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Um Espelho Sensível e Honesto da Vida: O realismo na arte

Por:   •  19/7/2025  •  Trabalho acadêmico  •  2.064 Palavras (9 Páginas)  •  23 Visualizações

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Carlos Daniel Mafra | DRE: 119018370

Um espelho sensível e honesta da vida: A Jornada do Realismo na Arte

Professora: Ana Aparecida Disciplina: Design e Gênese A

Rio de Janeiro

Um espelho sensível e honesta da vida: A Jornada do Realismo na Arte

Ao longo de sua história, a arte sempre refletiu seu tempo, revelando os desejos, conflitos e valores das sociedades. Suas formas de expressão oscilam entre o ideal e o real, influenciadas por contextos culturais, filosóficos e políticos. Neste trabalho, vamos percorrer esse caminho, desde a idealização presente no Classicismo e no Romantismo até a virada de chave que levou ao surgimento do Realismo. Um movimento que buscou uma arte mais direta, interessada em retratar o cotidiano como ele é, sem embelezamentos ou adornos.

Como exemplo de influência do Realismo em mídias contemporâneas, analisaremos o filme Túmulo dos Vagalumes (1988), de Isao Takahata, uma animação japonesa que retrata de forma crua e comovente as duras consequências da guerra, a partir da visão camponesa de duas crianças.

O Realismo como espelho da realidade

Ao longo do século XIX, a Europa passou por intensas transformações sociais, políticas e econômicas. O avanço da Revolução Industrial, o crescimento das cidades, a ascensão da burguesia e o fortalecimento do pensamento científico provocaram mudanças profundas na forma como as pessoas enxergavam o mundo. Nesse contexto, nasce o Realismo, movimento artístico que rompe com a idealização característica do Romantismo e propõe uma nova maneira de representar a realidade: mais direta, crua e comprometida com os fatos da vida cotidiana. Os realistas rejeitavam os temas históricos, mitológicos e religiosos em favor de uma arte que olhasse para o presente, para o comum, para aquilo que antes era considerado banal ou indigno de ser retratado.

Um dos grandes nomes desse movimento foi o pintor francês Gustave Courbet, pioneiro ao afirmar que a arte deve se basear na observação direta do mundo. Para Courbet, não havia hierarquia entre os temas: o trabalhador rural, o camponês, o homem comum tinham tanto valor quanto os heróis da tradição clássica. Seu trabalho inaugurou uma nova estética, em que a verdade social e a fisicalidade do cotidiano se tornavam dignas de representação artística.

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Figura 1 – Gustave Courbet, As Peneiradoras de Trigo, c. 1854.

Na pintura As Peneiradoras de Trigo (c. 1854), vemos três mulheres engajadas no árduo trabalho de peneirar trigo. Não há heroísmo ou teatralidade em seus gestos: há cansaço, concentração e esforço. A cena é doméstica, simples, mas tratada com a mesma seriedade compositiva e pictórica que se daria a um grande evento histórico. Courbet não suaviza os traços nem romantiza a pobreza: ele pinta o que vê, com cores terrosas, volumes sólidos e um olhar quase documental.

Essa escolha de tema — o trabalho braçal — era, à época, considerada banal e até inadequada para a "alta arte". Courbet desafia essa visão ao nos obrigar a olhar para aquelas mulheres não como tipos genéricos, mas como pessoas reais, com histórias, fadigas e dignidade. Sua pincelada densa e direta reforça a fisicalidade da cena, revelando não apenas a ação, mas o peso da existência.

Assim, As Peneiradoras de Trigo não é apenas uma pintura de mulheres trabalhando, é um reflexo da vida como ela é. Courbet, ao colocar o povo no centro da tela, redefine os limites do que é digno de ser visto, e, com isso, transforma para sempre o papel da pintura na sociedade moderna.

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Figura 2 – Gustave Courbet, Bonjour Monsieur Courbet, c. 1854.

Uma das obras mais emblemáticas de Courbet, Bonjour Monsieur Courbet (1854), também conhecida como O Passeio, condensa muitos dos valores e contradições do artista. Nessa pintura, Courbet se auto retrata como um andarilho, sendo recebido por seu patrono Alfred Bruyas e seu criado em uma estrada rural. A composição, embora simples em aparência, traz elementos simbólicos e críticas sutis ao papel do artista na sociedade.

Ao representar-se com roupas humildes, mochila nas costas, cajado em mãos e postura firme, Courbet assume deliberadamente a imagem de um homem do povo — um viajante, quase um errante — em contraste com a figura burguesa e bem vestida de Bruyas. O próprio pintor posiciona-se no centro da cena, mas de forma despretensiosa, e ainda assim, é a figura que se destaca. Sua postura orgulhosa, o olhar direto e a posição elevada na estrada sugerem autonomia e resistência frente à elite representada por Bruyas e seu criado.

A presença do cão, o olhar introspectivo das figuras e o cenário com horizonte amplo compõem uma cena onde os detalhes são meticulosamente trabalhados. A precisão das sombras projetadas no solo e sobre os personagens revela a intenção do artista de ir além da mera representação realista. O enquadramento da cena, por exemplo, deixa parte de uma árvore fora do campo visível, desafiando a expectativa de simetria e empurrando o olhar do observador para além da tela.

Apesar da sofisticação técnica, a recepção da obra foi controversa. Críticos da época reduziram a discussão à aparência do próprio artista, que se colocou em posição mais humilde do que o criado de seu patrono — uma afronta à hierarquia social vigente. Ainda assim, Courbet manteve firme sua postura crítica e seu desejo de provocar o público. A obra revela não apenas sua busca por uma arte engajada socialmente, mas também os dilemas que o acompanhavam: embora defendesse ideais anti-burgueses, dependia financeiramente de figuras como Bruyas, cuja família era símbolo da elite que Courbet rejeitava.

Assim, Bonjour Monsieur Courbet não é apenas um retrato ou um registro de encontro, mas uma alegoria da posição do artista em meio às tensões entre independência criativa e sobrevivência no mercado. Ao se auto representar como um homem comum, Courbet reafirma seu compromisso com a arte realista e com a crítica social, sem abrir mão de sua dignidade nem de sua visão de mundo.

A literatura especializada indica que Gustave Courbet pode ser considerado um dos precursores da arte moderna, não apenas por sua técnica de pintura instintiva, mas também por seu estilo de vida, que refletia diretamente em sua produção artística. Autodenominado autodidata, Courbet, embora conhecesse os fundamentos da perspectiva geométrica e do desenho acadêmico, não frequentou escolas de arte. Em vez disso, formou-se por meio da convivência com mestres locais de sua cidade natal e pela intensa visita ao Museu do Louvre, além de experiências em ateliês na Suíça e na França (FERRUA, 2003, p. 30-49).

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