com o retorno que recebi das pessoas, eu pude, em parte, satisfazer a necessidade de algumas pessoas de se sentirem representadas, de se sentirem dotadas de beleza. Entretanto, sinto que o livro instigou uma espécie de reflexão rasa, tornando mais difícil que as discussões apresentadas no livro tivessem um impacto profundo no leitor; os relatos quebrados em trechos foram ineficazes em promover uma conexão e, por isso, provavelmente foram esquecidos pelo usuário. Reavaliando o projeto, penso que ele poderia provocar o sentimento de identificação de forma mais eficiente, afinal é essa sensação que nos faz ter mais afinidade com determinados produtos, histórias e pessoas. Ou seja, suscitar essa emoção faz o leitor dar mais valor a mensagem que está sendo passada e, assim, a influência causada pelo livro é mais significativa. Sendo assim, me questiono, o que poderia ter sido feito diferente para que esse objetivo fosse melhor alcançado? Como gerar identificação do usuário com o conteúdo?

Com essa pergunta em mente, busquei informações que pudessem me orientar no sentido de o que deve ser observado quando um usuário interage com algo e, por sugestão de um professor, encontrei a apresentação de Heidi Boisvert, designer e pesquisadora, sobre uma nova tecnologia que ela está desenvolvendo, o Limbic Lab. A iniciativa tem o objetivo de ser uma ferramenta com a capacidade para mapear o “DNA midiático” específico de cada pessoa, identificando que elementos fazem o indivíduo se engajar mais a um conteúdo.

Para isso Heidi programou sua “máquina” para reconhecer e analisar respostas inconscientes que nós damos quando interagimos com algum conteúdo, como ondas cerebrais, freqüência cardíaca, fluxo sanguíneo, temperatura corporal e contração muscular, além de rastreamento ocular e expressões faciais. Com todas essas informações sincronizadas, é possível que a máquina auxilie criadores de conteúdo a conceberem suas produções de acordo com as preferências do seu público-alvo, criando uma experiência personalizada.

A importância de fazer conteúdos individualizados reside no fato de que nós buscamos tudo aquilo que se pareça conosco, ou que se aproxime da forma como enxergamos o mundo. É possível perceber isso na matéria “8 formas de criar identificação com o protagonista da sua história”,  do escritor Diego Schutt. Ele diz que: “Fundamentalmente, você precisa fazer com que o leitor reconheça no protagonista sua própria humanidade. Isso significa que ele conseguiu identificar no personagem um ou mais pontos que façam ele pensar ‘Esse personagem merece minha empatia porque eu reconheço nele algo sobre mim’”. Ele fala sobre personagens mas esse conceito pode ser aplicado a qualquer conteúdo, querendo dizer que, para que o usuário se engaje a algo é preciso criar empatia pelo assunto, e esse sentimento é criado quando o indivíduo é capaz de se identificar, em algum grau, com a mensagem que está sendo passada. Schutt diz também que, para decidirmos se ou o quanto vamos nos envolver com algo, nós usamos a empatia cognitiva e a empatia emocional; a primeira é “capacidade de entender o que outra pessoa está vivendo a partir da perspectiva e do contexto de vida dela” e a segunda é “a capacidade de sentir as emoções de outra pessoa como se fossem nossas”.

Partindo desses conceitos, procurei por projetos que tivessem uma essência parecida com o meu, buscando compreender que elementos imagéticos, textuais e gráficos foram utilizados para provocar essa sensação. O primeiro que encontrei foi uma matéria feita pela BBC chamada “Why we’re proud of our fat bodies”, onde a fotógrafa Alice Zoo expõe seu trabalho sobre ativismo gordo e positivismo corporal. Ela fez um ensaio com seis mulheres e pediu para que cada uma falasse um pouco sobre a sua experiência com o tema, ela organizou cada relato com um grupo de fotos da pessoa, permitindo que você se conecte com cada uma das mulheres individualmente, além de dar liberdade a elas para compartilharem o quanto quisessem; as fotos não foram feitas em um estúdio, ou pelo menos não parecem ter sido, o que agrega uma certa personalidade às imagens, aumentando as possibilidades de uma possível identificação do leitor.

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