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A Necropolítica da Pandemia

Por:   •  20/9/2021  •  Artigo  •  2.502 Palavras (11 Páginas)  •  70 Visualizações

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A pandemia necropolítica.

 Necropolítica é um termo cunhado por Achille Mbembe, de forma simplista  o termo significa  o poder de escolher quem deve viver e quem se ‘’deixa’’ morrer.A carne matável é aquela que está em constante ameaça devido a raça.

O autor explica que o vocábulo, tem a proposta de mostrar as diversas estruturas presentes no mundo contemporâneo com o objetivo de eliminar alguns grupos.Tais estruturas, são as formas que  determinadas populações estão sujeitas, sobrevivendo em um ‘’mundo de morte’’ como ‘’mortos-vivos’’.(Mbembe,2016) E o Estado, que deveria assegurar a todos igualdade, e proteção em todas as esferas, por ser aquele que detém o monopólio coercitivo,acaba criando por discursos e ações, zonas de morte.

O grupo que é deixado para morte, normalmente não é visto com bons olhos dentro das sociedades. A maioria dos países tem suas minorias e sempre são alvos de preconceito como os Africanos que tentam entrar na europa, principalmente pela Grécia, Itália e França.As castas na Índia, os coptas no Egito, os curdos no Curdistão, Palestinos, Judeus, etc…. A lista é imensa!

Mbembe explica que apesar de haver preconceito em todo mundo, existe um aspecto diferente em países que foram colonizados, segundo o autor a ocupação colonial foi uma afirmação do controle físico e geográfico, a territorialização e a inscrição de fronteiras e hierarquias construindo uma ideia de separação e assim surgindo uma classificação de pessoas resultando em imaginários culturais. Essa ocupação que para o autor é chamada de soberania criou uma terceira zona dentro do território colonizado,entre a categoria do sujeito  e objeto.(Mbembe,2016).

 Desta maneira naturalizamos que existem categorias de pessoas e naturalizamos que alguns morrem mas outros não, naturalizamos que a violência contra alguns é normal. Podemos notar isso ao entrar em portais de notícias. Os portais mais acessados pelos brasileiros são o Globo.com e Uol[1], ambos trazem um esmagador números de notícias sobre violência na periferia na subseção cotidiano, demonstrando que a violência é cotidiana e normalizada.

No arco da pandemia causada pelo coronavírus, os líderes de alguns países  tiveram que tomar posições quanto a proteção da população, independente da segunda onda que agora atinge a quase todos, a atitude para o enfrentamento na França, Alemanha, Argentina, Austrália,  Nova Zelândia, Paraguai ,Israel, Coreia do Sul,Itália,Senegal, Gana,Paquistão  e outros foi louvável mostrando que a tomada de uma posição pelo líder da nação persuade a população. Na contramão a essa atitude estão países como Brasil, E.U.A, Bielo-Rússia, Turcomenistão,Nicarágua, além de outros que ignoram o perigo do vírus.

No caso brasileiro, até a feitura deste trabalho, o Brasil contava com aproximadamente 152 mil mortos[2]. Até a marca de 100 mil mortos,por volta da primeira quinzena do mês, as atitudes do presidente brasileiro Jair Bolsonaro quanto ao assunto pandêmia causaram alvoroço em toda população mundial. No início, Messias rotulou a doença de ‘’gripezinha’’, fez grande oposição contra as medidas de isolamento social e demitiu dois ministros da saúde, que foram contra a sua falta de empenho nas medidas para contar o vírus.Em Junho o Ministério da Saúde retirou de seu portal os dados de mortes acumuladas[3], mantendo só o número de mortes diárias, além de dizer que já tinha achado o remédio para o tratamento a hidroxicloroquina. De Março a Maio participou de protestos contra o Governo e o supremo e provocou aglomerações por onde passou ao entrar em estabelecimentos comerciais, estando diversas vezes sem máscara, e questionou o número de notificações de mortes incitando a população a invadir os hospitais de campanha para ver o verdadeiro número de doentes, afirmando que a alta notificação era culpa da imprensa que queria enfraquecer seu governo[4].

A atitude de Jair frente à emergência sanitária fez com que cada estado pusesse em vigor medidas próprias. Essa descoordenação fez com que a crise tivesse uma duração prolongada, causando uma convulsão social muito maior e os questionamentos sobre a eficácia das medidas adotadas pelos governadores fossem muito mais questionadas e com assertividade menor, como por exemplo o estado do Maranhão que fechou muito cedo, e flexibilizou no pico de casos [5]no Brasil. Outro exemplo fruto do desgaste tanto das ações quanto dos discursos do líder Federal foi o Estado de São Paulo que tinha o apoio de grande parte da população no começo, mas devido a grande pressão e a chegada das eleições municipais e o lobby de empresários contra o lockdown[6] em meio ao número altíssimo de casos teve que mudar o discurso dentro do mesmo mês, e iniciar a flexibilização gradual, mesmo com UTIs no limite e casos de infecções altos.

 Em março de 2020  ao entrar em em rede nacional para se pronunciar sobre  a pandemia[7] o presidente afirmou que era contra a proibição, de alguns governadores e prefeitos, do uso de transporte e o fechamento de comércios,fronteiras,escolas e outros serviços públicos, sempre apelando para a volta da normalidade e o baixo índice de mortalidade em pessoas que não são portadoras de doenças preexistentes ou menos que 60 anos. Para ele o importante é a preservação dos empregos e sustento das famílias, ou seja, que a economia continue rodando.Nas redes o planalto publicou propagandas com os dizeres ‘’O Brasil não pode parar’’.No período de calamidade pública as reuniões foram muito poucas com a área de saúde e nunca anunciou nenhum projeto sobre como o isolamento que propunha deveria ser feito[8]. O chefe do Planalto também assinou decretos que determinavam quais eram os serviços essenciais, nos três primeiros decretos publicados em 20 de Março[9], 28 de Abril[10],e 11 de Maio[11].

Posto isto, este pequeno excerto tem o objetivo de analisar como o discurso do governo federal afetou o comportamento da população durante um espaço de tempo na pandemia, e como o discurso necropolítico se travestiu de lema para o salvamento da economia, e como  condenou ,novamente, os mais pobres em nome do progresso.

A Pandemia no Brasil foi marcada por diversos fatores impossíveis de serem reproduzidos aqui, mas uns dos fatos que ficaram marcados, positivamente ou negativamente, foram as atitudes do presidente. Seja tomando parte contra instituições de seu próprio governo, causando aglomerações na cidade de Brasília ou o fato de não usar máscara numa época de emergência sanitária, por um vírus que é propagado principalmente pelas vias aéreas. Além disso tomou posição ativa contra o isolamento de alguns estados, dentre eles o de São Paulo, e fez lives contra tais medidas. Segundo o portal G1 e um estudo em desenvolvimento, encabeçado pela Fundação Getúlio Vargas chamado, Ideologia, isolamento e morte: uma análise dos efeitos do bolsonarismo na pandemia de Covid-19, confirmaram que a cada pronunciamento, independente da plataforma , os números dos isolados eram afetados.

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