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Entrevista com Manuela Penafria

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Por:   •  15/5/2013  •  Seminário  •  1.792 Palavras (8 Páginas)  •  352 Visualizações

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54 Manuela Penafria

A. C – Não. Eu gostaria, na realidade, de me dedicar apenas a filmes do

género de ‘Almadraba Atuneira’ ou de ‘Vilarinho das Furnas’. Por exemplo:

se eu for a um mercado e vir as peixeiras ou os homens a descarregarem

batatas, não os vejo sob o prisma de os ‘transformar’ e fazer com eles um

filme de ficção; o que me interessaria seria agarrar na máquina e seguir um

dos homens, saber onde ia ele comer, se tinha mulher, filhos, onde vivia...

enfim, para ele me contar as suas dificuldades, etc. É este o tipo de cinema

que me atrai.

V.M. - Portanto, para si o mais importante, agora, é o puro cinema

documental, o cinema documental ‘vivido’, ou seja, um tipo de cinema

que só é possível fazer vivendo intensamente aquilo que se filma, no local

das filmagens, convivendo longamente com as pessoas, etc.

A. C. - Exactamente. É isso o que me interessa. De resto, mesmo para

o meu primeiro filme (‘O Tesouro’), que era um filme de ficção, fui conviver

dias e dias com a personagem principal do filme (uma mulher paupérrima

que vivia numa aldeia perto de Leiria), conversando com ela, porque queria

de facto compreender a sua mentalidade, as suas reacções. Era ali que eu

passava o tempo sempre que não estava a filmar.

V.M. – V. conhece os filmes de Jean Rouch?

A. C. - Não. Apenas conheço a sua obra através da leitura de críticas, dos

argumentos, etc.

V.M. – Isso é muito importante, porque poderia dizer-se: ‘V. limitou-

se a retomar o exemplo do Rouch’... O que não aconteceu, porém, visto

V. nunca ter visto o cinema de Rouch. E o que é também bastante im-

portante é que, ao contrário de partir de qualquer ideia preconcebida de

cinema, V. fala, antes de tudo, como participante dos acontecimentos.

A.C. – O Manuel de Oliveira, quando há dias viu ‘Vilarinho das Furnas’,

referiu-se precisamente a isso. Ele disse-me: ‘ V. fez um filme que eu não

faria; V. ‘despiu-se’ da sua arte para fazer um filme totalmente imparcial,

sem quase nada de seu...’. E só nessa altura é que tomei consciência de que

o que ele dizia era a verdade. Quando filmo faço-o pelo meu instinto, pela

minha ideia, enfim. E a minha ideia era fazer um filme como se eu fosse de

Vilarinho..., Só tenho pena que o filme não cheirasse a terra...

V.M. - V. como autodidacta que é aprende de filme para filme: creio

que o próximo filme que pensa fazer, sobre Rio de Onor, será bastante

diferente de ‘Almadraba Atuneira’ e de ‘Vilarinho das Furnas’.

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O Paradigma do Documentário ...

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A. C. - Sim. A ideia é, pelo menos, completamente diferente.

V.M. – Até agora, V. não tem utilizado equipa: V. é o realizador, o

operador; o técnico de som, o moldador, ‘Rio de Onor’ será feito nos

mesmos moldes?

A. C – Não poderá ser feito de outra maneira. Bem vê: são filmes moro-

sos; vou para lá viver (como sempre). O dinheiro que me dão é muito redu-

zido, é um dinheiro – limite..., e isto é lamentável: eu gosto de fazer certas

coisas, e se se constata que, com outros meios, eu, poderia fazer essas mes-

mas coisas de uma forma melhor... não sei. . . deveria haver algum mecenas

que financiasse esses filmes. Mas não: é preciso quase, mendigar. Para fa-

zer ‘Vilarinho das Furnas’ fui sozinho para lá, num país de não sei quantos

milhões de habitantes.... E depois do filme feito não houve ninguém que me

tivesse perguntado: ‘Mas quanto é que V. gastou? De quanto é que V. precisa

para pagar o filme?’. Não, não há ninguém. Não houve ninguém para dar o

dinheiro suficiente de modo que eu, ou outra pessoa qualquer, pudesse fazer

um filme sobre Vilarinho das Furnas.

V.M. – V. empenhou-se até ao pescoço...

A. C. – Venho empenhado quase desde que nasci – desde que comprei a

minha primeira máquina.

V.M. – V. nunca pensou passar para 35mm?

A.C.- Pensei. Simplesmente 80 contos a multiplicar por 4 são 320 con-

tos...

V.M. - V. nunca agiu em termos de exibição comercial? Dado que não

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